RICARDO
Hoje eu acordei um pouco mais cedo do que deveria, umas 4:30 da manhã, o céu já estava clareado porém ainda estava frio. Decidi ir lavar a louça que a Fabiane deixou ontem a noite, eu amo a minha irmã, mas ela precisa aprender a lavar a própria louça.
Estava quase terminando quando ouço um barulho na parte de trás da casa. Rapidamente desligo a torneira e olho para aquela direção imóvel, ainda não havia me recuperado do incidente na janela, aquele homem está aparecendo nos meus pesadelos, isso não é bom. Pego uma faca suja na pia e começo a andar até lá com passos firmes e curtos. Meu coração começou a acelerar, não faço ideia como estou conseguindo andar. Deixa a lâmina da faca apontando pro sul e ando até a janela de trás, a qual estava completamente aberta.
No momento que eu ia atacar, vejo que era somente um gato, era laranja e branco. Eu arregalo os olhos e solto a faca no chão, não acredito nisso, eu quase ia virar um assassino! Era apenas o gato que tinha entrado na casa e derrubou um pote de plástico. Eu preciso relaxar um pouco, isso não é saudável.
Ponho uma música Internacional no telefone com fones de ouvido e volto a lavar a louça. Eu preciso falar sobre isso com alguém, mas eu não quero, talvez seja algo da minha cabeça, talvez a morte da minha mãe tenha me afetado, só isso.
- Ai meu pai, que dor de cabeça. - vejo minha tia atrás de mim, já tinha terminado de lavar a louça.
- tia? Tá tudo bem com a senhora? - vou até ela que sentou na cadeira da mesa de jantar com a mão apoiando a cabeça.
- tá tudo bem meu filho, é só essa enxaqueca dos diabo que vem me perturbando, pega uma aspirina pra sua tia. - ela aponta pra uma gaveta de remédios.
- vem acontecendo todo dia? - pego uma aspirina na gaveta junto a um copo d'água e dou em sua mão.
- é, mas não esquenta com isso não. - ela toma o remédio junto a água - e você? Você também anda estranho esses dias.
- ando? - sorrio e ponho o copo na pia - deve ser tédio.
- Hum, sei. Mas logo chega o Marcos, perto desse nego chato não tem como ficar na paz. - eu rio. - ele disse que tava doido pra ver você depois de tantos anos.
- pois eu também, ninguém é mais chato do que aquele Metralha, homenzinho sem educação, atrevido - sento na cadeira ao seu lado.
Ela riu de mim - sabia que ele falou isso de você também? - cruzo os braços com a boca entreaberta, indignado.
- mas eu vou esfregar a cara daquele miserável no asfalto.
- tô é achando que vocês dois se amam. - percebo meu rosto ficar vermelho e rebato.
- claro que não! Deixa de ser doida mulher. - levanto da cadeira e ponho uma camisa - vou comprar pão, quer alguma coisa titia?
- trás 10 reais de queijo meu filho - aceno com a cabeça e saio de casa, com 15 reais no bolso. Deus sabe o medo de ser assaltado que eu tenho.
Quando saio de casa, percebo um clima estranho no ar. Olho em volta, pensando que estava prestes a ouvir aquele maldito "Ricardo."
Mas na verdade, quando eu paro, sou puxado com força pelo braço, com alguém me arrastando pra dentro de um beco, que era entre 2 casas e extremamente apertado, olho pra frente e percebo aquela garota branquela do outro dia, aquela que o Metralha mandou ir pra baixa da égua.
A largura do beco a fazia ficar a 30 centímetros do meu rosto, que me olhava furiosa.- Que isso? Tá louca porra? - empurro os ombros dela pra se afastar de mim, mas o beco era muito fino então ela só bateu as costas na parede.
- você é um viadinho de merda mesmo! Seu Paraíba nojento! - franzi a testa e a olhei sem entender - você mau chega aqui e já vem querendo roubar o macho dos outros! - ela levanta a voz.
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O dono do morro e a luz da serra (Gay)
RomanceRicardo, um nordestino de 24 anos teve que se mudar para um morro por condições financeiras precárias. Metralha, o dono da comunidade do alemão, marrento e autoritário.