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Não vou te contar
como eu faço meus truques.
É para que suspenda a descrença.
E que seja assim;
É meu para pegar seu dinheiro,
E em uma nuvem de fumaça eu vou desaparecer.
Still Standing — Eletric Owls

Nicoletta

O Senador Sawyer deve ter repensado bastante duas ações durante a sobremesa. Sua necessidade de se tornar patético foi compreensível, uma vez que o prato escolhido por quase todos envolvia uma mistura de súplicas e banana caramelizada, deixando o gosto de um estupor amargo delicioso em minha boca.

A audácia do homem foi tanta, que ele até implorou por perdão, chorando copiosamente. Talvez a ideia de que seus escândalos fossem divulgados tenha o feito notar que ele tinha mais a perder ficando contra a 'ndrangheta do que se ficasse ao nosso lado.

Houve uma mudança de humor considerável no Capo assim que Richard iniciou seus lamúrios. Foi notório que suas feições passaram de impaciência para incredulidade. Bom, isso foi até o magnata Lee Do-Wong ser mencionado.

Eu não conhecia esse nome até então, mas a forma como Matteo teve sua atenção roubada instantaneamente – embora não demonstrasse ao Senador – me fez notar que se tratava de alguém importante para os seus planos.

Embora tenhamos conversado um pouco sobre o assunto na volta para casa, chegando ao Hotel eu mesmo assim, fiz algumas pesquisas sobre o mesmo, buscando estar o mais a par possível do interesse de Coppola.

Lee Do-Wong era nada mais nada menos do que o CEO de uma conglomerado sul-coreano de entretenimento, tecnologia e serviços. Suas subsidiárias estão ligadas tanto com a indústria da música, quanto da moda e Hollywood. O homem aparecia quase que anualmente na Forbes como personalidade do ano.

O motivo pelo qual um empresário buscava por uma galeria de artes era desinteressante. O que realmente chamava atenção era quanto ele desejava pagar para ter uma.

Fora que, o homem poderia servir de ponte para que a Calábria começasse a brincar em novas águas.

E foi por esse motivo que dois dias depois, acabamos em um campo tão verde quanto a tela de início do Windows 97, com roupas de grife e tacos de alumínio. Prontos para encontrar com esse tal magnata e sua trupe.

Um manobrista parou rente ao carro, abrindo a porta para Matteo, ao mesmo tempo em que seu colega de trabalho fez a mesma coisa do lado do passageiro. Quando terminei de ajeitar minha roupa, o Capo já estava parado ao meu lado, encarando o menino que segurava a sacola com os instrumentos que iríamos usar hoje.

Adentramos pela porta de vidro do clube, ambos trajando roupas esportivas, atraindo olhares da alta sociedade orleã. Um ou outro cochichava, provavelmente falando sobre Coppola estar naqueles meios junto com sua recém esposa.

Saber que éramos o centro da atenção fazia com que minhas mãos suarem.

Matteo não é somente objeto de desejo da sociedade mafiosa, mas também das pessoas que vivem fora de nossos meios. Percebi isso assim que comecei a trabalhar para a Coppola S.A. Muitos investidores chegavam em reuniões falando sobre suas filhas e o quanto as mesmas estavam ansiosas para ter um encontro com o meu marido.

O homem só abria os lábios em um sorriso alegre antes de me encarar. Por trás daquele sorriso, eu era capaz de enxergar o deleite e a mensagem subliminar em suas pupilas. Era como se ele almejasse que eu marcasse território.

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