A sensação de estar caindo sempre foi a melhor forma de corpo dizer a alguém que está em perigo. Mas, por que se sonha estar voando se uma parte dele é cair? Mesmo que seja controladamente falando, ainda assim se cai para voar, seja para cima ou para baixo, se cai.
É por isso que o vento contra o rosto de Kalyn é tão estranho, a sensação é enjoativa, tal como a primeira vez que cavalgou na vida. Mas agora, enquanto os seus olhos custam a se abrir, pode ver apenas escombros lhe acompanhando para baixo rumo a uma queda que não pode ver já que está atrás de si.
Ao seu redor, como a crisálida de uma borboleta, uma crisálida de âmbar lilás tal como uma ametista, uma cápsula de cristal ou vidro rachado torna sua visão completamente caótica. Seu corpo custa responder aos comandos que lhe dá, parece dormente, como se tivesse dormido por tempo demais, ou ter sido afetada por algum tipo de veneno. Mas a realidade não importa, pois atrás de si há algo pior, uma queda que as nuvens bem pouco longe de si constatam ser imensa.
Seus olhos arregalam perante o abismo que lhe aguarda, mas tudo que pode fazer dentro desse cristal é tentar se preparar para o impacto, não há nada mais a se fazer a não ser um breve pensamento... o que aconteceu?
Por mais que a elfa tentasse, mas tentasse muito e com força, não se lembrava de nada além daquela última frase, daquele murmúrio contra o vento, mas nem as suas memórias parecem confiáveis, pois, por que ele diria isso?
Esses breves momentos são centenas de metros de descida, e talvez nem importe mais para ela pensar nisso, o que é cair para quem já o fez?
O chão de uma floresta densa é o seu destino, e depois que os primeiros galhos dos altos pinheiros começam a se quebrar ao redor de si, o impacto na terra escura vem logo depois. O som do cristal quebrando é tudo que lhe toma a mente...
E tudo fica escuro.
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Há uma lembrança de um momento em um passado longínquo, quando estava sentada ao lado de uma parreira que cobria um gazebo de madeira escura. O cheio das uvas fartas e tão gordinhas tirava sua atenção do livro que estava lendo a tanto tempo, mas logo que o vento lhe traz o aroma do orvalho, levanta os olhos por sobre o gramado de folhas altas e macias, tão verdes que brilham com o Sol do amanhecer.
Ouve do outro lado o som da porcelana élfica verde-água de bordas douradas sendo posta na mesa de centro, ao lado de um vaso branco com listras roxas que porta margaridas, jasmins e outras flores em abundância.
— Alexandria, deixe seu livro de lado, venha tomar chá... é de azul-manhã.
Uma dupla de batidinhas de uma colher de prata pela borda de uma xícara atrai a atenção da elfa, que vê um-
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Seus olhos se abrem rapidamente, uma dor terrível nas costas lança uma vontade de rugir ao alto, porém, Kalyn se coloca de lado para ver vários pedaços grossos de cristal lilás ao seu redor, espalhado e por sobre o seu corpo, como se tivessem esmigalhado um vitral por sobre ela. Os pequenos cacos não a cortam nem a furam, parecem ignorar sua pele tão pálida e o tecido de seda que lhe cobre.
Se apoiando no cotovelo esquerdo, a elfa se coloca de lado e observa o vestido azul que lhe cobre do peito para baixo, mangas, um peitoral e gola são de um branco azulado, tal como a cor das nuvens. E antes que questionasse qualquer coisa, vê um amuleto que lhe cai na altura do externo, acima dos peitos.
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As Relíquias Imperiais - O Príncipe Vermelho
Fantasy"Após muito ponderar sobre a necessidade de novas histórias e pensar nas anteriores, me decidi, finalmente. E trazer a memória do mais importante império de Myracroduon me pareceu uma excelente ideia e ponto de partida. Nesta obra, vamos acompanhar...