Flora
Enquanto a família enorme do Oliver tava na casa deles, o meu namorado dormiu comigo no meu quartinho apertado pela primeira vez e teria sido melhor se eu não tivesse passando a noite toda bolando de uma lado para outro com dor de cabeça e no ouvido.
Eu juntei dinheiro dos meus salários e comprei uma cama porque minhas costas mereciam um pouco de descanso, mas nem o colchão novo estava dando conta da inquietação no meu corpo.O doutorzinho Alisson disse que isso era um dos efeitos colaterais do pólen das fadas e que a duração variava de pessoa para pessoa, mas graças a ele que usou o seu sopro mágico de cura pela vigésima vez, eu consegui dormir o resto da madrugada sem qualquer outro tormento.
Fiquei com um pouco de dó do Oliver, ele parecia preocupado e se sentia culpado por tudo que tinha acontecido comigo. Mas pelo que entendi, aparentemente eu realmente tinha entrado sozinha no portal e surpreendido todo mundo do lado externo e do lado interno porque ninguém sentiu qualquer oscilação, e para piorar eu tinha deixado o portal do Oliver inativo.
Aí eu fui explicar o que tinha acontecido, sobre o sonho, sobre as fadas e esse vestido que não saia do meu corpo nem com reza de velho, sobre as coisas que eu vi lá no Vale dos Lírios e da conversa que eu tive com a Lilian, comentei tudo com ele, fiz perguntas, principalmente porque tinha uma fada com chapéu de cogumelo me encarando fixamente o tempo todo e ele tava me dando um pouco de medo.
— Eu nunca tinha visto esse tipo de magia. — Disse o Irv voando ao redor de mim como uma muriçoca irritante. — Me conte mais sobre o sonho.
— Ela já contou a mesma coisa um milhão de vezes, sossega o facho. — Oliver resmungou um tanto razinza. O coitado tava tão estressado que eu nunca tinha visto esse vinco entre as suas sobrancelhas.
— Eu já disse, o negócio começou a brilhar, aí eu toquei, aí ficou em mim, aí depois eu acordei e quando pisquei já tava lá. — Respondi a fadinha direitamente, realmente cansada de falar a mesma cosia.
— Você é segunda pessoa em séculos que consegue se comunicar com a gente. — Ele abriu um sorriso bonito e pousou no topo da minha cabeça. — Eu sabia que você era especial, vamos ser amigos.
O Irv se agarrou em mim quando o Oliver o pegou pelas asas e colocou de castigo sobre a cama. Já o meu namorado voltou a atenção para o que estava fazendo com empenho e ameçou a fadinha de cortar sua reserva de doces caso ficasse me tocando sem necessidade. Eu ri.
— Como você está? A comida não tá com um gosto estranho? — Ele me deu mais uma colerada da sopa de arroz e limpou o canto da minha boca como se eu fosse uma criancinha. Era um café da manhã bem reforçado, e por mais que eu não estivesse com as mãos quebradas, tão pouco incapacitada de comer sozinha, o Oliver insistiu em me ajudar porque estava se sentindo mal e sinceramente, eu preferia que ele me amasse desse jeito ao invés de ficar resmungando pelos cantos.
— Tá gostoso. Já não sinto mais nada. Eu não achei que você ia convocar o seu exército de irmãos por causa disso.
— Você sumiu. — Explicou o óbvio.
— É, mas você sabia onde eu estava e...
— Flora, eu não tinha como ter acesso a você. Se alguma coisa ruim tivesse acontecido, eu nunca me perdoaria por isso. Desde que a gente... Hum... Namorou pela primeira vez o meu portal andava estranho. Eu deveria ter sido mais cuidadoso.
Uau... Que frase longa.
— De toda forma, eu gostei de ficar por lá, foi bem legal, aprendi um monte de coisa e sei mais ou menos o que tá acontecendo. Só estou chateada porque você tava me escondendo isso o tempo todo. — Eu achei que conhecia o Oliver, mas ele tinha escondido até a sua verdadeira aparência de mim, obviamente ele não tinha como me mostrar, mas eu não conseguia deixar de me sentir enganada. — Não necessariamente te culpo, é só que...
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O Lar Das Pequenas Criaturas.
RomantizmIsso não é uma fantasia infanto juvenil. Apesar de Flora ser professora do ensino fundamental do interior de uma cidadezinha na Paraíba. Após se mudar para trabalhar na vaga de emprego que conseguiu, ela passou a habitar uma pequena casinha alugada...