Capítulo 5

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Sair do quarto fora relativamente fácil. Evangeline disse estar cansada as pessoas estranhas que estavam com ela em seu quarto. A rainha de Valenda, Scarlett a fitou com pesar e pediu para que todos a deixassem sozinha em seu aposento. Então, quando Evangeline escutou os passos deles se afastando, ela se levantou da cama de dossel. Seguiu até a porta de madeira, com arabescos e uma fechadura dourada. Onde quer que estivesse, parecia ser um castelo. Abriu a porta com cautela e colocou a cabeça para fora, deparando-se com um corredor de pedra, quase sem adorno. Aparentemente não havia guardas vigiando seu quarto, então, ela saiu, sem nem ao menos se lembrar que estava sem sapatos. O chão frio e áspero tocou seus pés, contudo, isso não a fez retroceder. Ela precisa encontrar o Principe de Copas. Queria respostas.

Percorreu com cautela o local, pensando em como abordá-lo. Ele parecia conhecê-la e tinha uma vantagem sobre ela. O que de fato era um problema. Ela não se lembrava de absolutamente nada. Contudo, confiava que ele fosse ajudá-la, apesar de que tinha uma ponta de desconfiança, afinal, ela se transformara em pedra. Talvez, não fosse tão confiável assim. Apesar disso, não havia mais nada a ser feito. Ele seria a chave para suas próprias perguntas. E talvez, o responsável pelo seu feliz para sempre. Se ele conseguisse localizar Luc, ela poderia ir embora com ele e se casar. Tudo ficaria bem. Ela tentou acreditar nisso, mesmo que algo dentro de si lhe dissesse que nada ficaria bem.

Logo chegou ao fim do corredor de pedra e notou uma escada em espiral, a qual desceu com ansiedade. O local era iluminado por tochas, pois não havia janelas. Era tão longa a descida, que seus pés estavam cansados, quando chegou, por fim, ao patamar. Notou que estava em outro andar, com um corredor mais largo e com portas e um caminho para uma escadaria larga. Ela não sabia por onde seguir, então testou descer as escadas. Dessa vez havia decorações, como um tapete vermelho cobrindo os degraus, assim como estatuas de mármore, quadro e vasos de plantas. Enquanto descia, notou que havia dois guardas, um em cada lado de uma porta larga e alta. Talvez, fosse a saída do castelo.

- Já está recuperada? – escutou uma voz estranha atrás de si.

Ela se virou instintivamente, se deparando com a jovem que parecia ser uma noiva. Lalá. Seu nome era Lalá. Ela trajava um vestido preto, justo, sem mangas, que deixavam entrever seus braços cobertos de tatuagens. Tinha um sorriso sardônico nos lábios pintados de vermelho. A pele escura ressaltava seus dentes brancos.

- Eu...estou...- Evangeline respondeu, um pouco sem graça.

A jovem a fitou de cima abaixo. Seu olhar estudado a deixava nervosa. Parecia avaliá-la de forma desdenhosa.

- E para onde pretende ir? Se eu fosse você, ficaria aqui. Ou pode sair, se quiser – O tom da sua voz não demonstrava nada, a não ser zombaria.

- Eu...hum...você disse ser minha amiga, não é?

A jovem, que provavelmente seria um arcano, o que de fato era algo surpreendente para Evangeline anuiu com a cabeça levemente.

- Pode me dizer onde está...bom, Jacks?

Os olhos dela se tornaram escuros, pesados. Parecia que a pergunta não deveria ser feita. Como se ela gostasse do Principe de Copas.

- Melhor deixá-lo sozinho, Evangeline – ela respondeu – Você se lembra do que houve?

- Não...eu...é por isso que preciso ir atrás dele. Ele tem respostas as quais necessito. Ou você poderia me responder o que houve comigo. E onde está Luc.

Lalá negou com a cabeça, suspirando.

