Minha mente vagava em busca de pensamentos tranquilos que pudessem me distrair do que havia ao meu redor, mas nada conseguia ser forte o suficiente para amenizar o que se passava naquele instante.
Durante os longos dias em que estive com Louis as torturas físicas, psicológicas e sexuais não cessaram por nenhum momento e a cada dia eu me sentia mais vazia.
A pequena casa que me abrigava, apenas em seus momentos mais normais, era apenas um bônus das horas de tortura que eu era obrigada a suportar quando era levada novamente para o quarto subterrâneo.
- Você sabe que não gosto quando não me olha nos olhos, (S/N) - repreendeu puxando meu rosto para o seu de forma autoritária, fazendo com que eu acordasse de meus devaneios.
Engoli em seco, ainda sentindo as lágrimas frias que molhavam meu rosto, e o encarei.
- Assim que eu gosto - aprovou com um sorriso afetado - Agora espero que isso não se repita - avisou.
Não compreendi se ele se referia ao fato de não olha-lo ou ao que havia ocorrido no início daquele dia, então simplesmente assenti.
Flashback on
- Agora acho que você deve sentar bonitinha para comer comigo - pediu quando terminei de servi-lo.
- Não quero - neguei com nojo.
- Não precisa querer. Eu estou dizendo para sentar então você vai sentar e vai comer comigo - disse como se estivesse falando com uma criança - Como um casal feliz - completou.
Não fui capaz de conter a risada irônica que escapou por meus lábios e aquilo pareceu irritá-lo.
- Ou você senta nessa maldita cadeira e come essa maldita comida ou...
- Ou o que, Louis? - perguntei nervosa, sem pensar nas consequências - Não somos um casal feliz e eu me recuso a fingir tal absurdo.
Seu rosto que antes sustentava uma máscara de calmaria se fechou e quando me dei conta já estava sendo puxada de forma violenta.
- Você não tem escolha - disse entredentes me forçando a sentar à sua frente - Ou come ou come! - completou enchendo o garfo com os ovos mexidos, que havia me obrigado a preparar, para em seguida levá-lo de forma nada delicada até minha boca.
- Eu odeio você - disse com a boca cheia fazendo com que ele risse - Odeio com todas as minhas forças - me desfiz de seu aperto e antes que pudesse pensar cuspi todo o ovo em seu rosto.
O riso ficou preso em sua garganta e seus olhos queimaram em fúria, me indicando que eu havia passado dos limites.
- Ótimo - ele sussurrou se limpando.
Fiquei imóvel e quando o ouvi rindo fiquei ainda mais assustada.
- Então vou te dar motivos para me odiar ainda mais - acrescentou antes de levantar a mão na direção de meu rosto, fazendo com que eu fechasse os olhos, com medo.
Esperei pelo tapa, mas este não veio. Então tive uma ideia.
- BATE LOGO, LOUIS! - gritei assustando-o - Não é isso que você quer? Me bater e mostrar o quão macho e forte você é? Então faz isso! - continuei - Mas saiba que isso nunca não vai ser entendido como amor. Isso não te faz mais forte e muito menos meu dono. Isso te faz um lixo. Um lixo que eu nunca imaginei que você fosse capaz de se tornar - cuspi com desdém - Eu tenho pena de você.
Aquelas palavras pareceram afetá-lo, mas pela primeira vez eu queria realmente provocá-lo. Eu queria incita-lo a me levar para aquele quarto imundo, e seria até mesmo capaz de suportar o que sabia que aconteceria lá se o plano que acabara de surgir em minha mente desse certo.
Eu teria que tentar e, diante da situação que havia criado, minha passagem para o inferno já estava garantida.
Seu olhar dizia tudo.
Flashback off
Suspirei cansada sabendo que sua crise violenta havia chegado ao fim e esperei.
- Então estamos entendidos? - ele perguntou doce.
Murmurei um "sim" abafado e me recompus. Me levantei devagar do chão, testando minha pernas, limpei o sangue que escorria da minha boca, sequei as lágrimas e caminhei até a pequena cama, onde me sentei e esperei.
Louis me observou por alguns minutos e quando fez menção de se retirar, o chamei.
- Amor? - tentei, fazendo com que ele se virasse surpreso - Não me deixa aqui sozinha - pedi fraquinho, tentando manter minha voz o mais frágil possível.
- Como é? - ele perguntou curioso, caminhando até mim.
- Por favor, amor, não me deixa sozinha - pedi mais uma vez.
Aquelas palavras me cortavam por dentro e chama-lo daquela forma me fazia ainda mais mal, porém reuni todas as minhas forças para não demonstrar o que realmente sentia.
- Você quer ficar comigo? - ele perguntou com os olhos brilhando.
- Sim, me leva com você - respondi encarando-o, que esperava com um sorriso satisfeito no rosto.
- Promete se comportar? - perguntou estranhamente doce.
- Prometo - disse cruzando os dedos atrás das costas.
- Então vem, minha pequena - chamou estendendo a mão, que logo tratei de segurar.
Fizemos o caminho em silencio, mas a todo momento eu notava os olhos de Louis em mim. Sua forma louca e apaixonada de me olhar me dava calafrios, mas fingi não perceber ou me importar.
Saímos do celeiro em silencio e olhei atentamente em volta. As árvores que nos cercavam eram altas e cheias, dificultando a visão por além delas e consequentemente dificultando minha tentativa de localização.
Meu peito batia acelerado enquanto eu caminhava, o mais vagarosamente possível, em direção a pequena casa e e minhas mãos suavam.
- Fico feliz por ter vindo comigo - ele disse de repente e o olhei.
