Capítulo 8 - Veneno

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O impacto contra a terra faz o cabo da espada tremer nas suas mãos, e isso por si só dói. Seus dedos segurando o cabo com tanta força ardem nas juntas, mas o trabalho foi feito.

E talvez o que mais encha Mozi de felicidade, logo depois de ter feito algo por ela, é conseguir cumprir algo que apenas uma breve troca de olhares foi capaz de dizer.

Talvez, pela primeira vez na vida, esses olhos vermelhos tenham sido úteis.

Usá-los de forma real é doloroso, as bordas da sua visão ficam avermelhadas, junto a uma dor de cabeça pulsando a cada batida de seu coração.

Cada batida parece alongar os segundos das coisas, em especial a face em horror da coisa que vê o ídolo partido em dois, vertendo um sangue negro igual ao seu, porém, ainda mais viscoso, é como um xarope, mas o cheiro é pior do que o de carniça, e se não fosse ruim o bastante, essa coisa parece efervescer como se houvesse centenas de pequenos e negros vermes que começam a enegrecer as folhas secas e até mesmo a grama abaixo.

Recuando, Mozi tem de manter a espada junto de si para não desequilibrar com seu peso, e, logo depois, uma onda de medo lhe arrepia o corpo dos pés a nuca, principalmente por ver aquela coisa virada a ele, com o os dentes a mostra, furiosa.

— Merda! – ele grita logo antes de começar a correr.

Um movimento ágil que mal espera ordens ou que a visão seja mais clara. Esse lapso de coragem, que sequer sabe de onde veio, foi bom demais para apreciar, mas a realidade tão crua a sua frente lhe percorre com tanta força que o atiça a ir ainda mais rápido.

E claro, Elerin, estupefato pela estratégia montada sem que pudesse notar, mal respira e muito é pela dor intensa que lhe faz arder as costelas.

— Vai para lá, sem o ídolo ele vai ter problemas pra controlar sua transformação e mente. – Kalyn explica logo ao seu lado. – Vai!

Empurrado rumo a outra árvore, bate as costas contra o tronco e sente logo depois o seu peito arder, tem de limpar o rosto com as mãos para não deixar o sangue da coisa nublar a sua visão.

E outra vez, seu cerne é retorcido, como se uma garra agarrasse suas entranhas e o fizesse baixar a postura, se curvar perante a dor. Por mais que tentasse, que sua vertigem desse um chute em seu orgulho, um não, vários, na verdade, não consegue impedir um gemido agoniante de escapar da sua garganta.

É um som de fraqueza, de uma presa fácil que escapa a comparação de alguém com uma espada tão afiada, que já lhe causou tanta dor. A coisa que agora mais parece um animal do que qualquer outra criatura, vira seu rosto ao fraco e ao frágil, ao ferido, a carne fácil.

Pois Kalyn apenas sorri, nas tantas vezes que lidou com essas maldições, com alguns tão maiores, pensa consigo mesma os métodos que poderiam usar, mas aqui, sem nenhuma preparação, é como tentar segurar fogo com as mãos.

— Elerin! – a menina até tenta ir a seu socorro, porém.

O som daquilo avançando faz seu corpo arrepiar, tem de empurrar o menino para mais ao fundo da floresta para poder atrair a atenção do monstro. A sua visão é nublada por um borrão alaranjado do tigre que avança com os olhos amarelados brilhando, os dentes tão a mostra quanto as garras afundam no chão com o seu peso de umas duas centenas.

Com o sangue fervendo nas veias, ambos cruzam os olhares nos instantes que a elfa corre para o lado oposto ao de seu aliado. Faz barulhos muito mais que desnecessários para ter a atenção da criatura só para si, e o seu corpo imenso que vaga por ali não muda de rumo, na verdade, parece ainda mais arraigado em pegar o menino ferido do que jamais esteve.

As Relíquias Imperiais - O Príncipe VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora