Sonhos Mortais

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Eu vi 
Aquela nuvem verde 
Transformando-se em vermelha
E o sangue que escorria por ela
Gotejava, feito chuva, 
Nos corpos esquecidos pelo tempo.

Esse era o fim do início
De uma história sem precedentes, 
De cicatrizes permanentes 
Nos rostos dos inocentes.

Eu vi tudo 
— E na sua plenitude —,
Dores foram crivadas
— Em mim —,
Olhos arrancados
E, no mar de lágrimas,
jogados.
Será que ainda possuo a minha sanidade?

Mas eu vi...
Crianças impedidas de sonhar,
Pois lhes faltava o corpo 
Sob a cabeça,
O pão sobre a mesa.
Mas quem lhes daria o pão
Se não havia restado adulto
Sequer para contar a história?
Mas eu vi.
Eu vi tudo.

Eu vi o desespero
Clamando a morte,
Suplicando para partir,
Pois haveria mais paz na morte 
Do que na vida. 

Eu vi...
Homens chorarem,
Pois haviam perdido a vida 
Ainda em vida. Que ironia.

Mas eu vi as lágrimas de sangue
Que escorriam pelos seus olhos.
E nem dava para disfarçar. 
E nem tentavam,
Pois sabiam
Que aquele era o fim de tudo,
Era o início do fim,
E que ninguém
Sobraria para contar a história 
E manchar a reputação dos homens.

Mas eu vi...
Os homens chorarem
Lágrimas de sangue.

Eu vi...
As mulheres clamarem pela vida 
Daqueles que já não as queriam,
Pois não havia sobrado nenhuma vida para se viver.
E não viam elas 
Que a morte 
Já havia chegado para aqueles homens 
Bem antes de os seus olhos de sangue cessarem,
Bem antes de suas lágrimas de sangue secarem. 

Eu vi...
Aquela nuvem vermelha
Que disseminou o meu povo.  
Eu juro que vi.

Pambyson Pambe

***

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