retratos empoleirados
Tem tanta foto nossa, memórias congeladas, relógios sem pilha. Toda hora as limpo com produto de avelã, castanha com seu cheiro. Retiro a poeira do tempo, indício de envelhecimento. O tempo existe mesmo? Não sei. Tem quem goste do medo, o desespero, a sensação dos momentos escapando por dois dedos. Malabarista que aos poucos perde as bolas, sem uma plateia para o incentivar. Tem foto nossa com o sol e o mar, coadjuvantes do nosso romance planejado. Planejado por quê? Porque há muito eu já te sonhava. Retratos que provam sua passagem pelo caminho que minha alma é. Deus, que seja como a viagem dos pais que esquecem dos filhos, permanente. Ou, se não permanente, que seja inesquecível. Que te perguntem seu país favorito e que você responda ela. Nossos retratos são neve na praia ou sol na montanha? Tem foto beijando, jantando, nadando, só não tem foto casando. Tão íntimo quanto o centro das flores que se fecham ao pressentir chuva. Seus olhos sempre meio fechados, meio abertos. Aquele sorriso ora moleque da mãe, ora meu homem. Retratos de bordas pretas, furos eternos na parede branca. Eu e você, empoleirados sobre tantos momentos, que até a morte tem pena de nos separar.
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CASTANHO CASTANHOLA
PoésieTextos sobre amor e juventude. "Castanho da castanha que bate no meu coração que nem castanhola." 🥇 em crônica • 17/09/23 | 2.4 mil livros 🥇 em trechos • 26/09/23 | 820 livros 🥇 em prosa • 27/09/23 | 1.2 mil livros concluido em: 30/09/23.