A sensação de ser observada aumentava, assim como meu desconforto a cada minuto. Mesmo hesitante, abri lentamente os olhos, sendo recebida por uma onda de gelo percorrendo minhas veias. Diante de mim, um homem encostava-se casualmente no batente da porta, seus olhos fixos em meu rosto, provocando uma aceleração frenética no meu coração.
Ele vestia uma jaqueta de couro preta que destacava sua figura musculosa, enquanto seus coturnos bateram de forma assertiva e sorrateira no chão. O aroma de cigarro impregnava o ar ao redor dele, criando uma atmosfera carregada de mistério. A estatura imponente e a presença intimidadora dele faziam-me sentir acuada diante daquela figura sombria, com medo do que poderia acontecer comigo naquele momento.
Seus olhos, brilhando com desejo e luxúria, lançavam um arrepio pela minha espinha, enquanto seu sorriso revelava uma malícia inegável. Tatuagens adornavam sua pele, adicionando um elemento extra de perigo e alerta no ar. O desconforto se intensificava diante este homem cuja, presença me deixava temerosa. Seus olhos, sorriso e aurea evocavam sensação de perigo e fascinação.
Meus olhos se arregalaram, tomada pelo pavor diante de um olhar faminto sobre meu corpo. Engoli em seco instantaneamente, tentando articular uma simples frase entre meus lábios, que, como esperado, saíram num sussurro fraco e trêmulo.
— Quem é você?!
— Meu nome não importa, garotinha.
A voz do homem era profunda, soltando uma risada baixa que enviou arrepios por todo o meu corpo, enquanto ele se aproximava ainda mais, sussurrando em meu ouvido.
— Digamos que sou um demônio que se deleita nos desejos mais primitivos dos seres humanos.
Minha respiração ficou ainda mais instável, desespero refletido em meus olhos. Repentinamente as palavras do padre Mordred ecoaram em minha mente, de maneira clara, "Demônios se alimentam do desespero", aquilo definitivamente foi um incentivo para que eu me tranquilizar e manter com o pé no chão, mesmo diante do momento tão confuso de medo e desejo. Desejo? Porque eu me senti assim?
Sem eu me dar conta, ainda confusa e em choque com a situação, a mão do demônio começa a deslizar por minha perna, mesmo sob a água ela era álgida, cortando a tranquilidade da água aquecida.
— E hoje. — Ele sorriu. — Não será diferente. — Seu olhar lascivo percorrendo meu corpo. Percebendo o perigo iminente, recuei, afastando-me da borda da banheira.
— Eu não vou permitir isso — Minha voz soou rígida, lutando internamente para manter a coragem.
— Calma — uma risada sarcástica escapou de seus lábios, enquanto ele retirava a mão de cima da minha coxa, a limpando e seu próprio casaco. O sorriso sarcástico dançou novamente em seus lábios, aumentando minha frustração.
— Você vai sim — sussurrou com malícia, um tom viciante dançando em suas palavras. Ele se posicionou por trás da banheira, inclinando-se para mais perto e trazendo seus lábios de maneira que quase roçassem em meu pescoço. Suas mãos repousaram em meus ombros, enquanto começou a sussurrar em tom sugestivo. — Sua mente é tão pura e doce. Seria uma pena alguém a corromper — O sarcasmo transbordava de sua voz enquanto o hálito quente das palavras dele arrepiavam minha pele, junto com uma sensação estranha de que aquilo não estava certo.
Incrédula com a audácia dele, afastei sua mão com um tapa vigoroso. A raiva visivelmente estampada em meu rosto.
O demônio, não esperando por essa reação, retirou as mãos dos meu ombro, mas ainda, se mantendo no mesmo lugar, na tentativa de me fazer ceder e agora o semblante dele se mostrava surpreso com a minha atitude.
— Você não pode invadir a casa das pessoas e forçá-las a serem suas! Eu sou católica e totalmente devota a Deus. Eu nunca me deitaria com um demônio! — Falei com firmeza e seriedade, me afastando dele.
— Seu corpo é magnífico, não permita que os ensinamentos de sua igreja neguem a ambos este prazer. — ele inclinou-se ainda mais perto, seu hálito quente roçando em meu pescoço.
Percebendo que a conversa não nos levaria a lugar algum, levantei-me da banheira, vesti um roupão rapidamente para que os longos olhares dele não pousassem em meu corpo nu outra vez. Calcei um par de chinelos e fui em direção a porta do banheiro, no intuito de sair de perto dele e continuar meus afazeres.
Rapidamente ele se põe bloqueando a passagem da saída do banheiro com sua alta estatura, me impossibilitando de sair dali.
Meu sangue bombeia ainda mais rápido com uma sensação avassaladora de medo e ansiedade me consumindo.
O demônio aproxima seu rosto próximo ao meu, de maneira que nossos narizes quase se toquem. A mão dele começa a trilhar meu pescoço onde estava descoberto pelo roupão, seguindo ate meu queixo o erguendo. Nossos olhos se encontram. O olhar frio e negro que ele me lançava me trazia sensações distintas e indescritíveis. Por um momento me senti em transe, presa a aquele olhar e a sensação que fazia eu duvidar de todos os meus princípios.
Com muita luta interna, voltei-me a realidade e o afastei da porta saindo dali, enquanto meu semblante fechava automaticamente.
— Licença, quero trocar de roupa sem ninguém me olhando e tocando — Minha voz soou autoritária, pela primeira vez em muito tempo.
Uma risada quase inaudível escapa dos lábios dele enquanto me provoca mais uma vez antes de entrar em meu quarto.
— Apenas estou interessado no que você tem por baixo das roupas, não nas roupas em si — Sua mão deslizou lentamente, desamarrando a faixa de meu roupão e...
— Abusado! — Minha voz soou irritada e baixa enquanto me dirigia para o quarto.
A sensação de ter alguém como ele por perto durante tanto tempo, me fazia ficar ainda mais assustada. Minha sorte é que eu sei esconder minhas emoções. Tive que aprender a fazer isso. Foi minha única escolha desde quando virei órfã e tive que aprender como a vida funcionava.
Enquanto colocava o pijama, sem olhar ao redor por pura distração da minha mente, eu refletia sobre como a presença do demônio se tornava como um saco de cimento em minhas costas, comecei a pensar se eu havia feito algo de errado, para uma coisa tão pecaminosa aparecer ali. Sempre fui tão temente a Deus, me dedicando a vida toda a ele por puro amor, porque ele enviaria um demônio para me seguir de maneira tão enigmática e sem razão?
Ao adentrar em meus próprios pensamentos, olhando para um ponto fixo no armário, sem prestar muita atenção ao meu redor. Abruptamente, sinto uma forte pressão fria em meu pulso e foi como se minha alma estivesse sendo puxada de meu corpo. Meu coração fica dolorido, batendo constantemente, enquanto sinto perder o ar que ainda me restava. tudo ficou um grande clarão e tudo o que eu conseguia ouvir era uma voz me chamando ao longe. Era quase impossível ver algo naquela claridade, tudo o que eu pensava naquele momento, era se eu sairia viva daquela situação.
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𝓒𝓱𝓸𝓸𝓼𝓮 𝓶𝓮 𝓯𝓸𝓻𝓮𝓿𝓮𝓻, 𝓓𝓪𝓻𝓵𝓲𝓷𝓰
RomanceA história é sobre Aurora Hammond, uma jovem moralmente correta, estudante de advocacia e ambiciosa. Desde jovem, sua meta é tornar-se freira, e o padre Mordred a ajudava constantemente, orientando-a sobre o que era correto de acordo com os ensiname...