Ao olhar para trás, na sala do júri, me deparo com Sr. Gomes, esbarrando em um homem com passos precisos e pesados ao andar. Usava coturnos grossos e grandes, mas era relativamente normal para alguém da estatura dele. Ombros largos, torneados pelo couro gasto de uma jaqueta velha de couro. Cabelos levemente bagunçados e úmidos, como se houvesse tomado banho a poucos minutos. Algo naquilo estava errado, percebi no momento em que vi que meu suposto cliente assassinado, em pé, na frente de todos, inclusive na frente do homem que quase condenei a prisão.
Arregalo meus olhos com tamanho espanto. Passou pela minha cabeça as imagens da cena do crime. Sangue e cenas sem sentido. Era para ele estar morto após ter perdido tanto sangue. Era quase impossível a probabilidade dele ser encontrado, após tanto tempo desaparecido. Não havia família, filhos, parentes ou amigos, apenas uma testemunha ocular a qual não queria se pronunciar pela própria segurança. O que foi muito estranho.
Aquilo foi algum tipo de piada? E as provas? DNA encontrados no piso da cozinha e nas roupas? Porque de repente tudo ficou tão confuso novamente?
O júri se espanta com tamanha improbabilidade ter surgido de maneira tão repentina, então começam a cochichar entre si. Os policiais, que outrora estavam levando Sr Gomes, até a delegacia, pararam no meio do corredor ainda o segurando, incrédulos.
Meu cliente esboçava sarcasmo enquanto fitava a juíza, que estava praticamente pálida de tanto espanto, tentando freneticamente expressar alguma atitude a fim de acalmar o tribunal.
— Ordem! — Ela se levanta de sua cadeira com expressão séria e curiosa. Usando o pequeno martelo de madeira para bater na mesa, chamando a atenção de todos. — Exijo, ordem no tribunal!
Todos em volta param os olhares para a juíza e se calam sentando em seus respectivos lugares.
Os policiais voltam com o acusado até o lugar onde inicialmente estava, aguardando as próximas palavras da prefeita.
Meu cliente se apoia na parede atrás dele, ainda mantendo os olhos fixos na juíza, a desafiando o questionar sobre o ocorrido.
Me mantenho incrédula, mas seguindo as normas padrões de procedimento. Eu poderia perder muito dinheiro nesse caso, se nada tiver acontecido. Agora a pergunta que não se cala em minha mente é... ele estará contra o caso, ou a favor?
Me sento em minha cadeira, ainda o olhando. Seu rosto era tão familiar, mas naquele momento seria impossível dizer se realmente o conhecia. Talvez, fosse porque já havia visto fotos do caso e algumas fotos dele apareceram em junto a papelada. Afinal, quem foi a testemunha ocular deste caso? Porque ela não queria sua identidade desvendada? Eram tantas duvidas e furos neste caso, que nem ao menos tive tempo para focar em uma só.
— Sr Pietro Checchi, poderia se sentar ao lado da sua advogada? Darei um tempo para vocês pensarem numa explicação razoável para este julgamento.
Meu coração acelera com as palavras da juíza, enquanto escuto os passos pesados e firmes se aproximando de mim. Rezo internamente para que de tudo certo e que este desespero acabe logo.
O homem se senta na cadeira ao lado da minha naquela mesa com o mesmo sorriso maldoso desde quando passou pela porta daquele tribunal. Ele passava um ar misterio a todos ali. Como um morto retorna a vida? Era realmente dele aquele sangue? E se era, como ele se recuperou tão rápido?
Aquele caso havia se tornado um dos mais confusos de toda a minha vida. Por um momento, respirei fundo e falei baixo me direcionando a ele de maneira discreta e firme.
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𝓒𝓱𝓸𝓸𝓼𝓮 𝓶𝓮 𝓯𝓸𝓻𝓮𝓿𝓮𝓻, 𝓓𝓪𝓻𝓵𝓲𝓷𝓰
RomanceA história é sobre Aurora Hammond, uma jovem moralmente correta, estudante de advocacia e ambiciosa. Desde jovem, sua meta é tornar-se freira, e o padre Mordred a ajudava constantemente, orientando-a sobre o que era correto de acordo com os ensiname...