Linear do Medo (Clarissa)

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Você e Clarissa estavam trabalhando naquele dia. Mas é claro, era só que conseguiam fazer em épocas que os casos e eventos paranormais começam a intensificar.
Já era tarde da noite e lá estavam vocês, resolvendo mais um caso complicado no esconderijo de um grupo de ocultistas.

O ar estava pesado, e a tensão que sempre pairava sobre o trabalho só era aliviada pela presença dela ao seu lado. Clarissa tinha uma maneira tranquila de lidar com os mistérios, sempre fria e concentrada, e você admirava isso nela.

Você, por sua vez. Odiava esses casos. Locais recheados de energias do outro lado, se sangue, lodo. Fechados sem a luz do dia. A loira ao seu lado se aproximou.

— Acabei de recolher algumas amostras da cozinha. - Ela diz chegando, até notar seu olhar distante. — Você está bem? - Carissa perguntou, os olhos vasculhando seu rosto em busca de uma resposta que talvez não estivesse relacionada ao caso.

— Estou…  Estaria mais se fôssemos embora logo. - Você respondeu em um riso sem humor, sentindo seu rosto corar levemente. Era vergonhoso para você estar com medo perto de uma agente tão experimente.

Clarissa riu, uma risada baixa, quase inaudível, mas que ecoou dentro de você como se fosse a coisa mais reconfortante do mundo.

— O trabalho de campo costuma ser mais intenso que isso. Espero que consiga lidar. - Ela provocou, mas havia algo mais em sua voz. Uma leve provocação que beirava o carinho.

— Acho que consigo lidar com muitas coisas, Clarissa. - Sua resposta saiu mais baixa do que você pretendia, quase um sussurro. A presença da loira te deixava menos confiante do que o habitual.

A mulher ergueu uma sobrancelha, intrigada com o tom da sua voz. O canto de seus lábios se curvou em um sorriso discreto, e ela deu mais um passo em sua direção, diminuindo a distância entre vocês. A tensão no ar, antes ligada ao caso paranormal, parecia agora ter outro foco.

— Será mesmo? — Ela perguntou, com a voz suave, mas havia uma intensidade em seu olhar que fez seu coração disparar.

Você desviou o olhar por um segundo, tentando manter a compostura. Os sons abafados do lugar ao redor pareciam desaparecer, deixando apenas o leve som da respiração de sua companheira perto de você.
Era estranho como, mesmo em um ambiente sombrio e perturbador, a presença dela fazia tudo parecer suportável. Mais que isso, sua presença te trazia uma sensação de segurança contra o paranormal.

Tudo bem que o medo de parecer alguém fracote perto dela, às vezes falava mais alto que a segurança que ela lhe causava. Mas naquele momento, o medo não existia.

— Eu…  Sei que pareço com medo, mas é só que esse lugar 'tá cheio de... Energia negativa. Nada demais. — Você finalmente admitiu, suas palavras saindo com mais sinceridade do que pretendia.

A loira inclinou levemente a cabeça, seus olhos fixos nos seus, como se ela pudesse enxergar além do que você estava dizendo. Ela estendeu a mão devagar, tocando seu braço de forma quase imperceptível, mas o toque foi o suficiente para fazer sua pele formigar.

— Então, o que te incomoda? — Ela perguntou, com uma suavidade incomum em sua voz. Clarissa sempre parecia tão contida, tão imperturbável, que esse momento vulnerável a deixava ainda mais fascinante.

Você sentiu seu coração acelerar novamente, suas palavras travando por um instante antes de finalmente sair:

— Acho que… é você. Você me deixa assim, nervosa. — Confessou, sua voz falhando um pouco no final. — Você é conhecida por não admitir erros nas suas missões e... Eu acabei de chegar. - Admitiu com a voz trêmula.

Clarissa permaneceu em silêncio por um breve momento, até seu sorriso esboçado ser algo entre compreensivo e… Satisfeito?
Ela não disse nada imediatamente, mas seu olhar, mais suave agora, falava mais do que qualquer palavra. Ela deu mais um passo, ficando ainda mais próxima, o suficiente para que pudesse sentir o calor de seu corpo no ar frio ao redor.

— Bom… Espero que isso seja algo com o qual você também consiga lidar. — Ela murmurou, a voz baixa, quase íntima. Seus dedos roçaram levemente seu rosto, um gesto que, apesar de pequeno, fez todo o seu corpo reagir.

Clarissa manteve o olhar por mais alguns segundos antes de desviar, virando-se para pegar algo de sua bolsa de investigação.

— Acho que podemos encerrar por hoje. — Ela disse, quebrando o silêncio. — Vamos embora, antes que algo pior nos encontre aqui.

Você assentiu, ainda processando o momento com o corpo paralisado e coração acelerado. Mesmo com o peso dos eventos ao redor, algo havia mudado entre vocês, e, pela primeira vez em muito tempo, o medo do que estava lá fora parecia insignificante comparado ao que você sentia ao lado dela.

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