Capítulo 6 - O Destino de Toda Espada

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Cada galope do cavalo por essa pradaria traz uma sensação de tremor passar pelas pernas e coluna, sua postura está firme como o arco que segura. Alinhar o passo rápido do animal com a sua flecha é um trabalho difícil, mas há alguém logo atrás, caminhando por entre a relva alta que lhe instrui.

— Espere o cavalo estar com o mínimo de patas no chão, aí você atira! Vamos Kalyn!

Não havia nome ou rosto para esse homem lá atrás, nessa memória tão brilhante, só sabe que ama muito ele, não como um pai, isso para ela é como uma sombra escura de fumaça. Essa pessoa ali, brilhava com o Sol matinal que torna o verde antes claro em um verde louro bonito.

Só consegue se lembrar do cavanhaque preto, do sorriso vasto e de como ele lhe fazia dar boas gargalhadas, de como seu riso brilhava com os pés de galinha que lhe pareciam ser cílios a mais. O olhar dele também era único, afinal, ter olhos de cores diferentes o fez ser quase um destaque dentre a sua casa, o branco e o preto lhe proporcionaram o título de "Tio Meia-Noite", algo que fazia Kalyn feliz por lembra-lo com tanto carinho. Mas, no fim, tudo isso não passa de memórias.


...


Pois o chacoalhar do passo ágil de alguém lhe acorda, resmungos irritados nublam seus ouvidos enquanto observa a floresta passar a cada lado de si. Não havia sinal da vila ou mesmo da criatura maior, pois parecia estar junto a aquele que decepou a mão, o cheiro de suor misturado com um fedor de sangue sujo.

O susto da situação poderia fazer qualquer um gritar ou se debater, no mínimo, mas ao invés, Kalyn apenas procura alguma arma que possa usar, mas só de observar a cintura desse homem as suas esperanças desaparecem, não havia sequer uma faca de pão, e o pior é que não há sinal daquela espada de Aço Real.

Desarmada, só restava a ela esperar por um momento melhor, um onde sua cabeça não estivesse girando tanto, um em que seus braços estejam doendo menos, ou que possa ter alguma coisa para improvisar. Por isso torna a baixar o rosto, contente, ainda assim, por não ver aqui nenhum daqueles garotos.

É alívio, no fim. Pois pode usar esse tempo para descansar, impressionada no quão fraco esse corpo é.

— Huunf. – o elfo que a carrega resmunga.

Rosna, na verdade, enquanto leva o braço até as suas costas e a segura para saltar dessa estrada por entre as árvores secas e sombrias pela névoa. O salto que ele faz é poderoso, com o impacto na terra cheia de folhas mortas é fácil perceber como ele pesa bem mais do que um elfo deveria, afinal, elfos são conhecidos pela leveza, um traço que remete a seus corações tão bem unidos a natureza e magia.

Porém, depois de pensar alguns instantes, sua mente vasculha as inúmeras criaturas que destruiu em sua outra vida, e talvez este que lhe carrega não seja digno de memória, mas o anterior, o maior dentre a dupla com certeza se parece com algo que já viu, a forma que sua carne se metamorfoseava, a selvageria que lhe tomava em momentos abruptos são sinais claros de um dos vários tipos de maldição, o resultado de se tentar fazer o ritual de poder digno apenas a algumas raças, a punição para isso é se tornar esse tipo de animal que não conhece muito além da fome e maldade.

Na semelhança da criatura que erroneamente quis roubar o poder, aquele que viu quis roubar a forma do que exatamente?

A dúvida que tira a menina da realidade brevemente é cortada pela sensação da mão que lhe agarra as costas e a joga por sobre um monte de folhas secas. Esperta, finge-se de desacordada e o impacto amortecido a ajuda a ficar mesmo que perca o ar dos pulmões.

— Hnnf, se o mestre não tivesse... aah! – irritado, o elfo a sua frente estica a mão na sua direção.

O desejo de vingança, de rasgar o rosto da menina lhe nubla a mente por alguns instantes, mas isso se encerra ao se lembrar do olhar daquele que lhe causa tanto medo.

As Relíquias Imperiais - O Príncipe VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora