berço

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berço

Adolescente perdido em cidade pequena, tem como? Localizo viadutos antes de alcançá-los, conheço meus vizinhos de quarteirão e aquele que na chuva vende picolé. Cidade pequena onde todo mundo conhece todo mundo, o mundo e tudo. É tudo demais e é tudo disso e tudo daquilo, loucura isso tudo, pior que subúrbio! Cidade das colisões, pouco espaço para tanta mente, para todo o medo de apodrecer sem asas nesse berço. Um cemitério, um mercado, uma escola, muita pouca sanidade. Tem gente que foge e nunca mais se tem notícia; estes eu idolatro. Outros, se apaixonam pelo ego e suas poucas avenidas; destes sinto é pena. Lugar sem cultura, sem gente decente. Mesmo bar toda sexta, mesmas pessoas, mesma mesa, mesma cadeira, mesmas bebidas, mesmas notícias: alguém morreu. Cinquenta anos se passam e a próxima notícia sou eu. Tem memória em todo canto com todo tipo de pessoa, nenhum rua que ainda não percorremos. Tão difícil escapar dessas garras pequeninas — puxar um fio de cabelo dói mais que um braço inteiro. Amizades que são amizades de outras amizades, tanta faca pelas costas, tanto espaço para tão pouco oxigênio. Tem muito amor e muita traição, muito sonho que é trocado pela vida no mesmo endereço. Quero ser fugitiva, cruzar a fronteira como quem joga tudo na fogueira disposto a ter um novo nome. Me batizem outra vez.  Abrirei asas que não foram feitas sob a medida desse território, e então voarei como mariposas em busca de luz.

CASTANHO CASTANHOLAOnde histórias criam vida. Descubra agora