Ao som da música italiana (Carina Leone)

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O paranormal nunca foi confiável. Você ouviu isso desde o início de sua carreira na Ordo Realitas. Todos os dias, acordando planejando um jantar ao fim de semana, sem saber se seus amigos estariam contigo até lá.

Arrumando a janta, sem saber se no dia seguinte o café da manhã contaria com menos um agente, menos um companheiro, menos um amigo.

Você foi avisade de que o paranormal não era brincadeira. Ele não tinha piedade, não apresentava sentimentos para com sua realidade e seu povo. Porém, mesmo assim, por todos aqueles anos, você nunca desistiu.

Ver Kian sendo selado foi como acalmar os gritos dentro de você. Calar as vozes de sua família que choravam junto com você à meia noite, lembrando-se das mortes, dos gritos, das dores.

Ao longo do tempo, você entendeu o Senhor Veríssimo. Você entendeu o quanto a morte pode mudar alguém, o quanto sua vida, não importa quanta maquiagem ou cimento use para tapar os buracos, nunca mais será a mesma. Jamais terá a mesma cor.

Quando viu a Leone chorar por sua família, conseguiu ter a empatia que somente quem passou por algo assim conseguiria. Você viu a dor, não externa, mas sim a que se passava em seu coração. O vazio que a consumiu, a dor no peito que não era física, não era emocional. Nenhum ser humano conseguia para-la, mas também não conseguia a explicar. A dor da alma.

- (S/N), já terminou de empacotar as coisas lá de cima? - Jiro te questionou, saindo da porta da sala de jantar com uma caixa de papelão gigante nas mãos.

Vocês estavam limpando a Mansão Leone. Como sinal de respeito, tentando deixá-la ao menos sem nenhuma evidência do paranormal. Carina por sua vez, pediu a ajuda para que algumas coisas de sua família fossem encaixotadas para que pudessem ser conservadas.

- Tudo limpo, só falta o quarto da Senhora Leone. Mas a Carina disse que queria fazer isso sozinha, logo ela desce com tudo.

- Demorou então. A galera vai sair comer um pouco já que a gente pulou o almoço. Cê cola? - Ele te perguntou, colocando o que segurava na mão de outro agente que levaria tudo ao caminhão.

Você olhou para cima nas escadas, vendo Leone descendo com duas caixas nas mãos. O semblante cansado, distante.

- Não, Jiro. Vou ficar por aqui mais um pouco, mas valeu o convite. - Sorrindo um pouco fraco, você respondeu o vendo ir embora.

Ao virar os olhos para a escada, viu a garota se aproximando. - Posso te ajudar? - Oferece, pegando uma das caixas pesadas das mãos dela.

- Obrigada. - Disse a agente, de modo curto. Não em falta de educação, você percebeu. Mas em frieza. Não para você, mas para toda aquela situação.

Respirando fundo, foi sua vez de tentar puxar um assunto. - Eu não vou dizer que sinto muito pela sua família, você já sabe disso. - Você falou e percebendo o sorriso fraco em seu rosto, notou estar no caminho certo. - Mas... Nós estamos orgulhosos de você.

- "Nós"? "Nós" quem? - Ela questiona, assim que saem da escada, colocando a caixa no chão junto com você.

- A Ordem. Eu sei que não parece grande coisa, mas é o que temos agora.

- Se a Ordem é uma família pra você, saiba que um dia ela também vai embora. - Disse, em frieza. Porém, podia se notar o mar de lágrimas se formando em seus olhos.

- Bom... Se você se preocupa em ficar sozinha... - Você se aproxima, colocando a mão em seu ombro com delicadeza para não invadir seu espaço ou deixá-la desconfortável. - Eu prometo não ir embora.

Leone te olhou, subindo o rosto em pequena surpresa. - Você não pode prometer algo que não pode cumprir.
- E quem disse que eu não posso?! Eu sou uma pessoa de palavra!

Ordem Paranormal - One ShotsOnde histórias criam vida. Descubra agora