Notas da autora: Gente, estava escrevendo esse capítulo escutando a música que coloquei aqui. Tenta escutar e ler junto. Acho que vai dar uma sintonia a esses personagens.
Havia uma lenda da raposa e do arqueiro, a qual Evangeline sempre amara, contudo, como contos do reino do norte nunca tinham o mesmo final e eram esquecidos, sua mãe nunca conseguia se lembrar de como findava a história. Evangeline acordou no meio da noite, pensando ter sonhado com a raposa e o arqueiro, quando ela escapava do arqueiro, que apontava uma flecha para ela. Estranhamente, ela sentiu a flecha atingir sua carne frágil. Gritou pela dor e acordou em seguida. Pensou ter gritado também, fora do sonho, mas, não saberia dizer. Fitou o quarto escuro, mergulhado em trevas, sentindo-se aterrorizada. O sonho fora tão real, como se a perna ainda estivesse latejando pela flechada. Apesar disso, tocando a região da coxa, não sentiu o sangue em suas mãos. Sua pele estava intacta. Talvez, alguma das versões da Balada da Raposa e do Arqueiro que sua mãe contara tivesse esse final terrível, em que o arqueiro finalmente conseguira caçar sua raposa e matá-la. Sentiu as lágrimas verterem de seus olhos. Parecia um final tão terrível, tão...
"Tão assustador. Pobre raposinha", pensou ter escutado alguém falar dentro da sua cabeça. Sobressaltou-se, olhando para os lados, mas não havia ninguém ali com ela. Devia estar tão atordoada, que pensara ter escutado vozes.
Batidas na porta a despertaram. Não teve uma reação imediata de se levantar e abrir a porta. Tinha medo de quem pudesse ser do outro lado. Contudo, a batida se tornou insistente. Ela se levantou, cautelosamente, vestindo um chinelo felpudo, emprestado por Scarlett. Ela parecia ser tão amável, que logo Evangeline passou a confiar nela. O mesmo ela não poderia dizer de Donatella, que logo que a viu no jantar naquela noite, sentiu a raiva consumi-la de uma forma irracional, mesmo a princesa ter sido tão gentil com ela.
Acendeu o lampião do lado da cama e foi até a porta, abrindo-a cautelosamente, para saber quem poderia estar ali, do outro lado, para falar com ela em um horário tão avançado. Contudo, desconcertou-se por vir o Príncipe de Copas do outro lado. Ele não deu um boa noite ou explicou seus motivos para estar ali, apenas empurrou a porta, fazendo-a retroceder para trás. Ele entrou no quarto, olhando de um lado a outro, depois para ela, de cima a abaixo.
- O que pensa que está fazendo? - ela indagou, um tanto indignada.
- Sua escolta - ele respondeu, em um tom estranhamente protetor - Você gritou e vim ver o que estava acontecendo.
- Se realmente estava pensando em algo grave, por que bateu na porta?
Ele passou a mão sobre o queixo, pensativo.
- Não sei...eu...você parece tão bem, que eu não deveria ter me preocupado - ele disse em tom amargo, então tirou uma maçã do bolso, lustrando-a com a manga do casaco.
Ela o observou, incrédula. A luz bruxuleante iluminava o rosto abatido de Jacks. Os olhos pareciam cansados, como se não dormisse há dias. Quase teve pena dele, mas algo a fez refrear seus sentimentos compassivos. Algo irracional, sem o menor sentido, que gritava em seu interior, pedindo que não confiasse nele. Que nunca entregasse seu coração a ele.
- Bom, eu estou bem. Quer fazer o favor de sair? - pediu, com irritação.
- Que pesadelo você estava tendo, para gritar tão alto? - ele a ignorou, dando uma dentada na maçã.
Evangeline o fitou incrédula. Era tão perceptivo que estava tendo um sonho ruim?
- Era um sobre a Balada da Raposa e o Arqueiro...bom, uma bobagem - respondeu, sem graça, deslizando o pé sobre o chão acarpetado.
