🌌🍄 Palavras Tem Poder 🍄🌌

356 87 46
                                    

Flora

Enquanto a família enorme do Oliver tava na casa deles, o meu namorado dormiu comigo no meu quartinho apertado pela primeira vez e teria sido melhor se eu não tivesse passando a noite toda bolando de uma lado para outro com dor de cabeça e no ouvido.
Eu juntei dinheiro dos meus salários e comprei uma cama porque minhas costas mereciam um pouco de descanso, mas nem o colchão novo estava dando conta da inquietação no meu corpo.

O doutorzinho Alisson disse que isso era um dos efeitos colaterais do pólen das fadas e que a duração variava de pessoa para pessoa, mas graças a ele que usou o seu sopro mágico de cura pela vigésima vez, eu consegui dormir o resto da madrugada sem qualquer outro tormento.

Fiquei com um pouco de dó do Oliver, ele parecia preocupado e se sentia culpado por tudo que tinha acontecido comigo. Mas pelo que entendi, aparentemente eu realmente tinha entrado sozinha no portal e surpreendido todo mundo do lado externo e do lado interno porque ninguém sentiu qualquer oscilação, e para piorar eu tinha deixado o portal do Oliver inativo.

Aí eu fui explicar o que tinha acontecido, sobre o sonho, sobre as fadas e esse vestido que não saia do meu corpo nem com reza de velho, sobre as coisas que eu vi lá no Vale dos Lírios e da conversa que eu tive com a Lilian, comentei tudo com ele, fiz perguntas, principalmente porque tinha uma fada com chapéu de cogumelo me encarando fixamente o tempo todo e ele tava me dando um pouco de medo.

— Eu nunca tinha visto esse tipo de magia. — Disse o Irv voando ao redor de mim como uma muriçoca irritante. — Me conte mais sobre o sonho.

— Ela já contou a mesma coisa um milhão de vezes, sossega o facho. — Oliver resmungou um tanto razinza. O coitado tava tão estressado que eu nunca tinha visto esse vinco entre as suas sobrancelhas.

— Eu já disse, o negócio começou a brilhar, aí eu toquei, aí ficou em mim, aí depois eu acordei e quando pisquei já tava lá. — Respondi a fadinha direitamente, realmente cansada de falar a mesma cosia.

— Você é segunda pessoa em séculos que consegue se comunicar com a gente. — Ele abriu um sorriso bonito e pousou no topo da minha cabeça. — Eu sabia que você era especial, vamos ser amigos.

O Irv se agarrou em mim quando o Oliver o pegou pelas asas e colocou de castigo sobre a cama. Já o meu namorado voltou a atenção para o que estava fazendo com empenho e ameçou a fadinha de cortar sua reserva de doces caso ficasse me tocando sem necessidade. Eu ri.

— Como você está? A comida não tá com um gosto estranho? — Ele me deu mais uma colerada da sopa de arroz e limpou o canto da minha boca como se eu fosse uma criancinha. Era um café da manhã bem reforçado, e por mais que eu não estivesse com as mãos quebradas, tão pouco incapacitada de comer sozinha, o Oliver insistiu em me ajudar porque estava se sentindo mal e sinceramente, eu preferia que ele me amasse desse jeito ao invés de ficar resmungando pelos cantos.

— Tá gostoso. Já não sinto mais nada. Eu não achei que você ia convocar o seu exército de irmãos por causa disso.

— Você sumiu. — Explicou o óbvio.

— É, mas você sabia onde eu estava e...

— Flora, eu não tinha como ter acesso a você. Se alguma coisa ruim tivesse acontecido, eu nunca me perdoaria por isso. Desde que a gente... Hum...  Namorou pela primeira vez o meu portal andava estranho. Eu deveria ter sido mais cuidadoso.

Uau... Que frase longa.

— De toda forma, eu gostei de ficar por lá, foi bem legal, aprendi um monte de coisa e sei mais ou menos o que tá acontecendo. Só estou chateada porque você tava me escondendo isso o tempo todo. — Eu achei que conhecia o Oliver, mas ele tinha escondido até a sua verdadeira aparência de mim, obviamente ele não tinha como me mostrar, mas eu não conseguia deixar de me sentir enganada. — Não necessariamente te culpo, é só que...

O Lar Das Pequenas Criaturas.Onde histórias criam vida. Descubra agora