𝙲𝙰𝙿Í𝚃𝚄𝙻𝙾 𝟶𝟷

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  Desde pequena moro em uma cidadezinha situada no interior da Itália. Sempre me encantei com as pequenas dádivas que a vida me oferece. Servi toda a minha vida em prol da igreja, mantendo-me sempre nos caminhos do Senhor e indo à missa todos os domingos com muita dedicação e apreço.

  Desde criança, encantei-me com o catolicismo, desde as janelas que contavam histórias em seus mosaicos cintilantes até a sensação de estar na presença de Deus e adorá-Lo como meu único e suficiente Salvador.

  Meus pais morreram quando eu era apenas uma pré-adolescente. Muitos jovens teriam se revoltado contra Deus e colocado a culpa no "Todo Poderoso", mas... eu penso diferente. Vejo abrigo nos braços de Deus e sinto-me acolhida pela igreja durante momentos de aflição e sofrimento.

  O padre Mordred sempre me ajudou, desde o início, me tratado como se fosse de sua família de sangue, cuidando de mim até mesmo depois de atingir meus 18 anos. Durante este tempo com ele, eu aprendi os mandamentos do catolicismo e encantei-me com cada coisa relacionada ao assunto.



[...]



  No final da missa de domingo, fui até o Padre Mordred falar sobre algo que eu estava planejando há algum tempo.

    — Padre? Tem um tempinho para conversarmos? — disse tímida, mas um pouco ansiosa.

Ele se virou para mim com um sorriso amigável estampado no rosto.

    — Claro minha jovem, me siga por favor.

  O acompanhei até a sala dele para termos um pouco mais de privacidade durante a conversa.

    —Diga-me, Aurora. O que a preocupa? — Ele notou o olhar ansioso que eu demonstrava e se manteve calmo, com intuito visivelmente perceptível de me acalmar, sentando-se numa poltrona veludo vermelha ao meu lado.

    —A palavra que foi ministrada esta noite, me mostrou qual caminho seguir na minha vida... o senhor sabe o quanto me dedico à minha fé. Meu sonho sempre foi fazer parte disso, entregando-me de corpo e alma.

  Ele permaneceu em silêncio, ouvindo-me atentamente, com curiosidade no olhar.

    —Pensei durante semanas sobre isso... sinto que farei a melhor escolha da minha vida. O que eu quero dizer é... — As palavras em minha boca saiam tremulas e quase inaudíveis. Finalmente com um pingo de coragem que me restava eu resolvo jogar as cartas a mesa — Padre, eu quero virar freira. — Falei com firmeza e sem hesitar por aproximadamente 3 segundos tortuosos, esperando a reação do padre ansiosamente, sem saber o que poderia acontecer.

  Talvez, para o padre Mordred, parecia um pouco ansiosa e impulsiva nas decisões que tomava em minha vida. Como ele me criou praticamente por metade da minha existência, sabia que poderia ser um pouco severo para assegurar que eu permanecesse com os pés no chão. Apesar de eu considerar minha escolha extremamente positiva, estava ciente de que ele talvez achasse que era cedo demais para uma decisão tão importante que poderia virar minha rotina de cabeça para baixo.

    — Mas, esta é uma notícia ótima! Estou muito feliz por sua decisão de contribuir com a vontade de Deus. — Ele sorriu com uma felicidade genuína no olhar, por saber que eu estava nos caminhos certos e gostava do rumo o qual a vida me levava. — E quando pretende iniciar o processo?

  Meu semblante a partir daquele momento se mostrava mais aliviado com a aprovação dele. As palavras do padre me acalmaram naquele momento.

    — Provavelmente... em algumas semanas. Mas estou ansiosa para começar esta nova jornada.



[...]



  A conversa prolongou-se até o anoitecer. Ao sair dali, somente a luz do luar iluminava o céu. As ruas vazias e calmas traziam conforto à noite fria, revelando meus devaneios mais profundos em minha mente. Eu estava cansada, quase dormindo, enquanto abria a porta de casa, agindo por instinto em qualquer ação cotidiana que realizava, já que poderia dormir em pé em questão de segundos.

  Preparei um banho de água quente na banheira coberta de espuma. Fechei os olhos, sentindo-me confortável e tranquila naquele momento de profunda autorreflexão. Não apenas pelo fato de estar relaxando na banheira, mas também por finalmente conquistar a aprovação de Mordred. Eu o considerava quase como um irmão mais velho, e isso foi verdadeiramente significativo para mim.

  A água quente envolvendo-me durante aquele momento. O vapor tocando meu rosto suavemente e meus cabelos molhados tornavam o momento ainda mais calmante e prazeroso.

  Durante a tranquilidade daquele momento, uma sensação estranha tomou conta do meu corpo, mantendo os olhos fechados. Era como se algum instinto de sobrevivência estivesse me alertando sobre um mau presságio. Senti os pelos dos meus braços arrepiarem, uma sensação estranha de ser observada tomou conta de mim. O silêncio era tão intenso que conseguia ouvir meus próprios batimentos cardíacos e minha respiração profunda tornando-se instável à medida que a sensação de perigo aumentava, e o suposto sentimento de ser observada no meu momento mais vulnerável era a parte mais inquietante.

  Tentei ignorar a sensação e manter meus olhos fechados, na tentativa falha de me convencer que era algo da minha imaginação e que eu estava completamente segura.





𝓒𝓱𝓸𝓸𝓼𝓮 𝓶𝓮 𝓯𝓸𝓻𝓮𝓿𝓮𝓻, 𝓓𝓪𝓻𝓵𝓲𝓷𝓰Onde histórias criam vida. Descubra agora