Dormir bem não foi um problema, tal como a fome é o melhor tempero, o cansaço amacia até as rochas. Elfos precisam dormir muito pouco, ou seria assim se não fosse toda essa exaustão que lhes atormenta.
Mozi é o último da dupla de sentinelas para a noite, uma silhueta pequena e recurvada sob a luz branca e pálida das Siemaras. Com o pouco que tem, os três elfos improvisaram uma barreira de pedras para parar o vento e o fogo agora reduzido a brasa, que ainda assim faz o seu trabalho, esquenta as palmas doloridas e avermelhadas do garoto de olhos rubros como a fonte do fogo.
Observando a noite indo embora, relembra tudo que passou em menos de dois dias ao lado da misteriosa elfa. Da lama a cama quente, do jantar farto e da luta apavorante, tudo isso até aqui, até o sono pesado.
Mozi tem que se controlar por várias vezes para que não fique a encarando de forma tão estranha, mas o medo de que isso seja um sonho não o permite desviar tanto, nem dormir com tanta profundeza ou mais tempo que alguns momentos longos. Porém, é o ar frio da manhã de outro dia que o deixa alerta, pois a claridade que vem pelo céu o faz mudar de posição. É depois de algumas horas, por isso, suas juntas doem, esfriadas pelo vento cruel e a necessidade de manter o pouco calor contido contra o seu peito.
Antes de dizer seu nome uma segunda vez, os olhos azulados da elfa batem contra o seu espírito, é como ver um tigre acordar, um misto de admiração e medo que faz seu peito travar, pular uma inspiração.
— Já é manhã? – ela pergunta.
— Sim, o Sol tá ali.
O menino aponta ao céu escuro a suas costas, mas com algo diferente a frente de seu rosto. Um brilho amarelado e laranja no horizonte vem marchando sob nuvens como espuma por sob o mar, e a planície antes de nuvens brancas agora alaranjam e fazem a neblina abaixo menos densa do que antes, permitindo o elfo de olhos tão únicos ver a copa das árvores e alguns dos galhos mais baixos serem nítidos.
Kalyn se levanta com a postura se construindo como faria um dragão que desperta de um sono milenar, e seus braços pequenos e magros se esticam, no entanto, por um milésimo de um segundo, Mozi podia jurar que via asas vastas e prateadas enquanto, como se em harmonia com a elfa, a luz de um primeiro raio de Sol a atinge logo por sob a cabeça, com o prata e dourado se misturando por um instante antes que ela virasse de costas a Mozi, e, por um instante que o deixa curioso, a menina se mantém em silêncio, uma postura linda que a faz parecer uma daquelas estátuas de antigos reis que o menino já leu em poucos livros da história de Saryan, tal como foi esculpida "A Oniriana" Kalyn observa o Sol nascer para outro dia.
— O-o que tá fazendo? – ousando quebrar o mistério, ele pergunta.
— Dando oi para um amigo... – ela dá de ombros antes de se virar, o rosto corado com o calor gentil como o sorriso que fazem suas bochechas rosarem ainda mais. – Mas, então, como foi a noite?
— Dolorida.
— Né! – ela aperta seus braços.
Esse corpo tão frágil parece que vai quebrar se ela dar alguns passos, cada músculo reclama e seus ossos parecem ranger. Como se tivesse voltado ao começo de seu treinamento, nos dias mais simples da sua vida, certamente.
— Só, to preocupado com ele ali. – Mozi aponta para Elerin, encolhido, com o amuleto pressionado contra o peito. – Ele vai ficar bem?
— Não. – crua e realista, a elfa responde. – Quanto mais o tempo passar, mais dele vai se misturar a coisa em seu sangue, mas o colar vai manter ele no controle a tempo.
— A tempo? A tempo do quê?
— De dominar a criatura, há muito mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar, Mozi. Só que... – o olhar dela o atravessa. – Não vencemos aquela coisa.
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As Relíquias Imperiais - O Príncipe Vermelho
Fantasi"Após muito ponderar sobre a necessidade de novas histórias e pensar nas anteriores, me decidi, finalmente. E trazer a memória do mais importante império de Myracroduon me pareceu uma excelente ideia e ponto de partida. Nesta obra, vamos acompanhar...