Não sei quanto tempo fiquei naquele lugar, mas a eternidade pareceria pouco para meu sofrimento. Minhas mãos doíam por estarem presas e meu corpo todo protestava.
Eu não conseguia enxergar nada e naquele momento nem mesmo pensar. A magoa e a angustia presas em minha mente só me mostravam o quão perdida e sozinha eu estava.
Olhei em volta quando a imobilidade me incomodou e avistei minhas roupas rasgadas a poucos centímetros dos meus pés.
A lembrança das ultimas horas passavam diante dos meus olhos em imagens e eu só queria ter a capacidade de esquecer.
Mas isso não era possível.
Engoli em seco quando ouvi novamente um barulho vindo da porta e esperei pelo pior.
- Coitadinha - Louis disse assim que entrou no pequeno quarto - Deve estar com frio.
Apenas o fitei com nojo e esperei. Eu ainda estava nua e acorrentada.
Ele se aproximou e percebi que trazia alguma coisa em seus braços. Eram roupas.
Ele parou a minha frente e então voltou a falar.
- Se eu te soltar você promete se comportar? - ele perguntou como um pai e apenas o encarei - Vou encarar isso como um sim - ele disse dando de ombros, diante do meu silencio, e em seguida retirou uma chave do bolso e se adiantou em soltar meus braços.
O peso do meu corpo parecia pesar, então quando finalmente senti minhas mãos livres deixei que o mesmo escorregasse fracamente em direção ao chão.
Fiquei ali sentada sem olhar para cima apenas massageando o local machucado em meus pulsos e então após alguns segundos Louis se abaixou para ficar a minha altura.
- Eu trouxe pra você - ele disse me entregando as roupas e após hesitar as peguei.
Eu me sentia tão suja que tocar o tecido macio e limpo seria reconfortante se não tivesse vindo de Louis.
Tentei me levantar, mas não tive forças.
- Vamos, (S/N), levanta - Louis pediu impaciente me puxando pelo braço e me desfiz de seu toque quando consegui me manter em pé.
Coloquei a roupa rapidamente e olhei novamente para Louis.
- Isso mesmo - ele disse se aproximando e me afastei - O que é isso? - ele perguntou enquanto analisava minha reação.
- Não chega perto de mim - pronunciei baixo e sua risada me arrepiou.
- Eu faço o que quiser com você, (S/N)! Quando você vai entender que está aqui por uma unica razão? Quando vai entender que posso fazer tudo o que quiser com você?
- Quando você vai entender que eu sinto nojo de você? Quando vai entender que isso nunca vai fazer com o que eu seja verdadeiramente sua? - gritei nervosa e seu rosto se fechou - Eu te odeio, Tomlinson e nunca vou te amar! - finalizei sentindo a aversão em minhas palavras e suas mãos que antes se mantinham cerradas em punhos voaram em minha direção.
Senti seus dedos fortes se fechando ao redor dos meus cabelos e gritei de dor quando ele começou a me puxar e balançar com violência.
Meu corpo foi lançado contra a parede e o baque me fez ficar sem ar. Cai, sem forças, e ele se abaixou.
- Você vai entender de uma vez por todas, (S/N), que eu não estou brincando - ele disse respirando fundo e senti meu corpo sendo puxado novamente.
As pancadas e golpes pareciam não ter fim. Me senti tonta quando ele bateu minha cabeça contra a parede e esperei que o desmaio me dominasse, mas não veio.
A dor que atingia meu corpo por todos os lados nem se comparava a que rachava coração.
As lágrimas corriam sem cessar e nem mesmo os gritos podiam ser evitados.
- Por favor, Louis - pedi quando a dor 'superou' o insuportável - Você realmente me ama? - perguntei por fim e obtive o resultado esperado.
Louis parou ofegante e arrumou os cabelos bagunçados.
- Você já sabe a resposta - ele disse entre-dentes e fechei os olhos com força, afinal aquilo que pra mim era doença para Louis era a forma mais linda e perfeita de amor.
- Então por favor não faça isso - pedi por fim me sentindo fraca - Por favor não faça com que eu te odeie, não faça com que o que vivemos juntos seja apagado pra sempre -disse entre as lágrimas.
Ele parou por um momento para me analisar e no segundo seguinte estava me puxando para seus braços. O abraço foi inesperado, mas apenas deixei que minha cabeça repousasse em seu ombro. Eu estava tão fraca.
- Querida - ele sussurrou em meu ouvido e juntei todas as minhas forças para focar em suas palavras - Eu não posso parar - ele disse mais baixo ainda - Não posso parar agora - senti o medo mais uma vez se apossando de mim - Porque quando todos te olharem ou quando eu te olhar preciso saber que essas marcas em você são minhas, preciso saber que você me pertence.
Ele era louco. Louco e doentio e nada do que eu dissesse ou fizesse mudaria o que ele havia planejado em sua cabeça. Nada mudaria o fato de que se dependesse de Louis eu nunca mais seria livre.
- Eu já te pertenci, Louis. Já fui sua de corpo, alma e coração - disse baixinho e ele me soltou de seus braços para me olhar - E me lembro de ser a mulher mais feliz do mundo quando estava com você. Me lembro de todos os nossos momentos juntos e de tudo o que vivemos, mas hoje, olhando pra você eu só tinha um único desejo - parei sentindo minha garganta se fechando a medida que as lágrimas escorriam com mais força.
- Qual? - ele perguntou por fim, ainda com aquela calma em sua voz.
- Meu maior desejo era nunca ter te conhecido - disse por fim e seus olhos queimaram de ódio - Meu maior desejo era esquecer tudo, esquecer quem você era e tudo o que passamos juntos, porque ai então eu não sofreria como estou sofrendo agora nas mãos de um doente nojento como você - completei, agora sentindo meu rosto sendo lavado com lágrimas de raiva e não mais de tristeza - Porque agora quando você me bate não é só meu corpo que se machuca, meu corpo é o de menos aqui, o que machuca é meu coração, Louis. Meu coração se parte a cada golpe seu, porque a cada golpe eu me lembro das suas promessas, me lembro dos seus carinhos e dos seus beijos. E a cada toque seu em mim uma parte do nosso passado se vai e com ele tudo o que você já significou pra mim se torna um nada...
Seus olhos que me fitavam com ódio se tornaram estranhos e sem expressão e seu rosto em uma careta antes dele voltar a falar.
- Mas sabe o que é o pior nisso tudo, (S/N)? - ele perguntou baixinho e uma pontada de esperança, mesmo que mínima, surgiu em meu peito.
- O que? - perguntei no mesmo tom.
- Que eu não me importo - ele disse, abrindo um sorriso largo, e senti como se algo dentro de mim despencasse.
Fechei os olhos com força tentando me afastar mentalmente daquilo e quando ouvi a porta sendo aberta e finalmente sendo batida com força, desmoronei sobre o chão frio.
Escondi o rosto nas mãos e chorei. Chorei como nunca havia chorado antes. Chorei pela dor e pela tristeza. Chorei por tudo. Eu me odiava por ter entrado naquele carro. Me odiava por não ter avisado Liam e me odiava ainda mais por um dia ter conhecido e acreditado no amor de Louis.
Reuni meu último suspiro com força e gritei, mesmo sabendo que ninguém ouviria o som da minha dor.