Eu observava o céu noturno cheio de estrelas enquanto a brisa suave bagunçava meus cabelos.
- No que está pensando? - Louis perguntou rompendo o silencio e me virei para o encarar.
- No quanto eu te amo - respondi e o sorriso que estava em seu rosto apenas se alargou.
- E quanto você me ama? - ele perguntou apertando ainda mais seus braços ao meu redor.
- Hmm - cerrei os olhos e fingi pensar - Bem pouquinho - respondi por fim e ele fechou a cara - Mentira - acrescentei rindo e beijei a ponta do seu nariz.
- Então quanto, mocinha? - ele perguntou fazendo bico e voltei a sorrir bobamente. Ele era tão lindo!
- Você já contou as estrelas do céu? - perguntei e observei seu rosto em uma expressão pensativa.
- Não, amor, mas... - ele olhou para cima e continuei a fita-lo - É incontável - ele disse após alguns segundos e assenti.
- Exatamente - concordei e ele me observou confuso - É igual o amor que sinto por você. É incontável.
O sorriso que se abriu em seus lábios foi radiante e imediatamente me senti aquecida por dentro.
- Você é perfeita - ele sussurrou puxando meu rosto em direção ao seu - Eu te amo tanto - ele disse com os lábios quase colados aos meus e rompi a distância entre nós.
Seus lábios, macios e doces, acolheram os meus apaixonadamente e senti, naquele momento, como se mais nada no mundo pudesse superar nosso amor. Senti como se ali, em seus braços, fosse meu abrigo, meu lugar seguro, e que enquanto eu estivesse ao seu lado nada no mundo pudesse me atingir.
Apertei ainda mais minhas mãos em seus cabelos e deixei que o momento me dominasse por completo, enquanto meu peito ameaçava explodir de tanta alegria, somente pelo fato de ser sua.
(...)
- Bom dia, flor do dia - ouvi a voz, tão conhecida, cantarolando e imediatamente abri meus olhos.
Me sentei de forma desengonçada na cama e olhei em volta, completamente perdida.
- Não acredito que você ainda faz essa carinha quando acorda - Louis disse com a voz estranhamente afetada e cerrei os olhos, para analisa-lo, quando finalmente o encontrei.
Ele me observava de longe e vê-lo finalmente fez com que eu recuperasse a consciência de onde realmente estava.
Não era um sonho bom, não era uma memória doce e muito menos uma manhã chuvosa na qual eu estava sendo acordada de forma preguiçosa por meu namorado. Era o mundo real, no qual eu estava da pior forma possível, sendo torturada por alguém que um dia havia amado com todas as minhas forças.
- Vamos lá, (S/N), diga bom dia - ele pediu caminhando até mim - Você sabe como acordo bem humorado.
Engoli em seco ao sentir o perfume conhecido que ele usava e me encolhi sobre o colchão fino.
- Meu Deus, você está péssima - ele disse ao me analisar - Olhe só essas roupas - resmungou puxando a manga da minha blusa - E esse cabelo? - perguntou indignado, puxando com força os fios - Você está nojenta.
Ele soltou meus cabelos e puxou meu braço com força, fazendo com que eu ficasse em pé e caminhasse aos tropeços atrás dele.
Arregalei os olhos quando o vi abrindo a porta para em seguida me puxar para fora do quarto. O lado de fora era bem iluminado, porém se estendia apenas em um grande corredor, no qual se podia ver em sua outra extremidade apenas uma escada.
- Onde vamos? - perguntei sentindo minha garganta arranhando.
- Ah, então agora resolveu falar? - ele parou para me analisar e prendi a respiração devido a intensidade de seu olhar. Eu estava com tanto medo.
- E-eu - gaguejei e ele rolou os olhos.
- Ah, tudo bem - bufou exasperado e me soltou - Estou te levando pra cima, ok? Você já viu o estado em que está? - neguei rapidamente e ele sorriu sem mostrar os dentes - Pois é, está horrível! - ele concluiu horrorizado e apenas abaixei a cabeça.
Será que ele tinha consciência que meu estado era consequência de suas ações?
O ouvi respirando pesadamente e em seguida o senti me puxando novamente.
