"Ela o matou?"
O pensamento incompreendido que ambos possuem não suportam ver o sangue que pinta a lâmina de vermelho. Mas é a verdade brutal que talvez nunca entenderam, no mundo fora das pinturas, dos contos e livros, sangue é o que rege os vencedores, e quem vive ao fim do dia.
— Meninos, estão bem? Mozi?!
Kalyn se preocupa primeiro com ele, vasculhando com o olhar se estava ferido, tudo que vá além dos arranhões dos galhos.
— O-o que era essa coisa?
— Não sei bem, mas o outro pode estar por perto, então, temos que ir! Elerin! – ela chama o garoto com a voz firme.
Seu olhar está fixo no corpo que ainda tem alguns espasmos misturados ao sangue escuro que escorre pelo peito até as folhas secas, marrom, bege e castanho se transformando em rubro.
— Sim, vamos!
Balançando a cabeça, ele mesmo joga os pensamentos para longe. Para onde não possa nublar o que precisa fazer.
Com uma última olhada no menino de olhos vermelhos e pele de café, Kalyn lhe oferece um sorriso e uma mão, um caminho para longe dessa loucura.
— T-tá bem.
Ele baixa a cabeça e aceita, sentindo, finalmente, toda a dor dos pequenos cortes por sobre os seus braços e rosto. Porém, seus rubros olhos descem a espada na mão direita de Kalyn, e isso lhe traz uma sensação ruim o suficiente para recuar a sua, não consegue controlar o medo dessa coisa que pinga tão lenta e viscosa.
Notando com seu olhar afiado, a menina logo golpeia o ar para o lado, limpando a lâmina e não demora para deixá-la se soltar dos seus dedos e apenas com o polegar e indicador, devolver a Elerin que já procurava ao redor algum sinal do outro. E pela experiência da elfa, é uma questão de quando irá aparecer, por isso usa a ponta para rasgar o vestido no meio, para que não tropece, tira a barra também.
— Bora. – quando a espada é devolvida, Kalyn avança, passa a mão pelas costas magras de Mozi e o guia.
Juntos, os três retornam por entre a floresta densa, a trilha que os meninos usaram agora se torna um pensamento e um desejo tão nebuloso quanto a névoa que acinzenta entre os troncos escuros e as copas com suas folhas amareladas e vermelhas.
Apesar de focados em retornar, Kalyn e Elerin tem os ouvidos atentos a qualquer som diferente. Para a menina que mal conhece esses dois garotos, e que mesmo assim vieram até seu resgate, só sente pena pelo que tiveram de ver, e pelas roupas que ganharam rasgos e manchas de lama agora.
Seus passos estralam as folhas secas e pequenos galhos que se quebram com o mínimo peso, é um barulho necessário pela pressa que tem em si, mais ainda por terem de voltar a aquele lugar estranho de antes, onde a criatura a levou e declarou ser uma presa. Porém, é com cuidado que procura por entre as folhas aquela coisa, aquele ídolo de carne e pêlo negro.
— Isso é uma cria profana. – ela comenta mesmo que ninguém tenha perguntado.
E essa quebra do silêncio constrangedor entre eles traz o olhar duplo dos dois.
— Que tipo? – como se também já conhecesse, Elerin questiona.
— Um Aspecto arruinado, ou corrompido, como alguns chamam. – Kalyn o responde. – Conhece? – e pergunta.
Mas ele nega com a cabeça, um gesto que ela até tenta olhar mais a fundo, porém, não se deixa distrair com isso, ao menos não agora, só espera chegar em um lugar mais seguro. Claro, seria melhor não os assustar sem necessidade com as coisas que podem acontecer daqui para frente, principalmente se aquela coisa morder um deles.
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As Relíquias Imperiais - O Príncipe Vermelho
Fantasi"Após muito ponderar sobre a necessidade de novas histórias e pensar nas anteriores, me decidi, finalmente. E trazer a memória do mais importante império de Myracroduon me pareceu uma excelente ideia e ponto de partida. Nesta obra, vamos acompanhar...