Mischievous Desire

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Porque o diabo está nos meus calcanhares, me escondeu nas sombras gritando e alguém me libertou,

Oh irmão, você não vai me levar agora, porque há uma escuridão que eu vejo. (...).

Estou pronto, estou carregando minha alma.

Me leve agora, venha me levar agora.

Take Me Now – Cut One & Wolfgang Black

Nicoletta

Eu devia ter confiado nos meus instintos, eles sempre estão certos. Talvez eu não devesse ter ignorado aquela pequena pontada na boca do estômago quando acordei ou o vento forte mudando de direção quando saí do carro antes de entrar no Sette Desideri.

Tudo indicava uma única coisa: algo estava prestes a mudar.

Mas eu fui ingênua. Estava tão imersa naquele mundo fantasioso maravilhoso, com meus melhores amigos por perto, um marido até que cuidadoso e pessoas que eu podia chamar de família.

– Ele está estacionando. Já entra – comunico a Lorenzo, assim que o mesmo parece na minha frente.

O sorriso dele também me indicava despreocupação. Claro, as coisas estavam indo muito bem para ele também. Dava para ver na forma como seus olhos brilhavam ao escutar falar sobre Frederico que ele estava vivendo o seu melhor momento.

Continuei entrando no salão, acenando para alguns dançarinos do local que eu já tive o prazer de conversar das outras vezes que ali estive. Mint piscou para mim enquanto Ji e Cookie pareciam discutir sobre algum passo de dança.

Embora eu quisesse parar para conversar com eles, havia uma pessoa em específico que eu estava atrás.

Daisy.

Por algum motivo, Matteo me informou que a dançarina havia entrado em contato e pedido para falar comigo. Como meu sposo pareceu tranquilo com isso, nem cheguei a pensar que um furacão estava a caminho.

Bom, mas esse foi o início de tudo.

Abri a porta do vestiário, encontrando-o vazio. Adentro mais um pouco, imaginando que Daisy deva estar em sua penteadeira, mas o local segue vazio. Saio, imaginando onde mais ela poderia estar.

A encontro alguns minutos depois no escritório no fundo do bordel.

– Achei você! – Exclamo abrindo meus braços.

A feição da mulher me faz notar que talvez não tenhamos uma conversa tão amigável quanto imaginei.

– Achei melhor termos essa conversa aqui atrás pois não seremos interrompidas com tanta facilidade. – Ela me responde após me dar um pequeno abraço.

Seus lábios estão pintados em um vermelho vibrante que contrasta lindamente com a sua pele. Daisy me parece o tipo de pessoal que chama a atenção até mesmo vestindo um saco de lixo.

Eu sento no mesmo sofá que fiquei na primeira vez que fui ao bordel. Um pequeno arrepio teima em subir pela minha espinha ao lembrar do olhar penetrante que Matteo me enviou naquele dia, mas empurro todos os pensamentos impróprios para o fundo da minha mente. Agora não é o momento de fantasiar com a próxima posição que faremos.

– O que deseja falar comigo? – A questiono, cruzando as pernas.

– Eu tenho um plano e preciso da sua ajuda para convencer Matteo de que nós podemos executá-lo.

Franzo o cenho. Várias perguntas surgem, porém prefiro esperar que Daisy se explique antes de bombardeá-la com o que estou pensando.

– Explique mais. Não estou acompanhando...

– Eu sei como fazer Elio deixar de ser um problema.

Agora ela tem a minha total atenção.

– Elio Palazzi? – A dançarina acena. – Qual seria?

A mulher suspira forte antes de verbalizar a sua ideia.

– Elio pediu que fosse assegurada uma aliança, correto? Me dê a ele.

Minha primeira reação é ficar estática. Ela disse isso mesmo?

– Desculpe, acho que escutei errado...

– Não, foi isso mesmo que você escutou. Eu sou tudo que ele quer, tudo que ele vai aceitar e, eu sou a única coisa que pode desestabilizá-lo.

– Alessio não aceitaria isso. Você foi a unica da sua familia que sobreviveu, você é a ponta solta.

– Me ter de volta em seu território é algo que fará esse filho da puta ficar muito feliz. Finalmente estarei onde suas mãos podem tocar, e ele conseguirá exercer muito mais controle sobre Eli. Isso é o que ele mais quer.

– Por que você faria isso? – Pergunto chocada. – Isso seria loucura, Daisy. Não mesmo.

Os longos cílios da dançarina batem um contra o outro quando a mesma me observa balançar a cabeça. Seu olhar me indica que sua mente já está feita.

– Eles mataram a minha família, Nikki. – sua voz sai quase sussurada. – Elio havia me buscado na aula de dança e eu tinha acabado de entrar pela porta da frente quando escutei a voz de meu pai. Ele suplicava alguma coisa a Alessio que eu não conseguia entender. Quando cheguei perto do batente da porta, vi minha família toda de joelhos. Minha mãe segurando a cabeça da minha irmã mais nova enquanto meu pai esfregava uma mão na outra. Alessio deu dois tiros. O primeiro na cabeça do meu irmão de doze anos. O segundo na perna do meu pai. – Daisy faz uma pausa, como se estivesse revivendo aquele momento. – Eu estava alheia à situação até aquele momento. Não tinha compreendido ainda o que estava acontecendo até aquele momento. – Um suspiro lhe foge. – Elio estava ao meu lado, segurando minha mão. Na época, parecia que era uma forma de me dar forças, mas agora tenho minhas dúvidas. Eu nunca vou esquecer do momento em que ele puxou minha mão para sairmos. O olhar carregado de culpa...

Sua voz embargada me pegou de surpresa. A ação de Palazzi definitivamente foi ambígua. Como um aprendiz de consiglieri não saberia que seu chefe estava prestes a matar a família inteira de sua noiva?

– Me deixe fazer isso. Me deixe me vingar. Me deixe destruir a Outfit de dentro para fora.

Escuto sua súplica e agora entendo um pouco o porque estamos discutindo sobre isso. Embora os anos dentro da Calábria, ela nunca se esqueceu.

– Mas você ainda o ama. – Daisy me encara, dando um meio sorriso.

– Sempre vamos arrumar desculpas para os erros das pessoas que amamos; mesmo que a nossa razão mostre para nós a verdade. Nenhuma voz supera a do coração.

Aquelas palavras doem mais do que deveriam. Eu entendo sobre o que ela está falando. Eu vivenciei isso quando meu papà me vendeu, e vivencio atualmente estando ao lado de Matteo.

Fiquei pensativa. É claro que Daisy ama Elio. Ela seria capaz de traí-lo?

– Por que você não disse isso direto a Matteo?

– Ele iria me dizer um não imediatamente e eu sei que você pode me ajudar a convencê-lo.

– Você acredita que eu vou conseguir convencê-lo? Tem certeza?

– Porque Matteo te escuta, Nikki. E não só isso. Ele quer muito te agradar. – Daisy preciona sua palma na minha com mais força antes de dizer: – Faça isso por mim, Nicoletta. Por favor. Me deixe destruir tudo que a Outfit tem.

E eu só acenei.