Chocolate com leite (Balu Pontevedra)

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O coliseu. Você sonhou tanto em conhecer lugares turísticos, ter histórias para contar e fotos para postar. E quando finalmente pisou em tal lugar, não foi como imaginava.

O ambiente era sangrento. Um campo de batalha que ainda faria muitas vítimas naquela noite. E infelizmente, algumas delas foram seus amigos. Familiares que você não reencontraria mais. Pelo menos não nessa vida.

Retirando a mochila das costas, você jogou ela no canto do quarto. Era noite e vocês tinham acabado de chegar do avião que os trouxe de volta agora o Brasil.

O clima não era de festa, não era de comemoração. No fundo, um alívio por tudo ter passado. Daqui uns dias, a Ordem estaria comemorando e jogando sinuca juntos como se não fosse já duas da manhã em um campeonato por tortas de chocolate. Porém, naquela noite não tinha estrelas.

Vocês estavam cansados. Cansados de gritos, de estarem cobertos de sangue próprio e aliados, de não ter uma higiene completa por dias. Era hora da sua mente descansar e foi isso que ela fez.

A fila para o banheiro principal era grande, mas por sorte, cada um de vocês tinha acesso ao pequeno cômodo em seus quartos. Não era nada luxuoso, nada como uma banheira de hotel e bolhas no banho. Era pequeno e modesto, mas era o que você precisava. O aconchego de casa.

Respirando fundo, você abriu o chuveiro após retirar as roupas e enfiar no fundo do cesto de roupas sujas. Depois de alguns anos por ali, voltar para casa todo dia se tornou cansativo, então você aderiu aos simples dormitórios.

A água caiu em suas costas, molhando seu corpo cansado. Seus músculos contraíram e relaxaram. A dor nas costas devido aos bons nós que se formaram e noites não dormidas, as olheiras fundas de cansaço e sono. Você estava a gosma de um zumbi de sangue morto de três dias. A sola da bota pisoteada. O chiclete do canto da mesa.

Seus membros não respondiam mais, não aguentaria mais uma luta. Com a água caindo em seu corpo, sua cabeça foi longe.

O fardo de todo agente é reviver. Reviver o passado, as mortes, o trauma que todos ali ignoravam ter. Nenhum ser humano deveria ser obrigado a presenciar isso para sobreviver. E às vezes você se perguntava até como seu chefe tinha saúde mental sobrando para conseguir liderar uma organização, mesmo com tantas perdas e fardos.
Perdide em seus pensamentos, você foi desperte quando ouviu duas batidinhas na porta. Abrindo os olhos, assustade, já que você tinha certeza que ninguém iria te procurar por ali, apenas respondeu em um grito médio. — Sim?!

Desculpa te atrapalhar, é o Balu, minhe garote! Você vai demorar muito? Eu posso voltar outra hora! - Ele gritou do seu quarto, fazendo seu corpo cair em cansaço. Os ombros pra baixo, a respiração pesada.

Você gostava de Balu. Ele era uma ótima companhia e não tinha como negar. Porém, era sua noite. Seu dia de ficar em silêncio e descansar, não de falar com seus colegas e amigos. Provavelmente ele apenas estava te chamando pra jantar com os outros. — Um pouco, Balu. Mas se quiser pode esperar.

...

O silêncio. "Ele foi embora." Você pensou. Não tinha porque estar ali ainda. Respirando fundo e terminando sua higiene, colocou seu pijama, pantufas e saiu do banheiro, levando um susto gigante ao ver ele ali, sentado na sua cama, como uma criança esperando os pais.

— Eu te assustei? Desculpa. - Ele disse preocupado, mas também segurando a risada.

— Não, não. Eu só não esperava você aqui. - Você disse, rindo sem graça. — Algum problema? Aconteceu algo?

— Você sempre pensa na desgraça primeiro, né? - Balu riu, pegando uma bandeja ao seu lado e te mostrando ainda sentado. — Eu fiz alguns lanchinhos pra você. Sabia que não ia querer ir até lá comer, mas também sei que se não trago, ia passar a noite sem nada.

Você sorriu, um pouco surprese com aquilo. Balu era protetor com você de um modo que ninguém tinha sido antes. Era confortável e lhe passava uma sensação de segurança saber que sempre teria ele para contar.

— Eu ia comer algo mais tarde. - Disse se sentando ao lado dele.

O homem te lançou um olhar desconfiado em sorriso. — Claro, eu acredito em você, garote. Agora come. Tem pouco, mas acho que é suficiente. - Ele falou, entregando a bandeja para você e se encostando em suas almofadas, retirando os sapatos e se deitando ao seu lado.

Você riu dele e da frase ao mesmo tempo. — Pouco?! Balu, você fez quatro sanduíches de queijo e me trouxe um copo de quinhentos ml de leite com Nescau.

Ele te olhou sério. — Sim...?

Revirando os olhos em humor, você perguntou. — Já jantou?

— Ainda não, amanhã cedo eu como algo mais reforçado no almoço.

— Então você dá conselhos sem os seguir? - Você disse, rindo um pouco e se deitando ao lado dele com a bandeja em seu colo. — Toma, pega um pouco. - Você deu um sanduíche para ele, colocando o canudinho que era para ser seu no copo. — Pode beber aqui se quiser também, eu não me importo, bebo no copo.

Ele sorriu, bagunçando seu cabelo e pegando o pão. — Você é muito gentil, (s/n).

— Você que me trouxe janta. - Falou rindo, causando risos no mesmo. — Obrigade. De verdade. - Você disse em um tom mais sério.

— Imagina, garote. Eu só fiz meu clássico sanduíche e misturei achocolatado no leite. - Balu falou entre uma mordida e outra.

— Não. - Você corrigiu, olhando em seus olhos. — Obrigade por cuidar de mim.
O homem te olhou, parando de mastigar. Chegando perto, você sentiu o beijo em sua bochecha. — Não precisa me agradecer por isso. Eu só quero quem eu amo segure.

Com o rosto vermelho, você voltou a comer, causando um riso silencioso nele.
Depois de alguns minutos de conversa, vocês finalmente terminaram e dividiam a última fração de chocolate com leite.

— É... Meu chocolate com leite é o melhor. - Ele falou, orgulhoso.
— Você não disse que era só misturar leite e Nescau?

— Disse, mas eu tava' errado. É uma arte. Vou chamar de "Latte con cioccolato do Balu".

Você riu alto, sem conseguir se segurar enquanto ele colocava a bandeja na mesa de cabeceira.

Aos poucos, seu sono foi chegando. E entre os carinhos que ele lhe fazia em seu cabelo, você não sabia que horas isso aconteceu ou como, mas seus olhos finalmente se fecharam.

Se lembrando apenas da voz do homem em seu lado sussurrando em seu ouvido. — Dorme bem, meu anjinho.

Ordem Paranormal - One ShotsOnde histórias criam vida. Descubra agora