𝙲𝙰𝙿Í𝚃𝚄𝙻𝙾 𝟶𝟼

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  Abro o guarda-roupa de Alice e me deparo apenas com retalhos de tecido, ou, como ela gosta de chamar, roupas. Sério, como ela consegue se sentir confortável usando essas peças que mal cobrem metade do corpo? Se algum dia precisasse levá-la à igreja, duvido que encontraria algo apropriado.

  Opto por um vestido preto de lantejoulas. A parte boa é que ele cobre pelo menos metade das minhas coxas, mas a parte ruim... um decote que parece chegar até a barra do meu sutiã. Detalhes de correntes douradas contornam o formato dos meus seios.

  Após o banho, visto o vestido e escuto a campainha tocar. No quarto, o interfone oferece a possibilidade de interagir com quem está do lado de fora, incluindo um botão para abrir a porta, caso necessário. Atendo o interfone e pergunto quem é.

    — Aurora? — a voz do homem soa familiar, mas talvez seja apenas a necessidade de consertar o interfone que temos ignorado.


  Embora minha vontade seja responder "infelizmente", opto pela educação.


    — A porta está aberta. Aguarde na sala e não toque em absolutamente nada. Estou terminando de me arrumar e daqui alguns minutos eu desço. — Desligo e aciono o botão para abri-la. Talvez minha resposta tenha parecido um pouco ríspida, mas não estou com ânimo para formalidades. afinal, meu desejo é seguir a vocação religiosa.


  Aplico maquiagem de forma rápida e básica, calço um par de saltos altos da Alice, mesmo estranhando as letras no lugar do salto, acho que eram sapatos de marca, ou algo assim. Descendo as escadas, percebo a casa excepcionalmente silenciosa. Durante o trajeto, noto um cheiro familiar de cigarro com perfume masculino. Ao chegar à sala, deparo-me com Pietro. Certamente deve ser um engano. Não pode ser ele, mas sua imagem de camisa social branca, calça social e sapatos polidos sugere o contrário. Seus cabelos estão levemente ondulados e arrumados. Arregalo os olhos com frustração. Não esperava que minha noite pudesse piorar.

    — Pietro! O que diabos você está fazendo na minha casa? — pergunto, perplexa.

  Olho para a mão dele, e era certo após me aproximar, que ele havia pegado a tequila que estava na geladeira, para beber, supondo que Alice havia deixado lá para emergências. 

  Sinceramente, a culpa foi minha por deixar um estranho sozinho na minha casa sem supervisão, ainda mais porque eu era uma mulher e estava sozinha em casa.

    — Eu acho que tinha deixado especificamente claro, que era para você ficar quieto no sofá enquanto eu me arrumava. — Pego o copo da mão dele, colocando sobre a mesa de centro. —Costuma ir bêbado para os seus encontros? — Indago zangada.

  Enquanto eu falava com ele enfurecida, percebo que ele me olha de cima a baixo, os olhos dele não paravam de me fitar por completo. O cheiro dele, inundava aquela sala de modo imponente, marcando presença por onde passasse. O maldito sorriso de canto surge em seus lábios, quando finalmente termino minhas palavras, ele resolve me provocar. Aquilo não era novidade, porém, ele sabia perfeitamente como irritar uma mulher. Especialmente a mim.

    — Prometi a sua amiga que sairíamos, e pelo visto, você é tão insuportável, que ela teve que pagar para eu te arrastar para fora de casa. Então, vou fazer meu papel e ficar aqui, até você sair comigo. Você querendo ou não, eu vou sair com você. — Ele falou de maneira calma e provocativa, como se tivesse controle sobre mim. Aquilo com certeza me enfureceu.


    — E por algum acaso você é tão pobre assim para aceitar fazer isso por apenas 20 dólares? Eu não o julgaria por ser pobre se fosse o caso, mas te julgaria por ser tolo.

𝓒𝓱𝓸𝓸𝓼𝓮 𝓶𝓮 𝓯𝓸𝓻𝓮𝓿𝓮𝓻, 𝓓𝓪𝓻𝓵𝓲𝓷𝓰Onde histórias criam vida. Descubra agora