Desolada.
Seria essa a palavra que me descreveria naquele momento?
Respirei fundo, sentindo a dor se apossando de cada terminação do meu corpo, e me obriguei a abrir os olhos. A pouca luz que preenchia o ambiente era o suficiente para eu pudesse ver Liam de cabeça baixa a apenas alguns metros de mim.
Não seria possível que a dor tomasse conta apenas de mim?
Passei a mão pelo meu corpo e foi como se novamente eu sentisse Louis me tocando. A repulsa e o nojo que tomaram conta do meu ser não podiam ser maiores, e o medo e a dor, que haviam se tornado minhas companheiras nesses dias terríveis, me acolheram mais uma vez.
Afastei a fraqueza e a fragilidade que ameaçaram me derrubar mais uma vez e arrumei as roupas que me sobravam.
- (s/n)?
O sussurro baixo que quebrou o silencio foi suficiente para gelar minha espinha, porém não era a voz que eu tanto temia ouvir novamente, era Liam.
Apenas a forma com a qual ele havia pronunciado meu nome já me deixava angustiada. Os sentimentos que transpareciam naquela simples palavra eram o suficiente pra me deixar tonta. Dor, medo... Pena.
Respirei fundo mais uma vez e engoli o bolo que se formava em minha garganta.
- Liam - respondi fraquinho, da melhor forma possível.
- Me perdoa. Me perdoa por não conseguir fazer nada - ele dizia rápido, fazendo com que meu coração disparasse - Me perdoa por deixar esse nojento tocar em você dessa forma.
Senti as lágrimas correndo por meu rosto, mas as ignorei e fui até Liam.
- A culpa não é sua - sussurrei pegando seu rosto - Não faça isso comigo. Não faça isso consigo - vê-lo chorando era terrível e só me fazia sentir mais raiva de mim. De Louis - Nós vamos sair daqui, Liam - acrescentei - Nós vamos! - afirmei mais para mim do que para ele.
Olhei em volta, procurando alguma forma de desamarra-lo, e me dei conta de que as correntes que o prendiam estavam ligadas a um outro suporte, que diga-se de passagem não me parecia tão firme.
- Liam, vamos fazer força pra baixo, ok? - sugeri, sentindo um misto de confiança e ansiedade tomando conta de mim.
Liam pareceu entender meu plano, quando olhou na mesma direção que eu, e começou a fazer força. Depois de alguns minutos de muito tentar, nossos ouvidos foram preenchidos por barulhos da algo sendo rompido, e de ferro enferrujado sendo quebrado, que conseguiram tirar um sorriso fraco, tanto dos meus, quanto dos lábios de Liam.
Por um momento pude ver seus olhos brilhando, quando enfim se viu livre.
- Precisamos sair daqui - ele disse por fim, enquanto massageava os pulsos doloridos.
Concordei com um leve aceno de cabeça e caminhei de forma vacilante até a porta.
Trancada.
- Está trancada - sussurrei.
- Então vamos ter que esperar que ele venha até nós - ele disse de forma sombria.
Teríamos que esperar Louis. Teríamos que enfrentá-lo se quiséssemos escapar.
Aquilo me arrepiou e congelei com a mão na maçaneta.
- Eu só quero sair daqui - disse baixinho, temendo que mais lágrimas rolassem por meus olhos.
- Nós vamos - respondeu e pude perceber que estava a poucos centímetros de mim.
Suas mãos fortes me viraram com cuidado e quando percebi já estava sendo amparada por um abraço quente e reconfortante. Já estava sendo protegida e cuidada por Liam, da forma como ele sempre fazia quando eu sentia medo.
Seus braços me envolviam e tomavam para si minha dor, me envolviam e me acalmavam em um momento tempestuoso.
- Obrigada por ter vindo, Liam - sussurrei em seu ouvido.
- Eu sempre iria atrás de você - completou depositando um beijo em minha testa.
Fiquei ali em seus braços por todo tempo e quando pensei que a calmaria poderia tomar conta de mim, por pelo menos alguns minutos, ouvi um barulho auto vindo do lado de fora.
Me soltei de Liam e o olhei assustada.
- Vamos ter que ser rápidos - ele disse e percebi que não tínhamos um plano.
Liam indicou o lugar que eu deveria tomar e correu a procura de algo que pudesse usar contra Louis, encontrando apenas a corrente que outra hora era utilizada para prender suas mãos. Ele a pegou e sinalizou para que eu ficasse em silencio, quando um barulho de chaves preencheu o comodo silencioso.
- Casalzinho? - Louis cantarolou ao virar a maçaneta, fazendo com que meu coração quase chegasse a boca.
A porta finalmente foi aberta, depois de uma lentidão exagerada, e então o moreno entrou no pequeno quarto. Sua expressão que inicialmente esbanjava ironia, transformou-se em confusão e em seguida em uma máscara de fúria, que fez com que meus ossos gelassem. Porém, tão rápido quanto a mudança de seu humor, Liam o imobilizou, enrolando a corrente em seu pescoço, de modo que seus lindos olhos azuis saltaram devido a surpresa e a dor, que provavelmente, o tomaram.
- Corre, (s/n) - Liam disse enquanto fazia força para manter Louis preso, que neste momento se debatia.
Mas eu estava imóvel. A cena era perturbadora e ver o rosto de Louis perdendo a cor enquanto a inconsciência o tomava era algo agonizante.
Os olhos de Louis finalmente se fecharam e seu corpo escorregou até o chão, devido a falta de oxigênio.
Continuei imóvel enquanto o observava e só consegui me por em movimento quando as mãos de Liam puxaram meu corpo em direção a saída.