A DAMA E O VAGABUNDO

capítulo 20

Camila

- gay!?, filho nenhum meu é gay!.- o senhor Mendes estava vermelho de tanto ódio.

- eu sou gay e sou seu filho, eu sou o gayzinho que você tanto reclama, sou o filho que você nunca quis ter, sou um merdinha, não é assim que o senhor chama os gays?.- Caio gritou, a veia saltada em seu pescoço mostrava o quão nervoso ele estava.

- seu bastardo!, te deu moradia, carro estudos e é essa vergonha que você me faz passar?.

- vergonha eu tenho é de ter um pai como o senhor, bens materiais não chega nem perto do que o senhor deveria ter feito.

- ora...seu....seu.

- isso, me insulte com palavras como o senhor sempre faz.

- eu não posso estar acreditando nisso.... sinto muito por tudo isso Alejandro, vamos Caio, anda.

- Caio...vai ficar tudo bem?.- segurei firme seu rosto, o fazendo olhar para mim, seus olhos transbordava tristeza e liberdade ao mesmo tempo.

- vou ficar bem.- sorriu se aproximando do meu rosto, depositando um pequeno selar em minha testa.- eu passo aqui mais tarde, deixe a poeira baixar.

Assenti, vendo ele sair junto do pai, minha mãe estava concentrada em seu prato e o meu pai me olhava indignado.

- quando eu disse que... não dariamos certo, já imaginava que ele era gay.- falei, após minutos em silêncio.

- o mundo sinceramente está perdido, só é gay porque não encontrou uma mulher descente.- Alejandro negou insatisfeito.

- vamos lembrar que não estamos mais em mil novecentos e alguma coisa, século vinte e um pai, os tempos são outros, você nasceu em época diferente, era casamento arranjado e tudo mais , hoje o mundo tem liberdade para você escolher fazer o que quer e escolher o que quer ser!, sabe o quanto essas pessoas sofrem estrupos?, por serem gays entre outros, descriminação e homofobia.- explodi sem tirar os olhos dele, ele engoliu seco, negando rapidamente.

- há algo para contar filha?.- Sandra se pronunciou, após observar nosso diálogo, meu coração batia freneticamente ao pensar na hipótese de escutar as mesmas coisas que Caio escutou.

- vamos abrir o jogo mãe, não sou nenhuma criança e sei muito bem das minhas escolhas, até certo tempo nunca tive vontade de ficar com alguma garota, não sentia atração nem nada, até que eu acabei conhecendo uma mulher e acabamos ficando, foi algo totalmente novo, beijei uma mulher e gostei, posso me considerar bi, gosto de ambos os gêneros.

Larguei a taça em cima da mesa , se meu pai pudesse ter um infarto ali naquele momento ele já estaria morto, seus lábios faziam movimentos sem sons , tentando formular algo para falar, mais nada saia.

- meu bem.... criamos filhos para o mundo, você está conhecendo o mundo diferente do nosso, antigamente não podia ter essas coisas como gays, lésbicas ou outro tipo de gênero, era homem e mulher, o mundo antigamente era cheio de regalias sociais, haviam muitos limites, hoje passa na televisão o quanto essa sociedade sofre por ser assim "diferentes" dos outros, não estou aqui para te julgar, sou sua mãe e a minha obrigação é te apoiar.

Meus olhos encheram de lágrimas, sua confissão foi tão pura e acolhedora, mamãe me oferecia um sorriso pequeno.

- não tenho nada o que falar.... não faço a mínima ideia de como isso funciona, gays e.... você sabe, minha mentalidade é totalmente diferente da de vocês, sou mais fechado para certas coisas, não vou brigar, nem impedir, você é minha princesa e eu quero você feliz, independente do gênero.- dava para ver o quão chateado ele estava, se esforçava o máximo para não se referir de má forma ao povo LGBT.

- fico muito feliz de ter pais que me apoiam, nunca se passou pela minha cabeça que eu algum dia iria beijar uma mulher, foi tão... espontâneo.

- sabemos como é filha, não se culpe, quando vamos conhecer a garota?.- murmurou animada.

- não sei nem se vá rolar algo mais a fundo, ainda estamos se conhecendo.- sorri sem graça.

- a porta estará aberta sempre que quiser trazer alguém, só me avise antes, preciso me preparar.- assenti para Alejandro, que sorriu tocando minha mão.

Lauren...um simples nome estava me enlouquecendo, o que ela queria de mim afinal.