Capítulo 10 - Um Voto sob o Céu Estrelado

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O arrepio que percorre a sua coluna faz seus pequenos pêlos eriçarem, pois, aquela coisa que acabara de aparecer mais parecia um monstro, talvez parecido com o que lutaram horas atrás, mas, não, é pior, bem pior, aquilo era uma coisa que dava para se ver, dava para se entender o que era por sua forma felina. Já essa, um aglomerado de corvos e olhos brancos que se misturam em um tipo de gelatina negra e amorfa, uma criatura habitante de escuros pesadelos que se empoleira na beirada do telhado pedroso do templo aos quatro reis dos elementos.

E a tentação lhe consome, o desejo de quebrar a única regra que Kalyn havia exclamado, e por duas vezes. Mas apenas se contém, medo do desconhecido é algo comum, porém, com essa coisa espreitando o trio, algo ainda mais terrível parece estar em jogo. No entanto, é o seu coração que se acalma primeiro ao ver como a menina parece lidar com isso de forma tranquila, se vira devagar, e, ao contrário dele, encara a coisa com vontade, como se isso lhe desse poder sobre a criatura.

O que parece dar certo, a coisa amorfa parece se encolher por cima do telhado como se pudesse escorrer sobre ele em forma de líquido.

— Quem vem a mim? – a pergunta parte da garota.

Pois outra vez, como já aconteceu a pouco, seu semblante parece espiralar com uma maturidade anormal, como a de alguém que já viveu bons séculos.

— Nós. – a voz é bizarra.

Um amontoado de corvejados sinistros misturados com ecos de outras vozes que mudam de volume e tom, como se houvesse dezenas, não, mais de quarenta, todas dizendo as exatas mesmas palavras.

— Conte suas intenções a mim, espíritos. – o plural nas palavras parecem ressoar.

A criatura se movimenta, fazendo olhos, bicos e formas se mesclarem e amalgamarem. E a forma final parece menos que a anterior, talvez por se sentir um pouco mais tranquilo?

Não, isso não parece importar. O que importa, ao menos perante os seus igualmente olhos rubros, é que ele deve manter o fogo aceso até isso tudo acabar.

Nenhum ar precisa ser inspirado para que o espírito amorfo possa falar. No entanto, parece inflar ainda assim, e as três cabeças maiores que possui abrem seus bicos para dizer.

— És tu aquela que se diz estrela?

"Aquela que se diz estrela"? É o pensamento que passa na cabeça de Mozi em alguns de seus segundos. Isso lhe provoca uma viagem por suas próprias memórias.

Anos antes, quando ainda ouvia a voz de alguém que podia chamar de família. Ouvia nas histórias de ninar sobre a Sagrada Cavaleira Kalyn, ou a Cavaleira Estrela, é a mesma coisa já que é o significado de seu nome, "Estrela da Tempestade".

Não pretendo ser quem eu já sou. – ela responde. – Você pode deixar de ser você?

— Nós sim, somos nós. – aquilo grasna. – Diga, elfa, que palavra deseja servir.

"Palavra?", "Servir?", que tipo de conversa é essa? Mozi se pergunta, por mais que toda a sensação arrepiante e sinistra não lhe tenha soltado o abraço frígido.

— Quero abrir os Caminhos de Celurivix. – Kalyn anuncia para a criatura.

Claro, os dois elfos ali no fundo, ao redor de sua pequena fogueira, mal entendem o que isso significa, muito menos o motivo de uma criatura bizarra como aquela dizer.

— Este caminho é recusado pelo teu povo a mais de meio milênio, menininha. Sabe o que fala? – um misto de grasnados agora mais coesos, sérios, e talvez surpresos ressoa.

Quase como um alerta.

— E quanto a vocês, criaturas das sombras, são senhores de seus atos ou temem o cerceio da cautela?

As Relíquias Imperiais - O Príncipe VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora