Ventos de outono

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Era setembro e as aulas haviam começado já há algumas semanas, o que significava que os testes para o time de futebol estavam marcados - Louis não estava preocupado com isso, o treinador já lhe havia garantido uma vaga -, haviam alguns trabalhos para serem feitos e entregues pelos próximos dias - o que também não o preocupava, pois já havia adiantado boa parte deles - e alguns professores já começavam a falar sobre universidades - isso sim preocupava Louis -.

Louis era bem consciente que ele tinha apenas duas possibilidades de conseguir uma vaga: por ser um atleta muito bom ou por ser um aluno muito bom. Ele não se achava o melhor dos jogadores, mas tinha um currículo escolar muito gratificante. Tinha esperanças de conseguir uma vaga em alguma universidade com um desses dois pontos. A outra parte, porém, era a pior. Ele precisava de uma bolsa integral.

Não existia na vida de Louis a menor possibilidade dele ao menos sonhar com um diploma universitário se ele precisasse pagar uma mensalidade, por menor que fosse. Ele já era bem consciente de que teria que trabalhar para sustentar seus gastos com livros e cópias de livros - algo que, por sinal, já fazia parte de sua rotina -, então o valor alto de uma mensalidade estava completamente fora de cogitação; ele não tinha como pagar por isso.

E isso significava que ele precisava se dedicar mais, empenhar-se mais, estudar mais, treinar mais, mostrar-se diferente dos demais, mostrar-se mais inteligente, mais ágil, mais!

Puxou a correntinha que carregava no pescoço desde seus oito anos de idade até alcançar a cruz sem detalhes, prendendo-a em sua mão enquanto falava.

- Mais um ano no colégio, pai. - Sua voz não passava de um sussurro, afinal não precisava mais do que isso para que seu pai o ouvisse. - Esse vai ser difícil, preciso me dedicar mais, notas sempre altas, bom desempenho no futebol... Preciso de uma vaga na uni... Preciso de uma chance para sair desse inferno. Só uma chance para uma vida melhor. - Levou a cruz até o lábios. - Me ajuda, pai, e me proteja. - Beijou a peça e voltou a guardá-la por dentro de sua camiseta antes de virar a esquina e identificar os portões abertos do Royal Academy.

Adentrou o colégio sem se importar muito em olhar ao redor; sabia que teria estudantes novos e perdidos, como ele próprio fora há alguns anos, teria os veteranos de saco cheio, alguns babacas... Sem grandes novidades. Alcançou o armário que seria seu por aquele ano - recebeu um e-mail informando o número -, e deixou lá dentro os livros que não precisaria no primeiro tempo, e mal teve tempo de fechar a porta quando Calvin e Ollie surgiram do seu lado com sorrisos tortos e olhos preguiçosos.

- Bom dia, eu acho... - Louis os olhou dos pés à cabeça e apenas concluiu que não haviam acordado ainda.

- Bom dia, cap. - Ollie adquiriu aquela mania irritante de chamá-lo daquela forma desde que o treinador colocou Louis como capitão do time de futebol, e como um bom fã da Marvel, ele achou que seria muito engraçado e brilhante; Louis achou... Bem... Irritante.

- Ainda bem que hoje é segunda, e segunda não tem treino... - Calvin comentou enquanto se arrastava ao lado dos amigos até a sala.

- Não tem treino nenhum dia, Calvin, o time não está definido. - Louis girou os olhos ao falar.

- Tanto faz. - O rapaz se jogou na carteira que usualmente sempre se sentava, largando a mochila de qualquer jeito ao seu lado ao deitar a cabeça no tampo da mesa. - Me acordem se algo importante acontecer.

- A aula inteira é importante. - Louis sentava ao lado de Calvin, e ele nem sabia responder o motivo disso, já que o garoto era, claramente, o total oposto do que Louis era.

Calvin não respondeu, afinal já havia caído no sono; Ollie, sentado na carteira à frente de Calvin, tinha os olhos presos em Louis, mas não estava realmente olhando para o amigo, mais parecia que ele estava dormindo com os olhos abertos.

Sem VestígiosOnde histórias criam vida. Descubra agora