Eu fitava meus pés descalços em contato com o chão frio apenas para não ter que encara-lo novamente, mas a cada segundo que se passava eu me sentia mais angustiada.
Subimos rapidamente as escada e chegamos a um alçapão.
- Vou subir aí você vem - ele disse rompendo o silencio e assenti.
Ele o abriu e subiu rapidamente indicando para que em seguida eu fizesse o mesmo. Segui seus movimentos e quando finalmente atingi o outro andar me encontrei completamente perdida.
Onde eu estava?
O lugar ao meu redor, em um primeiro momento, se assemelhou a uma cabana abandonada, mas quando o observei mais atentamente me dei conta de se tratava de um celeiro.
Havia feno por todos os lados e grandes pilhas se estendiam ao redor das paredes, cobrindo toda superfície visível.
Ouvi um barulho alto e olhei para Louis a tempo de vê-lo fechando o alçapão, para em seguida voltar a me puxar.
Caminhei atrás dele e quando finalmente atingimos a porta ele parou para me olhar novamente.
- Se você tentar alguma coisa... - ele repreendeu e assenti fracamente antes que ele completasse a frase.
Quando a porta finalmente foi aberta o sol invadiu minha visão e a brisa fresca banhou meu rosto de forma preguiçosa.
Se estivesse sozinha teria aproveitado aquela sensação de liberdade, mas rapidamente Louis me segurou com mais força e começou a caminhar em direção a uma cabana afastada.
A medida que nos aproximávamos da mesma eu percebia o quão perdida eu estava. O local era cercado por árvores altas e extremamente isolado de qualquer coisa. Como eu sairia dali?
Respirei profundamente sentindo meu peito se apertando e engoli em seco quando percebi que já havíamos chegado a pequena casa de madeira.
- O que vamos fazer? - perguntei quando entramos e Louis finalmente me soltou.
Esperei por sua resposta, mas quando percebi que ela não viria me ocupei em analisar o lugar.
A cabana era pequena, mas confortável, e estávamos no que parecia uma pequena sala, mobiliada de forma rústica e discreta, de onde se era possível ver apenas mais duas portas. Uma que deveria dar em uma cozinha e outra que deveria levar até um quarto, ou algo do tipo.
Não me surpreendi quando Louis me puxou mais uma vez em direção a uma das portas e muito menos quando me vi em um quarto enorme.
Deixei que ele me guiasse através do cômodo e finalmente chegamos ao local pelo qual ele tanto ansiava. Um banheiro.
- Pode tirar a roupa - ele disse direto e o olhei confusa - Vamos, você precisa tomar banho.
Agarrei a barra da camiseta que usava, mas não consegui fazer o que ele pedia.
Eu não queria ficar daquela forma na sua frente. Não queria que ele me visse e muito menos que me tocasse.
- Tira logo essa merda - ele disse nervoso vindo em minha direção e recuei.
Louis respirou profundamente e então me virei de costas para o mesmo, sabendo que se não tirasse, ele tiraria a força.
Fechei meus olhos e tirei a blusa devagar.
- Que frescura, (S/N), como se eu nunca tivesse visto nada - ele debochou e senti suas mãos em mim.
Ele me virou de frente para ele e bruscamente tirou minha calça e calcinha de uma vez.
Me encolhi a sua frente e ele me puxou pelo braço em direção ao chuveiro. A água gelada molhou meu corpo e me encolhi ainda mais. Por que ele tinha que fazer isso?
Deixei que a água gelada me lavasse e tentei ignorar o fato de que eram as mãos de Louis que percorriam meu corpo. Tentei ignorar seus suspiros pesados e tentei afastar com todas as minhas forças os pensamentos tortuosos que preenchiam minha mente.
- Eu só não quero que você fique desse jeito - Louis disse tão baixinho que duvidei se ele realmente estava falando comigo.
Eu só queria acordar daquele pesadelo e esquecer tudo aquilo.
- Pronto - ele disse quando terminou e senti uma toalha envolvendo meu corpo.
Deixei que ele me guiasse para fora do banheiro e deixei que me sentasse na cama para me vestir, como se eu fosse uma boneca.
