Parte 6

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[Contém cenas 🔞]

[Contém cenas sensíveis e violência contra animais - sinto muito!]

Nanon não falava com Perth há três dias, desde o incidente com cavalo. Sua irritação e frustração estavam demorando mais do que o normal para passar e ele não queria ter que lidar com o julgamento do amigo nesse momento.

Os sentimentos dentro dele naquela noite foram tão confusos que ele ainda sentia a necessidade de extravazar de alguma forma.

A excitação dentro dele com todas as possibilidades que aquele bicho proporcionaria, todas as conversas que ele e Perth tiveram durante tanto tempo seriam colocadas em prática, tantas coisas que eles poderiam ter feito, tudo destruido por causa da fraqueza do animal que não foi capaz de ficar vivo por mais uma hora? Duas horas, talvez?

Ele tentava focar nas demandas do trabalho, porém o tempo todo sua mente voltava para o olhar vazio do animal.

Hoje estava sendo um dia difícil no trabalho, todas aquelas pessoas com suas vidas vazias e seus sorrisos falsos o incomodavam. Se ao menos ele pudesse trabalhar da sua casa, como na maioria dos dias.

As atualizações do sistema da empresa exigiam que estivesse na Matriz, era um trabalho simples e repetitivo. O problema eram as interrupções, pois quando trabalhava presencial, a toda hora tinha que explicar procedimentos básicos de informática para pessoas que ganhavam salários muito maiores do que o dele. Era um esforço muito grande manter sua fachada. Nos últimos dias nada parecia dar certo, todas as situações só aumentavam sua raiva.

O dia tinha sido insuportável, quente e abafado. Quando chegou em casa a noite, sua cabeça latejava. Ele jogou suas coisas no sofá e foi direto até a geladeira, pegou a última cerveja que tinha e bebeu.
Tirou a roupa na cozinha mesmo e foi para o banho. A água estava gelada, o que era bom.

Ele ficou andando pela casa vestindo só um short preto, ainda remoendo a raiva que existia dentro dele.

Foi até  a sala e abriu a janela, mas lembrou dos mosquitos e fechou novamente. Nessa hora, ele viu seu reflexo no vidro.

Seu corpo era forte, tinha pernas grossas e uma boa altura. Ele não era tão definido quanto Ohm. O seu short marcava suas coxas, mas a bunda de Ohm ficaria bem mais interessante sob aquele tecido macio.

Ele ainda não entendia porque tinha falado sobre Ohm na hora de se despedir, mas sabia que isso tinha afetado Perth. E de certa forma ele tinha gostado disso.

Estranhamente, pensar em Ohm era um respiro comparado a todas aquelas emoções que tentaram afogá-lo o dia inteiro.

De fato, ele nunca havia reparado em Ohm.

Desde o começo, ele e Perth criaram um vínculo restrito entre eles.

Nanon quase não falava com sua própria família desde o incidente na sua cidade natal. Quando ele se mudou, obrigado pelos pais, preferiu manter essa parte de sua vida escondida do novo amigo. Perth, por sua vez, também mantinha sua intimidade resguardada.

Nanon entendia e aceitava essa condição implícita. Era comum ele ignorar Ohm e seus olhos brilhantes. Mesmo quieto, ele exalava uma energia por todo seu corpo e isso inquietava Nanon.

Talvez por Ohm estar cansado naquele dia, Nanon tenha conseguido ver algo além, como quando se está de frente para o mar,  mas só é possivel enxergá-lo depois de tapar o brilho do sol com a mão.

Nanon o viu de outra forma. E que forma! Nanon riu deste pensamento e sentiu um leve formigamento na virilha.

Ohm era maravilhoso. Agora que ele o via com clareza, isso era um fato. Atrás daqueles olhos brilhantes e ansiosos havia algo mais, Nanon não conseguia entender e estava atraído por essa sensação de excitação e curiosidade.

Ele não pensava em machucar Ohm. Não neste momento.

Sua vontade era entendê-lo, conhecer sua mente, examinar cada parte da sua alma e do seu corpo. Entrar no seu corpo.

Nanon lembrou daquele dia, lembrou de como ele se movia ao andar, do seu cheiro, do cabelo ainda úmido pelo banho recente. Algumas gotas de água desciam pelo seu pescoço e Nanon imaginou como seria tocar cada uma delas com sua língua, subindo até sua orelha e contornando seu maxilar.

Ele queria aquele olhar constrangido de Ohm, ele queria ver todo seu rosto ruborizar, ele queria surpreendê-lo. Qual seria o gosto da sua boca?

O short de Nanon continha sua ereção, mas ainda não estava na hora dele se tocar. Essa era uma sensação nova e ele queria aproveitar.

Nanon nunca sentiu seu corpo responder dessa forma sem um estímulo violento. Ele só tinha beijado uma pessoa na sua adolescência. Na faculdade teve alguns casos porque era difícil encontrar alguém que aceitasse realizar seus desejos.

Na verdade, a sua ligação com Perth era o mais próximo do que se podia chamar de relacionamento, embora nunca tenha existido nenhum interesse sexual entre eles.

Era perturbador para ele perceber que somente pensar em Ohm pudesse provocar essa reação.

Uma mistura de desejo e terror começou a crescer em seu peito. Ele não gostava de sentir medo porque era ele quem provocava o medo.

Sua pulsação acelerou e Nanon começou a se sentir sufocado, preso e intimidado por esses pensamentos. Vestiu, então, primeira camiseta que encontrou, pegou as chaves do carro, o celular e saiu.
Dirigiu por meia hora sem um destino específico. Direita, esquerda,  esquerda, direita,  ele ficava recitando direções para esvaziar sua mente.

Se alguém na vizinhança estivesse mais atento, perceberia o mesmo carro passando várias vezes nas mesmas ruas. Para sua sorte, as pessoas nunca estavam atentas.

Sentindo que sua respiração estava normalizando, Nanon estacionou o carro próximo a uma praça.

Ele e Perth costumavam pegar cachorros abandonados lá. E se alguém perguntasse, podiam dizer que estavam levando para a clínica de Ohm.

Sem pensar muito, Nanon procurou o número  da clínica na Internet e ligou. Sentiu todo seu corpo tremer quando a voz que falava em seu ouvido era a voz que ele queria ouvir gemendo seu nome.

Ele não conseguiu dizer nada e desligou rapidamente.

Perth tinha mencionado algo sobre Ohm estar fazendo o turno da noite e Nanon estava irritado por não ter prestado atenção. "São quase dez da noite, ele não esta encerrando o seu expediente, ele deve passar a noite lá" Nanon refletia.

Ele não podia perder tempo. Nanon olhou para frente, alguns filhotes abandonados brincavam entre as árvores da praça. Ele ligou o carro e saiu devagar. Quando se aproximou, buzinou, assustando os bichinhos que correram em direção a rua. Ele acendeu o farol alto, acelerou e parou logo após ouvir o impacto.

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