[Contém cenas sensíveis e violência contra animais - sinto muito!]
Ser obrigado a interagir com outros seres humanos sem ter se preparado antes, era sempre desgastante. Perth só queria chegar em casa, ele não pensava em mais nada. Ohm deveria estar sozinho e dormindo, considerando que ele virou a madrugada trabalhando. Então, era estranho ouvir o som de uma risada saindo da sua casa e não era a de seu irmão.
Perth abriu a porta apressado e percebeu que interrompia alguma coisa. Ele sentiu raiva após o choque inicial. Nanon não pertencia àquele ambiente.
Ohm tentou esconder seu constrangimento e foi para seu quarto. Por que? O que ele tinha interrompido? Eram muitas perguntas que faziam sua ira crescer cada vez mais.
"Oi!" Perth disse encarando Nanon, que sorria e somente acenou com a cabeça. "Porque você entrou na minha casa?" Ele tentou manter a voz controlada e baixa.
Nanon via que Perth estava de punhos cerrados e achou curioso, mas não tinha tempo para pensar nisso agora: "Precisava falar com você, mas voce não atendia o celular, por isso resolvi passar aqui, acabei de chegar, não se preocupe" disse sorrindo " Não esperava encontrar seu irmão. Tenho uma novidade. Vem comigo!"
Os dois sairam apressados e Perth fechou a porta com mais força do que pretendia.
Eles foram descendo a rua em direção ao carro de Nanon, que estava na outra esquina.
Perth tentava controlar a respiração e se manter racional, mesmo que o ódio borbulhasse dentro dele. Ele precisava estar ficar alerta.
Nem bem fecharam as portas do carro, Nanon já estava dando a partida. Sua excitação era visível aterrorizante.
__________________Nanon contou que tinha ido até a mata onde eles costumavam praticar suas "atividades de entretenimento". Ambos acharam essa expressão bem idiota desde a primeira vez que disseram. Por falta de algo melhor, decidiram ficar com ela. Não tinha motivo pra perder tempo pensando em como chamar aquilo que gostavam de fazer.
No caminho para a mata, viu alguns cavalos soltos na rodovia. Nanon buzinou para assustá-los, queria que eles corressem para a outra pista, pois era próxima de uma curva e seria interessante ver como os outros motoristas reagiriam aos animais surgindo do nada.
Ele estacionou o carro na entrada da estrada de terra que dava acesso ao lugar secreto deles e esperou.
O trânsito estava bem fraco naquele dia. Dois carros passaram e os condutores se assustaram, mas os animais correram para o acostamento, diminuindo o risco de acidente.
Nanon estava inquieto. Os seus dedos apertavam o volante com força. Ele precisava se acalmar, então pegou uma moeda e começou a movê-la pelas falanges desde o dedo indicador até o mindinho e de volta ao começo, até regular sua respiração.
Nanon ouviu um som alto. Era o som de um carro acelerado e com a música estridente. Os cavalos, que pastavam na lateral da rodovia, levantaram suas cabeças quando o carro fez a curva em alta velocidade e se assustaram. O motorista jogou o carro de um lado para o outro tentando desviar e por pouco não capotou.
Nanon vibrou quando ele ficou somente em duas rodas.
Foi decepcionante ver o carro voltar a posição normal e a maior parte dos cavalos escapar. Porém, na descida do carro à posição normal, o motorista perdeu por alguns segundos o controle do veículo e acertou a parte traseira de um dos cavalos menores que fugiu na direção contrária dos demais.
Apesar de mancar muito, o cavalo atravessou a rodovia e passou ao lado do carro de Nanon, seguindo pelo caminho de terra.
Essa era uma oportunidade que ele não podia perder. Ligou, então, o carro e perseguiu o animal.
Nanon percebeu que era um potro.
Essa corrida era desleal, pois ele estava assustado, machucado, era pequeno e frágil. Quando o potro caiu pela terceira vez, Nanon desceu do carro e amarrou o animal em uma árvore pelo pescoço com a corda que sempre carregava no porta malas. Era um nó firme o suficiente para que ele não se soltasse sozinho, mas não forte demais para matá-lo.
Como o animal estava ofegante, ele colocou um pouco de água em sua boca para que ele se acalmasse e pudesse ficar vivo por mais algum tempo.
Nanon só conseguia pensar em Perth e no quanto ele adoraria participar. Ele precisava do amigo agora!
______________
Nanon ia detalhando a história para Perth sem se desconcentrar da estrada e tentava conter sua excitação para não acelerar demais. Eles sempre foram prudentes para não serem pegos.
Seria a primeira vez que fariam algo com um animal deste porte.
A raiva de Perth ainda não tinha passado, mas foi distraído pela curiosidade e pelas possibilidades à sua frente.
Assim que ele estacionou o carro, os dois desceram o mais rápido que puderam e se frustraram na mesma velocidade.
O animal estava morto. Provavelmente a pancada foi mais forte do que ele tinha imaginado e ele não sobreviveu.
Eles ainda poderiam fazer algumas coisas, mas não teria a mesma graça com o animal morto.
Perth estava cansado, irritado e frustrado. Ele olhou para Nanon, que tentava alongar o pescoço puxando a cabeça para o lado, uma mania que tinha quando ficava bravo.
Perth queria ir embora e Nanon concordou relutante. Ele desamarrou a corda, chutou o corpo do potro e entrou no carro batendo a porta.
A viagem de volta foi silenciosa e com o ar carregado. Eles quase não conversaram, apesar de Nanon ter xingado e suspirado várias vezes.
Perth o observava atentamente, pois Nanon não reagiabem quandoera contrariado. Eram raras as vezes que ele não conseguia o que queria. Nas poucas vezes que isso aconteceu, Perth ficou receoso.
Nanon estacionou na frente da casa de Perth. Ele saiu, bateu a porta e deu dois passos em direção ao seu portão, quando ouviu o vidro do passageiro ser abaixado.
"Perth! Vem aqui! PERTH!" Nanon chamou, com a mão apoiada na janela recém aberta.
Perth se aproximou e abaixou o rosto na abertura da janela e olhou o rosto sorridente do cúmplice. Perth engoliu seco diante desse sorriso ameaçador.
"Esqueci de te falar, seu irmão é uma delícia!" Ele riu e acelerou o carro deixando Perth parado e atônito na calçada.
Muitas pequenas concessões foram feitas durante todos esses anos de amizade. Vendo o carro virar a esquina, ele não se sentia mais seguro.
Perth entrou em casa e viu o que o irmão dormia profundamente.
Foi até se computador para tentar trabalhar, para tentar se distrair, mas sua mente ficava voltando para Nanon o tempo todo.
Aquela frase não saia de sua cabeça.
Ele sabia se cuidar. Ohm sempre foi capaz de se defender sozinho. Porém ele sabia que existia algo mais dentro do coração do irmão que talvez não o deixasse ver a realidade. Ele beberia a água oferecida assim como o potro, mas talvez ele não tivesse a mesma sorte que o animal e, com certeza, Perth não queria que seu irmão tivesse o mesmo destino.
Perth precisava proteger Ohm de qualquer forma.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Slow Burn
FanfictionPerth e Ohm são irmãos. Eles tem uma relação muito próxima e amorosa. Ohm é apaixonado por Nanon, melhor amigo de Perth, mas nunca se declarou e nem contou para ninguém. Nem para seu irmão. ................... No X, alguém postou sobre ter uma histó...