- Vem comigo – ela estendeu o braço a Evangeline, que deu um passo atrás, assustada pelo gesto amigável – Sério, pode confiar. Eu não mordo.

Evangeline não riu da piada de Lalá, mas aceitou o braço que ela oferecia e as duas desceram a escadaria, de braços dados. Então, Evangeline sentiu-se mais segura, como se pudesse confiar em Lalá. Talvez, ela não fosse tão ruim assim.

Passaram pela porta que era protegida pelos guardas e logo Evangeline notou que estava em um lugar diferente. Conhecia aquele céu azul. Estava em casa. Estava em Valenda. O jardim ao redor lhe era muito conhecido, afinal, passava em frente ao palácio muitas vezes em sua vida.

- Como posso ter chegado aqui tão rápido? – Se perguntou, sentindo o toque da grama em seus pés. Então, algo afiado tocou sua pele – Aí.

Ela se desvencilhou de Lalá, sentando-se no chão e massageando o pé ferido por um espinho. Sangue rubro brotava de sua pele alva. Lalá a fitou, com um ar sem emoção.

- Como cheguei aqui, Lalá? – perguntou Evangeline.

Lalá deu de ombros, como se não fosse lhe dizer nada. Mas, ao contrário, ela lhe contou como chegaram até Valenda.

- Uma carruagem voadora – respondeu – E você ficou apagada por muito tempo. Veneno exagerou na poção do sono.

- Veneno? – indagou Evangeline, se levantando do chão, mas se equilibrando em um só pé, afinal, ainda sentia do no que estava ferido.

- É, Veneno. Um arcano muito poderoso. Ele está a serviço da rainha de Valenda, como ele é muito altruísta – ela zombou, contudo, Evangeline não entendeu o motivo para isso. Afinal, ajudar o reino parecia algo honroso.

- Bom...e para onde vamos agora? – Evangeline perguntou, vendo que Lalá estava se afastando dela.

- Procurar Jacks, como você queria – Lalá respondeu, sem olhar para trás.

Evangeline mancou para acompanhá-la e feriu o outro pé. Mesmo assim, continuou andando pelo jardim extenso e repleto de árvores altas pelo trajeto. Estava cada vez mais curiosa e irritada por ser deixada as escuras, sem saber o que realmente havia acontecido consigo, quando perdeu a memória. E sentia, no fundo, que somente o Principe de Copas poderia responder suas perguntas.

Então, foi quando o viu. Ele estava sentado em um banco de pedra, atirando uma maçã vermelha, para cima e para baixo. Estava de costas, então, não poderia vê-la chegar. Mas, não estava sozinho. Havia mais alguém ali, com ele.

- Jacks – Lalá não lhe deu tempo de retroceder e voltar. Estava indo em direção a ele, se virou a cabeça por cima do ombro.

Evangeline retrocedeu, desejando que ele não a tivesse visto. Ele estava ao lado de Donatella, a jovem loira, irmã da rainha Scarlett. A princesa de Valenda. Evangeline sentiu os olhos arderem sem o menor motivo, como se ter a visão dos dois juntos fosse uma faca a retalhando por dentro. Virou-se para correr, mas a única coisa que pode fazer foi mancar para longe daquela cena. Não sabia o motivo, mas as lágrimas borravam sua visão, o que a impedia de enxergar um palmo a frente. Ela caiu de joelho no chão, o que era de certa forma humilhante. Respirou profusamente, se erguendo, mais uma vez, com o andar vacilante. Subiu as escadas do palácio e sua entrada foi liberada pelos guardas. O melhor era voltar para o quarto e se refazer. Em outro momento perguntaria a Jacks o que ele sabia sobre seu passado e onde poderia encontrar Luc. Contudo, lhe parecia que encontrar Luc não era o seu objetivo verdadeiro. Apesar disso, ela negou-se a pensar sobre o assunto de fato. 

Um final feliz - Era uma vez um coração partidoOnde histórias criam vida. Descubra agora