Capítulo 6 - Histórias de Terror

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Sentado no meu quarto, tentando me concentrar no terceiro ato de O Pavilhão Dourado, eu na verdade tentava ouvir meu carro.

Tinha pensado que mesmo com o martelar da chuva poderia ouvir o rugido do motor. Mas quando olhei pela cortina – de novo – de repente ele estava ali. Eu não ansiava pela sexta-feira e ela mais do que cumpriu minhas não expectativas. É claro que houve
comentários sobre o desmaio. Uraraka especialmente parecia se divertir com a história. Por sorte Ojiro manteve a boca fechada e ninguém parecia saber do envolvimento de Katsuki.

— E aí, o que é que o Katsuki Bakugou queria ontem? — perguntou Uraraka na aula de matemática.

— Não sei — respondi com sinceridade. — Ele não chegou a dizer.

— Você parecia meio chateado — ela jogou verde.

— Parecia? — Mantive minha expressão vazia.

— Sabe de uma coisa, eu nunca o vi se sentar com ninguém a não ser a família dele. Aquilo foi esquisito.

— Esquisito — concordei. Ela pareceu irritada; sacudia os cachos escuros com impaciência, acho que esperava ouvir algo que lhe desse um bom assunto para fofocar.

A pior parte da sexta-feira foi que, embora soubesse que ele não estaria lá, eu ainda esperava. Quando fui para o refeitório com Uraraka e Iida, não consegui deixar de olhar a mesa dele, onde Denki, Mina e Sero conversavam, as cabeças próximas. E não consegui evitar a depressão que me engolfou quando percebi que eu não sabia quanto tempo teria que esperar para vê-lo novamente.

À minha mesa de sempre, todos estavam cheios de planos para o dia seguinte. Ojiro estava animado de novo, confiando muito no meteorologista local, que prometera sol para amanhã. Era ver para crer. Mas hoje estava mais quente – quase quinze graus. Talvez o passeio não fosse completamente infeliz.

Interceptei alguns olhares não amistosos de Hagakure durante o almoço, que só fui entender quando todos fomos para a aula juntos. Eu estava bem ao lado dela, só a alguns palmos de seu cabelo azul claro e liso, e ela evidentemente não tinha percebido isso.

— ... não sei por que o _Deku_ — ela pronunciou meu nome com desprezo — simplesmente não se senta com os Bakugou
de agora em diante — eu a ouvi murmurar com Ojiro.

Nunca havia percebido que a voz dela era anasalada e desagradável, e fiquei surpreso pela malícia implícita. Realmente não a conhecia muito bem, com certeza não o suficiente para que ela não gostasse de mim. Ou assim eu pensei.

— Ele é meu amigo; ele senta com a gente — respondeu Ojiro aos cochichos, com lealdade, mas também de um jeito meio territorialista. Parei para deixar que Ura e Tsuyu passassem por mim. Não queria ouvir mais nada.

No jantar, Hisashi parecia entusiasmado com minha viagem ao Parque Marinho de Odaiba de manhã. Acho que ele se sentia culpado por me deixar em casa sozinho nos fins de semana, mas ele passara tempo demais formando seus hábitos para quebrá-los agora. É claro que sabia os nomes de todos os meninos que iam, e dos pais deles, e dos bisavós também, provavelmente. Ele parecia aprovar. Eu me perguntei se ele aprovaria meu plano de pegar uma carona a Kodaira com Katsuki Bakugou. Não que eu fosse contar a ele.

— Pai, conhece um lugar chamado Monte Kita ou coisa assim? Acho que fica ao sul dos Alpes Japoneses — perguntei casualmente.

— Conheço... Por que?

Dei de ombros.

— Um pessoal estava falando de acampar lá.

— Não é um lugar muito bom para acampar. — Ele pareceu surpreso. — Tem ursos demais. Muita gente vai lá na temporada de caça.

Twilight | •BakuDeku•Onde histórias criam vida. Descubra agora