Flora
Se um dia as pessoas soubessem a importância que era cultivar um jardim em casa, suas vidas seriam infinitamente mais coloridas e leves. Minha mãe costumava dizer que as plantas podiam absorver o rancor e as inveja de quem resolvia fazer o mal, sua principal função, além de trazer beleza, era de purificar o ambiente e trazer proteção.
Meu vizinho deveria sofrer muito comigo então, tadinho. Todos os dias eu ficava observando como a sua grama era mais verde. Beeeeeem mais verde. Sempre tinha água escorrendo pelo tronco, a grama era bem aparada, a barba... Que dizer, os arbustos bem podados, a simetria perfeita dos galhos, as flores de lírio desabrochando na pele.... No vaso! Era no vaso de cerâmica, nada de pele.
Era um jardim excepcionalmente lindo e eu tive o privilégio de sempre ver tudo pela cerca de arame farpado que dívida a sua e a minha casa. Como eu havia me mudado para a zona rural no interior da Paraíba a pouco tempo, eu ainda não havia me habituado ainda a vida na roça e no fato de que esse sítio possuia casas bem afastadas uma das outras. A única pessoa mais próxima de mim era esse desconhecido que eu fiz questão de manter o mínimo de contato por pura cautela.
Ele tinha cachorros muito grandes no quintal dos fundos, cavalos, pavões, papagaios domesticados, gatos e até tatú de estimação. Dava para ver claramente a diferença gritante entre a sua casa de alpendre bem arrumada e colorida, para a minha casinha alugada só com um quarto, um banheiro minúsculo e uma sala com cozinha americana, era menor do que as casas de projeto do governo, mas foi a única moradia que tinha mais próxima do colégio que eu iria lecionar.
Como de costume, abri a janela do meu quarto e coloquei a caneca sobre o batente, indo escovar os dentes enquanto tentava arrancar as remelas dos meus olhos.
Apesar de usar mosquiteiro e ventilador a noite toda, eu ainda estava com o braço todo picado das muriçocas me chuparem a noite todinha, se fosse o gostoso do meu vizinho eu acharia mil vezes melhor e daria outras coisas mais interessantes para ele provar. Minha boca, por exemplo.Eu congelei de repente e fiquei envergonhada quando o vi levantar mais cedo do que o costume, geralmente eu só via a sua silhueta quando eu já estava quase saindo para ir ao colégio. Eu olhei para ele, passei as mãos na minha moita armada e na minha camisola velha com o meus peitos meio caídos bem a vontade, quando ele olhou de volta, me encarando e observando que eu estava com a escova na boca.
Oh bosta... Por que justo numa hora dessas?
Ele fungou e desviou o olhar, depois foi ligar a torneira perto do alpendre da casa e e girou os níveis do bico da mangueira para a água sair em jatos finos. A essa hora da manhã ele já tava sem camisa e usando aquela calça moletom cinza que deixava a sua bunda tão gostosa de ver. Quando não era a cinza toda lisa, era a ciano com listras, a branca com preto, a preta com vermelho, e ia seguindo esse parâmetro de calças que realsava a sua silhueta bem definida.
Só fazia uma semana e meia que eu estava morando na casinha, e nesse meio tempo eu não tinha conseguido me organizar ainda, tudo que as pessoas faziam eram perguntar sobre a minha vida na cidade grande, como eram as de onde vinha, como o interesse das pessoas era maior em mim eu não tive oportunidade de perguntar pelo meu vizinho.
Bem, eu teria que esperar pela fofoca dos outros, mas era melhor ter primeira impressão dele mais positiva, não custava nada eu ir da minha porteira a sua e fazer uma vista, conhecer melhor o lugar, conversar com alguém do sexo diferente, mais...
Er, enfim, tudo isso começava com um bom dia.
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O Lar Das Pequenas Criaturas.
RomantizmIsso não é uma fantasia infanto juvenil. Apesar de Flora ser professora do ensino fundamental do interior de uma cidadezinha na Paraíba. Após se mudar para trabalhar na vaga de emprego que conseguiu, ela passou a habitar uma pequena casinha alugada...