19 | A vadia que nunca foi vadia

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Eu sou tão burro.

Como eu pude esquecer as matérias da prova em cima da mesa?

Meu Deus, Jisung.

Corri pelo corredor, ziguezagueando um ou outro aluno. Ao passar pela larga porta do ginásio, ouvi um soluço. De imediato, parei de andar. E a silhueta que encontrei ao olhar, era a de Felix.

Tudo bem que nós apenas nos alfinetávamos, mas eu realmente o queria ajudar agora. Respirei fundo e torci para que ele não jogasse seu sapato em meu estômago. Andei lentamente até a bancada em que ele estava e me sentei ao seu lado.

— S-Saia daqui — ele ditou, ainda soluçando com algumas lágrimas que insistiam em cair. Neguei com a cabeça — você é irritante, Jisung.

— O que houve? — perguntei. Ele riu desdenhoso e olhou para o lado — deixe-me te ajudar.

— Não tem como me ajudar — falou e suspirou.

— Você não pode ficar guardando esse sentimento só para si — rebati e sequei sua bochecha úmida, retirando uma expressão de susto de seu rosto. Ri baixinho — sei que você não gosta de mim, e... — fui interrompido por sua gargalhada.

— Você que sempre foi um merda comigo. Eu só revidei — ele disse e eu ri.

— Não é bem assim, Felix — falei ainda em meio à risada — vamos recomeçar, sim?

— Você está mesmo tentando ser meu amigo? — ele perguntou e eu assenti. Felix riu sem vontade — Changbin.

— O que houve entre vocês?

— Tivemos uma briga ontem. E eu disse coisas horríveis para ele, mas eu estava meio sob efeito da bebida. Não era como se quisesse dizer aquilo para ele. Changbin é muito importante para mim, eu não s-seria capaz d-de... — e ele voltou a chorar novamente. Se eu soubesse que Felix era tão sensível assim antes, eu com certeza teria me aproximado dele e não dado corda para suas provocações.

— Você o ama, Felix. Ele só deve estar chateado — murmurei e toquei suas costas, acariciando-as, na tentativa de o reconfortar — tente falar com ele amanhã, ou depois de amanhã. Os dois estão tristes, e com certeza não sairia uma reconciliação caso resolvessem conversar por agora.

Felix afundou o rosto em suas mãos, aumentando a intensidade do choro.

— Eu conheço Changbin há tantos anos, e bastou uma noite para perdê-lo. Algumas palavras aqui, outras lá, e então estamos assim. Secos.

Olhei para baixo. Eu acabaria chorando junto com ele.

Consigo entender sua dor, porque agora eu tenho alguém que amo. E perder Minho seria algo trágico, algo que eu não quero nem imaginar.

— Jisung — ele me chamou e o olhei — obrigado.

— Eu não disse nada de mais — falei confuso. Felix secou as bochechas e me olhou com um sorriso torto — você é muito bonito, Felix. Changbin deve amá-lo não somente por sua beleza, mas por sua personalidade também. E ele seria idiota caso não percebesse que você está triste nas aulas ou se escondendo dele para chorar em um canto. Se você está assim é porque se importa, e tenho certeza de que Changbin também está assim, mesmo que não demonstre aqui.

Felix fungou e me abraçou.

Eu nunca me vi abraçando Felix. Na verdade, eu o imaginava correndo atrás de mim com uma faca querendo me matar.

Retribuí seu abraço, tentando o confortar ainda mais.

— Posso falar com meu namorado agora, Jisung? — me afastei de Felix e olhei para a porta: Changbin.

Ele ouviu tudo? Há quanto tempo estava lá?

Assenti e me levantei. Pude notar as bolsas abaixo dos olhos de Changbin, e seu nariz meio vermelho; talvez tivesse chorado bem como Felix.

Deixei-os à sós e corri para minha sala em busca das minhas folhas, ainda desacreditado de que eu e Felix podíamos, agora, ser considerados amigos.

Empurrei a porta e Hyunjin estava na sala, terminando de guardar seus materiais.

— Por quê está aqui ainda? — perguntei.

— Fiquei de recuperação em história — respondeu e rolou os olhos. Ri enquanto procurava meus resumos e os encontrei abaixo de minha carteira — não tem nada para me contar, Jisung?

Suspirei ao me sentar.

— O quê?

— Eu sou seu melhor amigo, e você se afastou do nada — Hyunjin disse e se sentou na cadeira à minha frente.

— Desculpe — murmurei ao olhar para baixo.

— Se bem que eu já sei de tudo — falou convencido e o olhei incrédulo. Hyunjin riu e eu acabei por rir junto — eu pediria detalhes, mas acho que sei o que Minho e você fazem quando estão sozinhos — eu devo ter enrubescido para ele caçoar logo depois — vídeo-game?

Como eu poderia recusar um jogo?

— Você vai perder, como sempre!

— Quem sempre perde é você! — Hyunjin rebateu e gargalhamos em seguida.

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Han Jisung, The Virgin | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora