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O som dos saltos batendo contra o asfalto, era o único barulho que ecoava pelas ruas vazias de Shibuya. Algo que aos olhos mundanos poderia soar extremamente estranho, já que aquele era o ponto de encontro de diversas cidades do Japão, sendo literalmente o centro que nunca adormecia, onde as luzes dos outdoors piscavam em diversas cores, que deixavam a noite mais clara do que ela realmente deveria ser.

Mas aquela não era uma noite comum. Talvez nunca mais fosse, depois da última chacina que ocorrera naquele local alguns meses atrás.

As coisas realmente estavam um caos.

A fumaça escapou dos lábios cobertos pelo batom roxo da garota. Poderia ser decorrente do frio insistente que fazia naquela época do ano, que chegava a fazer seus ossos doerem com a brisa gelada que atingia sua face. Ela retirou o cigarro da boca e parou de frente para a antiga estação metrô, local esse que não havia movimento algum. As linhas deixaram de circular depois daquela fatídica noite. Em frente a escadaria, assim como ao redor das enormes paredes e muros que constituíam aquele famoso distrito, havia apenas cartazes com fotos dos falecidos, flores e lembrancinhas espalhados por todo o chão, provavelmente bagunçados pela chuva e o vento do inverno que havia acabado de se iniciar.

Levou o cigarro até a boca mais uma vez, dando uma última tragada, antes de jogar a bituca no chão e pisar com a ponta de seu salto, afastando as cinzas e evitando de começar um incêndio no local. A última coisa que ela queria era ter de chamar atenção. Ainda mais ali, com um local cercado por diversas maldições. Era tanta energia negativa, deixada não só pelas pessoas que morreram, mas seus entes queridos que visitavam o local constantemente pela manhã, que os monstros circulavam ao redor dela, como se aquilo fosse um shopping center.

Chegava a lhe causar arrepios, ainda mais que muitas delas eram de grau um, mas se misturavam em meio as de nível quatro, impedindo que a feiticeira de classe especial as identificasse com facilidade.

Ela realmente não estava afim de perder tempo com maldições de baixo nível. Não eram tão ameaçadoras assim. E também não estavam sendo responsáveis pelas últimas mortes registradas naquele metrô abandonado.

Enquanto descia as escadas de acesso ao subsolo, Karyn pegou o jornal dobrado em um dos bolsos de seu sobretudo escuro. A manchete em destaque, era o mistério sobre corpos recentes sendo encontrados no metrô que estava desativado desde a noite em que milhares de pessoas morreram misteriosamente. As autoridades japonesas que ainda estavam tentando descobrir o que havia acontecido no dia 31 de outubro, agora estavam desesperadas com a possibilidade do incidente se repetir, mesmo que Shibuya tivesse sido isolada e a passagem de pedestres proibida durante a noite. Sendo possível visitação apenas pelas manhãs, já que uma escolta policial costumava rondar todo o perímetro para evitar aglomerações.

Ah se eles soubessem. — Ela pensou consigo mesma enquanto enfiava o jornal novamente no bolso.

Passou pela catraca de acesso às plataformas e andou mais alguns passos, antes de parar na beirada de apoio, se inclinando para frente apenas para observar os trilhos do metrô. Virou a cabeça pro lado e há poucos metros havia um dos maquinários desativados.

Ela conseguia sentir a enorme quantidade de energia negativa que parecia vir do veículo. E não estava nem um pouco surpresa. Depois de saber que os últimos corpos encontrados ali dentro eram de jovens, geralmente constituídos por uma garota e um garoto, não era difícil imaginar que eles estavam usando o lugar para encontros românticos e eram assassinados pela maldição de nível um que havia se desenvolvido ali.

A rosada também começou a se questionar. Qual era o fetiche por locais abandonados? Será que aqueles jovens não tinham respeito pelas vítimas que morreram meses atrás? Parecia uma grande falta de respeito você escolher o local de uma chacina para fazer sexo. E muito nojento também.

Love Killer - Yuta OkkotsuOnde histórias criam vida. Descubra agora