- Eu também - respondi por fim e o vi me puxando para perto de si.
Pensei em recusar seu gesto, mas me contive, por medo de fazê-lo mudar de ideia.
Vê-lo daquela forma, por um momento me lembrou do modo tranquilo e protetor com o qual ele me abraçava quando caminhávamos despreocupados pelo parque, mas então esse pensamente logo se dissipou, fazendo com que meu peito se apertasse ainda mais pela lembrança feliz que ele havia arruinado.
Caminhamos até a porta e então eu vi, não muito longe, a estrada pela qual havia chegado até ali.
Meu coração bateu ainda mais forte dentro do peito e respirei fundo para me acalmar.
- Lar doce lar - ele cantarolou tirando a chave do bolso, fazendo com que minha visão se prendesse a ela.
A porta foi destrancada, aberta e rapidamente fechada.
Desviei o olhar, mas percebi quando Louis guardou discretamente a chave no bolso do casaco assim que entramos.
- O que podemos fazer? - ele perguntou estranhamente empolgado.
- Temos televisão? - perguntei hesitante, me referindo a casa como se fosse minha. Como se fosse nossa.
- Sim - respondeu feliz - Podemos ver um filme - sugeriu.
- Claro.
Louis pegou mais uma vez em minha mão e me guiou até a sala.
- Pode se sentar - indicou o sofá - Acho que você vai gostar do filme que vamos assistir - disse feliz indo em direção a uma estante.
- Qual? - perguntei sem prestar atenção nele.
- Os incríveis - respondeu animado, voltando a me olhar.
Forcei um sorriso e ele assentiu satisfeito.
O filme foi colocado e logo em seguida ele correu para se sentar ao meu lado.
- Olha só - disse feliz - Era isso o que eu queria mais cedo: fazer uma coisa que pessoas apaixonadas fazem - explicou - É difícil de entender? - perguntou quase chateado.
- Não, meu amor - forcei a voz para sair normal - Me perdoa.
- Tudo bem - respondeu tranquilo.
O filme começou e Louis se ajeitou ao meu lado, antes de me puxar para seus braços e começar a fazer carinho em meus cabelos.
Prendi a respiração e esperei. Os minutos pareciam se arrastar e a cada momento eu me sentia mais nervosa.
Eu precisava tentar.
Levantei minha cabeça, que até aquele momento encontrava-se encostada em seu peito e o fitei de perto. Seu lindo rosto continuava igual. Os lábios rosados que o enfeitavam quando sorria e os olhos azuis e brilhantes. Tudo como sempre havia sido. Apenas uma coisa havia mudado: aquele não era o meu Louis.
Esperei que ele notasse que eu o observava e toquei seu rosto de leve, puxando-o para mim.
- (S/N) - ele quase gemeu quando percebeu o que eu estava prestes a fazer.
Acariciei seu rosto da forma mais delicada possível e toquei nossos lábios de leve antes e de me afastar.
- Posso? - pedi, como se meu maior desejo fosse demonstrar meu amor.
Ele assentiu com os olhos em brasa e o beijei novamente, desta vez com mais vontade. Nossos lábios começaram a se mover de forma lenta e sincronizada enquanto nossas línguas se tocavam de forma sedenta. A medida que o beijo se intensificava eu me esforçava mais e mais para fingir que aquele era meu maior desejo.
Senti suas mãos puxando minha cintura e deixei que ele me guiasse até seu colo.
Puxei seus cabelos e desci minhas mãos por seu pescoço. Tracei o desenho de seus braços fortes e em seguida de seu peito firme, enquanto ele fazia o mesmo com meu corpo, porém sem nenhum pudor.
Adentrei minhas mãos por seu casaco e em seguida por sua blusa, para arranhar de leve sua barriga.
- (S/N) - ele gemeu contra os meus lábios quando partimos o beijo, para tomar folego, e logo em seguida voltou a me beijar com mais vontade.
Eu já era capaz de sentir sua excitação crescendo sob meu corpo e aquilo me fez sentir um calafrio.
Fechei meus olhos com mais força e voltei a percorrer seu corpo com minhas mãos tremulas.
Eu estava fazendo aquilo com apenas uma finalidade e precisava ser rápida.
Eu queria a chave.
Eu queria minha liberdade.
Ouvi Louis gemendo mais uma vez e aprofundei ainda mais o beijo antes de rebolar com vontade em seu colo, no mesmo instante em que meus dedos tocaram a chave em seu bolso.
Suas mãos foram até meu quadril e ele o apertou com vontade, sem nem ao menos perceber o objeto que havia sido roubado. Levei uma das minhas mãos até seu cabelo e desci a mão com a chave até o sofá, onde a escondi perto do encosto.
- Vamos para o quarto? - pedi sem folego e ele assentiu.
Seus olhos queimavam e sua respiração saía entrecortada a medida em que caminhávamos aos tropeços até o cômodo.
Entramos no quarto claro e ele me olhou com desejo.
- Espera só um pouquinho? - ele pediu e o beijei.
- O tempo que precisar - respondi e então ele caminhou até o banheiro e fechou a porta.
Naquele momento foi como se tudo ao meu redor perdesse o foco. A adrenalina que corria por minhas veias me incapacitavam de pensar com clareza.
Pegar a chave havia sido apenas um passo, mas ser deixada sozinha estava fora dos meus planos.
Algo conspirava a meu favor e eu agarraria aquela chance.
Olhei em volta com o coração na mão e corri em silencio para fora do quarto. Passei pela sala e procurei pela chave que havia escondido no sofá. A encontrei com as mãos trêmulas e quando caminhei em direção a saída algo me chamou a atenção.
Um celular.