You&Me

Caminhos distantes

Los Angeles - California

Mia Medelyn

- Olha, Scott mandou um foto! - Deluca e eu estávamos sentados na praia de Santa Mônica tomando um sorvete, enquanto conversávamos sobre o dia de trabalho cansativo que os dois tiveram - Tô com tanta saudade.

- Eles estão em Paris né? - Ele pergunta colocando o sorvete nos lábios e eu concordo com a cabeça - Legal. Agora você vai morar sozinha?

- Acho que vou, né? - Sorrio pensando no apartamento gigante desnecessário - Mathew passou o ap pro meu nome e vai morar com Scott na casa dele. Agora sou só eu e eu.

Esquecer e perdoar. É isso que dizem por aí. É um bom conselho, mas não muito prático. Quando alguém nos machuca, queremos machucá-los de volta. Quando alguém erra conosco, queremos estar certos. Sem perdão, antigos placares nunca empatam, velhas feridas nunca fecham. E o máximo que podemos esperar é que um dia tenhamos a sorte de esquecer.

E na verdade, eu acredito que nós nunca esquecemos quando alguém que amamos nos machuca.

Superar? Talvez.
Mas esquecer? Não.

E agora que Mathew saiu de casa e eu vou morar sozinha, tudo ficaria mais complicado.

Não poderia deixar esse tipo de pensamento  se aplacar na minha casa ou acabaria doente.

Não teria meu amigo pra me aconselhar, fazer noite de sorvete ou até mesmo pra me azucrinar de manhã.

Coisas que deveriam me fazer odiar ele, me fizeram o amar e deixar saudade

Claro, não é como se tivesse morrido, são poucas casas longe da minha. Mas mesmo assim, no começo, vai ser como se um pedacinho de mim estivesse faltando

E apesar de tudo isso, eu me sinto feliz por eles. Muito feliz.

- Eu tô livre toda quinta, o que acha de dia da pizza? - Deluca brinca batendo seu ombro no meu

- Isso não é má ideia, na verdade.

- Então, combinado professora.

Observo o mar na minha frente e minha audição foca no barulho das ondas quebrando

Mar era assustador pra mim, mas tão maravilhoso ao mesmo tempo. Era mágico. Era romântico. Era terapêutico.

Conseguia ouvir risadas de criança de longe que brincavam com seus pais ou cachorros. Adolescentes ouvindo alguma música que estava na moda e uma galera jogando vôlei do outro lado

A vida passava pelos meus olhos e eu só conseguia pensar aonde foi que eu parei.

Onde eu me perdi e deixei tanta coisa passar?

Eu, com 26 anos, sem plano nenhum pro futuro. Sem pensar em casamento, filhos, uma casa com cerca branca e um monte de cachorro no quintal

Ou então eu poderia estar num iate com algum velho bem rico, com problemas no coração e sem filhos pra herdar a herança.

Esquece.

- Meu livro foi pra editora ontem, vão lançar daqui a um mês! - Comento despretensiosa e Deluca deixa o sorvete cair, me olhando feliz em seguida - Porque deixou o sorvete cair?

- Porque eu tô feliz! É sério? - Ele me abraça, pela sua força os dois caem no chão sobre a areia quentinha da praia - Meu Deus Mia, isso é ótimo!

Transpor fronteiras, tanto as territoriais quanto as mentais, sem esquecer das metas. Cansei de me reter ao mesmo perímetro, viver constantemente limitada. Eu preciso do mundo, de um mundo de opções.