Minha alma densa

Calor

Sabe, caro leitor, esse conto começou sendo sínico. Contei-lhes que chorei, que derramei lágrimas tortuosas, que sorri, que ansiei. Contei-lhes minhas inseguranças e um de meus amores, mas talvez eu devesse contar-lhes de uma vez em que meu coração foi bobo.

Certa época amei alguém. Talvez meu primeiro amor. Aquele ser cuja alma me amarrou tão forte, me aquietou em seu colo e me disse coisas lindas, me fez ver o real significado de tranquilidade. Hoje não estamos mais juntos, mas eu amei. Senti as famigeradas borboletas no estômago, descobri e resignifiquei coisas, enxerguei novas cores. Novos amores. Descobri padrões em mim, redescobri paixões e me desprendi de meu eu chato.

Esse conto surgiu no meio de um turbilhão de sentimentos. Amava meu ser perfeito e me apaixonei pelo protagonista desse conto que talvez hoje já não seja mais. Segui um tempo assim até que meu coração gritasse em meu peito por um pouco de sanidade e então me pus a aceitar que minha paixão era apenas agitação.

Anos se passaram desde que minha alma encontrou sua gêmea, mas nem sempre almas gêmeas vivem seus felizes para sempre juntos. Talvez eu não tenha um feliz para sempre. No entanto, me encontro em meio a um calor que me faz pensar no quão bom é amar. E quão bom é amar!

Veja, meu ser perfeito, aquele que amei, ainda tem espaço no meu coração e sempre terá. Só que hoje, caro leitor, me desprendo de quaisquer amarras passadas; desprendo minha alma da prisão que apenas eu tenho a chave. Hoje deixo minhas malas mais leves, deixo roupas velhas para trás, deixo caos e descontentamentos irem junto com o vento.

Hoje abraço o calor. Deixo que a vida dite meus caminhos, deixo que as coisas aconteçam como devem acontecer. Passo a me despir de mim, de meus anseios, de minhas dores, desamores, desânimos e desastres. Deixo dito, tanto a mim quanto a ti, que lês com carinho essas tolas palavras de um autor quebrado, que devo aproveitar o sol e seu calor.

Está calor. Por quê vestir roupas?