Flora
Eu já saí do banho arrumada e com uma toalha enrolada na cabeça. Passei um pouco de hidratante nos meus braços e coloquei a perna apoiada na cadeira de balanço enquanto me concentrava em espalhar o creme. Assim como previ, Oliver ficou sentado e comportado no mesmo lugar.
Partimos para jantar na sua casa pouco tempo depois e fiquei conversando com o Alisson até altas horas da noite, ele me contou histórias divertidas, falou sobre coisas de quando era criança e me mostrou um álbum de fotografia com imagens de todos os seus irmãos juntos. Era tanto menino que tive dificuldade de saber quem era quem e decorei nome só dos cinco mais velhos.
Alisson foi embora dois dias depois e eu e o Oliver seguimos na mesma rotina; café da tarde, bom dia de manhã, um oi debaixo do pé de pereiro, assistir filmes e doramas, conversar por mensagem sentados em frente a minha casa até que isso se tornou algo corriqueiro do dia a dia e bem aos pouquinhos ele foi se soltando com as palavras e sendo mais confiante em me oferecer algo, ou mantar conversar mais longas por ligação.
— Não vai vir me ver? Depois que eu comecei a ensinar à tarde também, a gente mal tempo de passar um tempo conversando. — Deixei o celular preso na curva do pescoço e continuei mexendo a massa no fogo enquanto esperava ela dar o ponto. — Hoje é sábado. O que quer fazer?
— O de sempre?
— Porque não vamos ao riacho? Aqui tem um curso de água que nunca seca, não é?
— Tem muita mutuca, espinhos, eu não costumo ir lá e a trilha tá toda interditada.
— Oliver, o pessoal falou que tem estrada para lá. Está tentando me dar uma desculpa? — Desliguei o fogo da panela e joguei a bola de massa na pedra já enfarinhada do balcão. Provei no sal e fui me sentar um pouco enquanto esperava o negócio esfriar para eu fazer bolinhos de carne com queijo.
— Droga.
— Não precisa me dar uma desculpa, é só dizer que não gosta. Vou comprar uma daquelas piscininhas de plástico para mim, eu sempre dava um jeito de nadar em algum lugar quando eu morava na minha antiga cidade, sou pior do que peixe para gostar de água.
— Eu tenho um brasilit de quinhentos litros.
Eu olhei para a parede e tentei entender se ele estava só comentando ou me convidando para uma banho de caixa d'água.
— Não tenho água o suficiente. — Olhei para as minhas unhas curtas, já esperando ele me dar a resposta que eu queria ouvir.
— Eu coloco ele aqui debaixo do apendre, de frente para o jardim e ligo a mangueira dentro.
— Oliver... Você me mima demais. Já estou virando um encosto, tudo você dá um jeitinho de dar as coisas.
— Um banho? Você sempre me chama para sair e eu não vou, tento te compensar a minha maneira. Vai querer?
— Só vou terminar de fazer o lanche e vou praí. Deixa tudo pronto.
— Tá.
— Beijo e desligo. — Encerrei a chamada com pressa e fui fazer a fritura com sangue nos olhos, já imaginando me refrescar na água fria e poder compartilhar uma banheira improvisada junto com ele. Com a cabeça lá nas nuvens, imaginando o gostoso do Oliver só de bermudinha dentro da água me fez queimar o pulso com óleo quente.
Fiquei pulando igual canguru dentro da cozinha e corri para o banheiro para passar shampoo na listra onde o óleo quente escorreu e deixou marcado. Meu amor que tava lá nas alturas despencou de uma vez e se estatelou no chão. Senti vontade de jogar a concha no chão, porém isso não faria a dor passar.
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O Lar Das Pequenas Criaturas.
RomanceIsso não é uma fantasia infanto juvenil. Apesar de Flora ser professora do ensino fundamental do interior de uma cidadezinha na Paraíba. Após se mudar para trabalhar na vaga de emprego que conseguiu, ela passou a habitar uma pequena casinha alugada...