• Seja Lá o Que Queira Saber

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Um... dois... três. Das quais Anahí conseguiu contar o Sol já havia mudado de posição três vezes antes de qualquer sinal de vida de Valentina próximo à onde se encontraram anteriormente.

— Aí está! - diz a loura chagando após avistar a jovem sereia na margem do rio, enquanto limpa terra de seu vestido - Pensei ter me perdido por um segundo. Aqui tudo parece igual - seu olhar se concentrou em Anahí, que a encarava com fúria nos olhos.

— Você... Invasora. Me contará a verdade, e eu saberei se estiver mentindo.

Ao primeiro momento Valentina não percebe o que esta acontecendo.
— Do que está falando? - diz a loura calmamente enquanto se sentava próxima à beira do rio.

— O que seu povo faz aqui? - Anahí disse ficando mais acima da água para parecer mais intimidadora - Por que matam dos nossos? O que vocês ganham com isso? Mais uma vez, diga- me a verdade, ou será pior para você.

A garota percebeu o olhar da sereia a sua frente. "Aparentemente não poderei demonstrar das minhas habilidades de formalidade nesta manhã" pensou Valentina.

— Quer saber a verdade? - a loura respondeu com ar de melancolia - Eu também. Não, não sei o que meu povo está fazendo aqui, não sei porque minha família veio para este lugar. Não sei nem ao menos porque estou aqui, conversando com a única criatura da qual eu não sei absolutamente nada a respeito - ela se encolheu e abraçou as pernas - Seja lá o que queira saber... Acho que está perguntando para a pessoa errada, porque eu não sei de nada mesmo.

Anahí sentiu um arrepio percorrendo seu corpo. De trás da garota saíram um grupo de formigas que rodaram repetidamente em lentos círculos indicando para a sereia que o que foi dito pela terrestre havia sido verdade assim como a morena solicitara, em seguida desaparecem na terra.

Anahí olha bem no fundo dos olhos agora distantes de Valentina, e enfim, compreende o que a garota estava tentando dizer.

- Você está solitária - a sereia fala sem tirar os olhos da terrestre.

- É... - ela olha para Anahí com tristeza- Acho que sim.

- E.. ninguém sabe que você vem aqui?

- Não. Todos da minha família tem preocupações mais importantes; minha irmã, casa trabalho... acho que ninguém se importa com o que eu faço, onde estou, ou com quem converso, pode ficar tranquila.

Anahí respira fundo, desejando que não estivesse cometendo um erro gigante.

- Ontem minha irmã Iúna foi morta por... pelo seu povo. Pensei que você teria as respostas do porque a atacaram e ela teve de dar a própria vida... Eu estava enganada. Se conta de alguma coisa, você parece bem diferente do que me falaram sobre eles.

- De quem?

- Dos outros como você. Eles viram minha irmã, e no mesmo instante... e...- ela decide não falar aquilo em voz alta novamente- Mas você veio aqui dias seguidos, apenas para ter curtas conversas comigo. Só estou dizendo que... não é o tipo de coisa que um monstro assassino faria.

Valentina desdobra as pernas. As mechas cacheadas de seus cabelos caem levemente sobre os ombros, quando ela lhe dá uma resposta que Anahí não esperava ouvir.

- Obrigada- uma lágrima escorre pela pele rosada da jovem, talvez ela estivesse chorando antes, mas Anahí só se deu conta neste momento- Eu, as vezes... sabe, me sinto tão... tão diferente do todos eles. Mas não posso falar disso para ninguém, e isso faz eu me sentir como se estivesse ficando louca.

Anahí pôs sua mão sobre a de Valentina, cujo os olhos brilham ao receber o gesto.

- Pode falar comigo. Posso ser sua... amiga... se você quiser.

Valentina, em um gesto rápido, entrelaça seus dedos nos de Anahí e segura sua mão com força e delicadeza enquanto a responde sorrindo.

- Certo... amigas.


- Seu cabelo é tão longo, quanto ele mede? - perguntou Valentina caminhando de braços abertos na beira do rio, seguida por Anahí que a acompanhava na água.

- Eu não sei - respondeu a sereia - É quase do tamanho da minha cauda.

- E a sua cauda? Eu reparei nela...- sua pele fica um pouco vermelha ao dizer isso-  err... quero dizer... as vezes parece azul, mas as vezes parece verde, qual a cor certa? E por que ela é tão, tão comprida? Isso ajuda você a nadar mais rápido?

- Humm acho que ela é um pouco das duas cores. E sim, com certeza o tamanho ajuda.

- Toda a sua família tem a cauda dessas cores? Todos da minha família tem ia cabelos louros, acho que por isso eu tenho também.

- Acho que é diferente com as nossas caudas. A de Mawé é quase toda um verde vivo, e a de Aiyra parece uma mistura de roxo com preto, mas nós somos todas um pouco parecidas no resto.

- Pelo que você fala só tem garotas na sua família.

- Sim, são minhas irmãs...- ela pareceu sentir cautela ao dizer, provavelmente por medo de ser julgada pela garota que vinha de uma convivência completamente distinta da dela.

- Minha família parece diferente da sua. Eu tenho meu pai, minha irmã Isabel,  e minha mãe. As vezes parece que tudo gira em torno da minha irmã, e eu sempre fico de fora.

Anahí percebe a garota ficar triste, e tenta consola-la falando de uma situação em que também se sente um pouco como ela.

- As vezes, Mawé está tão ocupada com o que ela quer e o que ela acha importante, que acho que ela não liga de verdade para o que eu penso.

Valentina a observou nadando graciosamente com o canto do olho.
- Sei como é.

                                          ☼

Antes que se dessem conta, as garotas haviam passado o dia inteiro conversando, e Anahí precisava voltar para casa. Valentina aparentou ficar triste ao saber que a amiga precisava partir. Se soubesse ler o que os olhos dizem, diria que os de Valentina queriam poder observar a morena sereia até não conseguirem mais.

ENTRE O CÉU E ÁGUAS ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora