Catálogo de memórias (Joui Jouki)

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A noite era diferente dessa vez. O clima ameno, a Ordem quieta, silenciosa. E você e Joui aproveitaram isso.

Você estava arrumando o quarto para uma noite de filmes. Era dia de relembrar velhos tempos onde nem tudo se resumia à calamidade.

O quarto estava escuro. A televisão ligada em um serviço de streaming que toda a Ordem dividia para esses momentos em que tinham tempo de serem pessoas normais novamente.

A cama em um emaranhado de lençóis e cobertores que deixavam o ambiente mais aconchegante e vocês dois vestiam seus pijamas mais confortáveis.

Normalmente essas noites envolviam Kaiser e Arthur. Porém, o primeiro infelizmente não era mais uma opção e Arthur se encontrava tão ocupado com suas responsabilidades como chefe da equipe Abutres que mesmo que algumas coisas nunca mudassem, outras eram impossíveis de permanecerem as mesmas por muito tempo.

— Me ajuda? - Você ouviu a voz do garoto na porta, indo até ele e vendo o mesmo segurando um monte de pacotes de bolachas, salgados e algumas bebidas na mão.

— Joui do céu! Pra' que tudo isso?! - Rindo, você o ajudou a levar tudo até a cama.

— Você disse que era pra' ser uma noite especial, não disse? Então eu peguei tudo que achei.

— Quando o Verissimo ou a Ivete verem que você acabou com o estoque de comida...

— Eles não vão ver. - O agente riu, sentando na cama ao seu lado.— ... Eles vão?

Foi sua vez de rir, pegando o controle da televisão. — Vamo'. Melhor escolher logo antes que você durma.

— Eu?! Você que dorme sempre que a gente começa um filme.

Você revirou os olhos, ignorando a provocação. Estava feliz de reviver a tradução de assistir a filmes juntos.
As luzes do quarto vinham apenas da claridade da televisão, criando uma atmosfera acolhedora enquanto vocês estavam a folhear as opções na tela.

Parecia que cada filme que viam, uma memória aparecia. Era impossível não lembrar das noites com Kaiser e Arthur onde o grupo todo via filmes até amanhecer. Era como folhear um catálogo de momentos e memórias.

— Que tal esse? Parece divertido! - Joui sugeriu, apontando para a capa colorida de uma comédia que parecia de fato boa.
Você concordou com um sorriso, — Perfeito! Eu amo esse.

— Você já viu? - O mesmo questionou e você confirmou com a cabeça, irritando-o. — E qual a graça de ver algo que você já viu?!

— ... Mostrar pra' você?! - Falou como se fosse óbvio, vendo-o retirar os olhos.

— Esse parece bom.

— Já vi. - Você respondeu.

— Esse também.

— Assisti semana passada.

...

— Esse parece bom.

— Então, é que esse-

O garoto te interrompeu. — Viu mês passado?!

Você riu, dando um soco em seu braço. — Esse é horrível, o Balu me falou.

— Você sabe que os gostos do Balu são meio questionáveis, não sabe?

— Eu sei, mas em questão de filme de comédia...

— Questionáveis. - Joui bateu na mesma tecla.

— Aah, quando o assunto é filme de comédia o Balu sabe o que tá' fazendo. Preocupante mesmo é a Ágatha gostar. - Você completou, causando risos no agente que abriu um pacote de salgado, oferecendo um pouco.

Vocês continuaram rolando as opções, até Joui sugerir um filme de ação que finalmente agradou ambos.

Com o filme iniciado, a comida não demorou muito para chegar ao fim e as bebidas serem abertas.

Estar com ele de novo era como um sonho. Quando seu melhor amigo se juntou às máscaras, seu mundo caiu. E agora que você o tinha na mesma cama, vendo um filme e comendo besteiras, era como nascer de novo.

Ao meio do filme, o volume começou a abaixar. O som se tornando distante, misturando-se ao barulho do pacote de bolachas na mão do garoto.

Sua cabeça pendendo para o lado, sentindo finalmente um local confortável para descansar.

Seus olhos começaram a pesar, mas você tentou resistir, querendo aproveitar ao máximo o tempo com Joui.

No entanto, eventualmente, a sonolência venceu, te fazendo adormecer suavemente com a cabeça apoiada no ombro do mesmo.

Joui via o filme, comendo a última bolacha até pegar mais um pacote. O garoto abriu, colocando em sua frente para que pegasse uma.

E quando você não teve reação ao lhe ver oferecendo sua bolacha favorita, Joui se deu conta do silêncio, olhando para você. A cabeça quase caindo do travesseiro que ele tinha colocado entre vocês para encostarem, os olhos fechados.

O garoto sorriu, retirando lentamente o travesseiro para que colocasse a cabeça em seu ombro. — S/N? Você tá' bem?. - Ele perguntou suavemente, em um tom baixo.

Você se mexeu levemente, ainda meio adormecide. — Hmm... Eu tô assistindo... Continua assistindo também... - Falou, sem ter muita noção do que dizia, sequer abrindo os olhos.

Suas pálpebras eram pesadas e Joui lhe passava a segurança de que você podia fazer isso. Era um ambiente seguro para cair no sono, embora você quisesse tanto aproveitar a companhia dele.

O mesmo riu, revirando os olhos e se aconchegando, deixando que você se aproximasse o máximo.

Enquanto o filme avançava, Jouki admirava a paz em seu rosto, por um momento, o agente percebeu seus lábios. Pareciam tão chamativos. Seus olhos fechados de modo sereno, sua mão largada em seu colo.

O ambiente era escuro. Quieto, tirando o som da televisão que o japonês fez questão de abaixar para deixar você dormir.

A cama bagunçada, o lixo no chão cheio de papéis assim como o chão em volta que continha algumas latas, já que vocês não foram tão bons assim em arremesso.

Joui respirou fundo, desviando o olhar. Não era fácil guardar isso durante todos esses anos até o presente. Vocês estavam em um contexto que em qualquer manhã, poderiam acordar sem o outro e Joui sabia que a Ordem não era local para relacionamentos sérios e duradouros.

Ele te cobriu com seu cobertor, dividindo-o com você antes de desligar a televisão.

Boa noite, meu anjo. - O garoto sussurrou, depositando um beijo em sua testa e deixando sua cabeça em cima da sua ao fechar os olhos.

Ele tinha noção do quanto a Ordem era perigosa e como momentos desses eram raros.

Joui não sabia por quanto tempo estaria vivo. Por quanto tempo teria você ao lado dele. Quantas manhãs acordaria ao seu lado e em qual manhã ele iria te perder.

Porém, naquele momento, ele apenas queria que a manhã seguinte não fosse ela.

Ordem Paranormal - One ShotsOnde histórias criam vida. Descubra agora