A expressão dele mudou em instantes, como se ouvir sobre a história de amor impossível entre uma mulher que se transformava em raposa e um arqueiro amaldiçoado fosse algo terrível de se ouvir.
- Você a conhece? É uma das minhas histórias preferidas...
- Eu sei - respondeu, de forma ríspida. O coração dela pareceu vacilar e sua garganta ficou seca - Não gosto dessa história. Por isso, você deve ter gritado, pois nunca termina bem uma história como essa.
- E você sabe o final da história? Nunca soube e ninguém nunca conseguiu contar para mim.
- Isso é porque as histórias do reino do norte têm um problema para ser contadas. Geralmente elas mudam no final, ou mudam outros fatos. Há uma espécie de maldição sobre esse reino, que não permitem que as histórias sejam contadas de forma correta. Mas, isso não vem ao caso. Esqueça essa história e vá dormir.
Ela o fitou, sem entender. Tudo que ele lhe falava era sem o menor sentido. E o mais interessante era a familiaridade como a tratava, como se os dois fossem amigos. Queria muito se recordar agora do que acontecera consigo e o motivo para perder suas memórias. E queria saber suas memórias perdidas continham Jacks e se ele era seu amigo. De repente, desejou que fosse seu amigo, com todas as suas forças.
- Eu não quero dormir. Eu quero saber onde está Luc - O que ela queria saber, de fato, era se ele estava bem e o que havia acontecido entre eles. Mas, de verdade, não sabia mais se ele era seu amor verdadeiro e se teria uma feliz para sempre com ele. Algo que era estranho de constatar, pois faria de tudo por ele, até pelo menos, uma ou duas noites atrás. Bom, ela não sabia dizer quanto da sua memória havia perdido. Não se atentara no fato de que poderiam ter sido meses roubados.
Jacks a encarou com um sorriso amargo. Parecia que algo o incomodava. Ele mordeu a maçã ferozmente, como se estivesse irritado e quisesse descontar na fruta. Então, limpou a boca com o dorso da mão.
- Você não vai gostar se eu te contar - ele respondeu, de forma seca - Mas, acho que eu vou gostar.
- Você vai gostar de me ver magoada? - ela perguntou, sentindo a voz tremula e o corpo parecia estar em um estado entorpecido.
- Sim - ele respondeu, em um sussurro. Seus olhos pareciam engoli-la, de repente, de forma faminta - Eu gostaria de vê-la verter lágrimas de sangue. Mas...- ele permaneceu quieto, então, como se estivesse em conflito consigo mesmo. Seu ar era sombrio, como se estivesse prestes a ataca-la. Ela se encolheu, dando um passo atrás, receosa - Eu acho que é melhor você dormir, raposinha.
O apelido carinhoso que ele lhe dera a deixou com o coração aquecido, mesmo estando com medo das reações violentas dele. Apesar de ele não ter movido um dedo para feri-la. Contudo, seu olhar era feroz, como se quisesse de fato fazer isso.
- Não me chame assim - ela retrucou, tentando impor coragem em sua voz, a coragem que lhe faltava em dobro.
Ele riu, baixinho, então. A expressão suavizou, serenando. O que era maravilhoso, pois deixava sua beleza ainda mais em destaque. Ela ruborizou por pensar nele naqueles termos. Então, sem dizer nada, ele se afastou dela, indo para a porta. Estática, ela o viu abrir a porta e sair do recinto. O baque surdo da porta ao fechar ecoou em sua mente, deixando-a vazia e ainda mais confusa. E a pergunta que não calava em sua mente era: quem era de fato Jacks? E o que ele era para ela?
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Um final feliz - Era uma vez um coração partido
FanfictionContém spoilers!!! Pela ansiedade que sinto para ler o último livro da trilogia, que resolvi escrever o que vem depois do último livro lançado. O que aconteceria agora que Evangeline Raposa perdeu suas memórias? E o que Apollo ganharia com esse casa...