- Agora sim - ele disse após pentear meus cabelos e suspirei pesadamente enquanto sentia seus olhos em mim.
- Você vai me levar de volta pra lá? - perguntei baixinho e ele fez careta.
- Claro que não! Você vai ficar aqui comigo, bobinha - ele disse sorrindo e puxou minha mão, para que eu ficasse em pé.
Fui conduzida até um grande espelho e obrigada a admirar meu reflexo pálido e sem vida no espelho. Aquela pessoa não parecia eu e nada se encaixava corretamente. Eu não usaria aquele vestido de bolinhas, não pentearia meu cabelo daquela forma, não teria meu corpo coberto de hematomas e não estaria com essa aparência em um dia normal.
- Tão linda - ouvi ele sussurrando atrás de mim e me encolhi quando seus lábios gelados entraram em contato com a pele quente do meu pescoço - Tão minha - continuou e puxou meu corpo contra o seu.
- Louis... - chamei segurando suas mãos e ele encarou meus olhos através do espelho.
- O que? - ele perguntou confuso me virando de frente para ele.
- Por favor, não faz isso - pedi olhando para baixo e ele puxou meu rosto.
- Se fosse o Liam você não estaria com essa frescura, não é? - ele disse ríspido e vi seus olhos queimando de ódio.
- Liam?
- Liam, Liam, Liam - ele cantarolou imitando minha voz - Você pensa que sou idiota? Acha que não sei que nosso namoro só acabou por culpa daquele babaca?
- Do que você está falando? - perguntei assustada e ele riu sem humor, se afastando de mim.
- Você me traiu com ele não traiu?
- Eu nunca te traí - respondi rapidamente com medo de seu estado.
- Não precisa mentir, (S/N). Não sou idiota - ele disse arrumando os cabelos.
- Não é mentira - acrescentei - O culpado do fim do nosso relacionamento não foi ele.
- E quem foi? - perguntou com um sorrisinho afetado.
- Você.
Sua expressão que antes beirava a divertida mudou completamente e quando me dei conta já estava no chão, sentindo meu rosto queimar. Levei a mão até o local do tapa e fechei os olhos devido a dor, física e emocional, a qual estava sujeita.
- Você não pode culpar a mim por seus erros, (S/N) - ele disse me puxando pelos cabelos - Você não pode dizer isso, porque eu sempre te amei e quem ama nunca está errado. Nunca. Entendeu? Então a culpa não foi minha. A culpa foi sua, por não saber me amar da mesma forma. E a culpa é sua por eu ter que te trazer pra esse lugar.
Assenti sentindo as lágrimas brotando dos meus olhos e tentei controlar os tremores que percorriam meu corpo.
- Me perdoa, Louis - disse sem forças e ele me encarou por vários segundos.
- Viu o que você faz? - ele perguntou acariciando meu rosto, mudando completamente de humor - Me faz fazer coisas ruins com você - ele disse me puxando para si e apenas deixei que ele me envolvesse em um abraço estranho - Vem aqui - ele chamou enquanto me dirigia até a cama e apenas segui seus passos.
Louis era louco e não fazia a mínima ideia do quanto aquilo me machucava, não fazia a mínima ideia de que eu não era uma bonequinha que podia ser pisoteada e depois confortada.
Deixei que ele me deitasse em sua cama e prendi a respiração quando ele me abraçou por trás e começou a cantar a música que costumava ser nossa em meu ouvido.
As lágrimas escorriam sem cessar por meu rosto e a dor que inundava meu peito ameaçava explodir. Afinal eu não queria aquilo. Eu estava assustada e machucada e só queria poder ir pra casa.
- Eu te amo - ele sussurrou baixinho e senti tudo que ainda se mantinha inteiro em meu interior ruindo.
Afinal aquilo não era amor. Aquilo não era perfeito e nem o conto de fadas pelo qual eu havia um dia esperado em viver ao seu lado. Aquilo estava me destruindo aos poucos e enquanto eu estivesse com ele nada ficaria bem. Eu perderia minha essência, se continuasse ao seu lado e nunca mais recuperaria minha sanidade. Portando eu só via uma saída.
Eu precisava fugir. E precisava fazer isso logo.