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                                                RICARDO

- Você não tem medo de sair assim não? Dando cara a tapa no meio do povo, e se te reconhecerem? - Dou uma palma com as mãos e olho pra ele.

- Ninguém sabe minha identidade aqui, se tiver alguma coisa relacionada a mim, não é minha. - Ele vira o volante pra fazer uma curva.

O olho com as sobrancelhas franzidas, em sinal de desconfiança. Ele me olha e ri.

- Com dinheiro e um pouco de sigilo, se pode tudo. - ele para no sinal vermelho. - Você não tem noção do que esses políticos fariam por 100 mil na mão. Por isso não confio em ninguém que faz parte do eleitoral, tudo safado.

- É, esses político bestaiado. - Ele olha pra mim novamente e ri, acelerando o carro novamente. - Tá risonho por que? Virou circo foi? - ele passa a mão na lateral dos lábios.

- Esse teu sotaque estranho ai. - ele diz sorrindo e olhando pra pista.

- Oxente, pior é o teu, é cada língua que pelo amor de deus, parece um jabuti falando. - Cruzo os braços.

Ele me belisca no braço de leve e eu dou-lhe uma lapada na perna.

Fomos em silêncio pelo caminho. Mas não estava um clima estranho ou preguiçoso, estava um clima confortável e de confiança, como se eu o conhecesse a tempos. Aquilo era tão bom, tão íntimo.

Eu olhava para janela enquanto o carro se movimentava. As ruas pareciam ser tão diferentes de onde eu morava, mas continuava sendo as clássicas famílias brasileiras, a diferença mesmo era o sotaque e as ruas. Haviam muitas lojas e restaurantes, junto a algumas choperias e bastante pessoas circulando. Todos que passavam olhavam para o carro do Metralha, deve ser um carro muito importante.

Depois de um tempo ele para o carro no estacionamento e abre as portas, desligando o carro. Eu saio do carro arrumando minha roupa que estava amarrotada, olhando em volta. O céu estava escuro e as ruas iluminadas pelas luzes das lojas que estavam abertas. Tinha muitas pessoas nas ruas, a praça de alimentação lotada, algumas lojas de roupas e sapatos abertas e o clima frio. Devia ter lembrado de trazer um casaco.

- E ai, a quanto tempo você não sai depois que chegou aqui? - ele me observava enquanto eu olhava a cidade.

- Vixi menino, bastante visse? - ele tranca o carro e começa a andar, e eu o sigo. - É bem diferente de minha terra. Quer dizer, não que não tivesse isso lá né? Mas eu sou mais do interior. - ando com os braços envolvidos pelo frio.

- É, você é tipo as pessoas de "O alto da compadecida" - ele diz brincando e eu dou um dedo pra ele.

- E você é tipo tropa de elite né? Tomar nesse cu menino. - digo irritado, ouvindo ele rir de mim.

Depois de uns minutos andando, começo a ver uma açaiteria a alguns kilometros na frente. Era rosa bebê com roxo escuro, havia um grande desenho de um cacho de açaí na frente, com cadeiras de plástico brancas na frente, com mesas do mesmo modelo. Parecia ser bem humilde mas caprichoso.

- Vai querer o de quantos? - entramos na açaiteria e Metralha me pergunta do tamanho que eu queria.

Eu me aproximo do balcão, ficando na ponta dos pés e tentando olhar os copos que estavam atrás do balconista. Havia um enorme de 800ml, um de 500, um de 400 e um de 300, Também havia um pote gigante de 40 reais no cartaz que estava pendurado na parede ao lado.

- Fica em pé direito cara. - Ele diz apoiando o braço no balcão. Eu estava com as mãos no balcão pra me estabilizar.

- Oxi meu filho, já viu o tamanho dessa bagaça? - digo olhando pra ele.

O dono do morro e a luz da serra (Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora