Minha distração (Henri) +18

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Quando tudo começou, você não fazia ideia do que era o paranormal. A vida parecia simples. Tudo o que você precisava fazer era tirar boas notas, sair do orfanato e começar a viver uma vida pacata que provavelmente não te levaria ao grande sucesso.

Você não tinha altas espectativas, mas também sabia que a vida poderia ser mais do que aqueles muros e gostaria de experimentar o que a maré lhe trouxesse.

Mas então ele chegou. O paranormal. A praga que empesteou sua vida, que lhe fez se perguntar o que era certo e errado.
Em um dia, você estava em sua cama no orfanato pronte para dormir. E no outro, nessa casa.

A vida de escripta não era luxuosa. Eles diziam que eram apenas medidas urgentes, algo passageiro até que tudo fosse resolvido e o paranormal não fosse mais uma realidade.

Às vezes você questionava se realmente tudo aquilo valia as noites horrorosas dormindo no chão, ou a escassez de comida. Vocês não tinham dinheiro, era difícil ter algo bom para comer.
Mas pelo menos, você não estava sozinhe.

— Eu falei que não era uma boa ideia. - Gal se aproximava puxando os cabelos de Henri em sua mão, com a ausência de venda e os olhos parecendo cheios de raiva mesmo entre as orbes esbranquiçadas.

— Mas eu precisava testar! Vai que dava certo e eu criava um bicho novo! - O garoto reclamava, se soltando das mãos do amigo, sem ligar muito para sua presença. Vocês três eram íntimos o suficiente para não precisarem de qualquer pose perto um do outro.

Aqueles eram Gal e Henri. O garoto que foi seu amigo durante todos aqueles anos de orfanato, e o garoto que sempre te fez questionar o que era se relacionar com alguém.

A pessoa fora da curva que demonstra o amor de um jeito peculiar e intenso. Que entre demonstrações pequenas e palavras conturbadas, conseguiu te fazer se sentir como o único ser humano na Terra.

— Você acha que é fácil assim? Que é só inventar pra' ver o que vai dar? Henri, você tem que parar de ser tão curioso. Isso vai acabar te machucando um dia. - O mais velho de vocês três revirava os olhos, colocando o garoto ao seu lado, sentado no pequeno sofá empoeirado daquela velha casa. — Pode cuidar dessa porcaria que ele fez, por favor? Preciso ir com o grupo até o orfanato. A execução da mulher tem que ser feita ainda essa semana.

— Claro, vai lá. Sem problemas.
O homem sorriu em sua direção, fechando a cara em preocupação para o amigo. — E você, vê se não me trás mais problemas. - Disse, bagunçado o cabelo do mesmo e fechando a porta da casa.

O silêncio reinou, com o garoto te olhando, até Henri começar a dizer algo. — Em minha defesa, o padre foi um sucesso, eu só quis replicar a ocasião.

Você riu, abrindo o armário e pegando poucas ataduras que restavam, começando o preparo do curativo. — Cara, você tem problema. Acha que bicho é igual lego pra ir testando as opções e ver o que fica melhor?

— ... Acho. - Ele disse rindo, vendo você ajudar em seus ferimentos.

— Bicho igual lego, Henri? Você tá' pedindo para se meter em encrenca. - Você soltou uma risada enquanto fazia com que o curativo fosse feito.

— Eu só queria trazer um pouco de emoção para essa vida monótona, sabe? Não imaginava que isso iria se tornar uma operação de resgate. - Henri suspirou, olhando para o teto empoeirado da velha casa.

Ele estava certo. A vida com o paranormal não era de fato algo qualquer ou sem emoções, mas com o tempo, até a morte pode se tornar monótona. Os gritos, as pessoas sofrendo antes de se tornarem monstros que seriam usados de arma. Todos esses fatores alteram a química em seu cérebro depois de um tempo.

Ordem Paranormal - One ShotsOnde histórias criam vida. Descubra agora