DNA

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 Quando a terça-feira chegou, Louis precisou pedir o dia de folga para seu treinador e Joseph e Mary-Ann para poder embarcar no carro de Mark e seguir até a cidade vizinha, onde realizariam a coleta de material para o exame de DNA; e Louis estava nervoso. O rapaz quis pedir para Harry o acompanhar - já que o maior não poderia participar do treino devido ao tornozelo -, mas também não queria atrapalhar os planos do namorado, o que o deixou em um verdadeiro impasse quando Harry perguntou se queria sua companhia. Louis não sabia se Mark se importaria com a presença de Harry, mas sabia que estaria usando o namorado como uma espécie de escudo e rota de fuga e, por fim, negou a Harry e o pediu para tentar ajudar o casal na cafeteria - o que, normalmente, se resumia a ficar por lá conversando e lavando uma louça ou outra -.

O caminho até a cidade vizinha foi feito praticamente em silêncio, apenas a música saindo do rádio preenchia o carro, ou vez ou outra a voz de Mark cantarolando, mas não teve conversa. Louis não sabia bem o que dizer, e Mark não queria pressioná-lo. Mas quando Louis leu a placa que lhes davam boas vindas ao lugar, teve que fazer a pergunta que martelou sua mente no dia anterior e naquela manhã.

- Como sabe que sou mesmo seu filho? - Não olhou para Mark, manteve os olhos na estrada adiante.

- Eu reconheci Rosalyn e fiz as contas, eu soube que ela estava grávida depois que a operação terminou. - Mark estava sério, segurando o volante com firmeza.

- Mas como sabe que sou seu? Como pode estar tão certo que não tenho o DNA de um outro cara qualquer? - Por sua visão periférica soube que Mark o observou por alguns instantes antes de voltar a prestar total atenção na estrada.

- Preciso te mostrar uma foto minha na sua idade. - Comentou de forma divertida e isso fez com que Louis o encarasse.

- Somos parecidos?

- Hoje eu acho que não. - Deu de ombros. - Estou acima do peso demais e velho demais para termos realmente alguma semelhança, mas você poderia se passar por um clone meu da adolescência.

- Então... Quando você me viu pela primeira vez, por que não desconfiou?

- Eu desconfiei. - Respondeu em um sopro. - Só... Não quis acreditar.

Louis o observou por minutos a fio, a ponto de Mark se sentir desconfortável enquanto repassava na mente todas interações que já havia tido com ele.

- Então você me rejeitou. De novo. - Louis não manteve seu olhar no homem por mais tempo e virou o rosto para a janela, tentando ficar o mais de costas que conseguia, e fazendo isso não viu as lágrimas que caíam pelo rosto mais velho, mas talvez ele não se importasse, mesmo que visse.

Louis não amava Mark, afinal eles sequer se conheciam e Louis não era do tipo que seria capaz de amar alguém que não conhece, mas isso não significa que saber que foi rejeitado duas vezes - que ele soubesse - pelo homem não o machucava. Porque aquele homem deveria ter sido seu pai, deveria ter sido seu herói, seu conselheiro primário, seu protetor. Pegou seu celular na mochila aos pés e mandou uma mensagem para Harry, desejando que tivesse admitido a verdade, admitido que precisava sim do namorado ao seu lado.

- Eu não posso apagar o passado, Louis. - A voz do homem soou pelo veículo novamente, mas dessa vez mais baixa e falha, mas Louis manteve o olhar no celular, lendo a resposta do namorado, mesmo que não conseguisse entender as palavras escritas porque sua atenção estava em Mark, mesmo que não quisesse. - Eu gostaria de apagar. Eu gostaria de voltar no tempo e entrar naquela prisão e pegar você, te criar e dar tudo o que você precisava e merecia, mas eu não posso. E eu vou ter que viver com isso, eu já vivo com isso. - Louis apertou o celular em suas mãos, querendo que as palavras dele não o afetasse. - E eu sei que não tenho direito de te pedir nada, mas... Eu queria que me perdoasse, ou que ao menos encontrasse um pedaço em você que não me odeia, um espaço que eu pudesse ocupar na sua vida e que tentássemos criar algo nosso. - Louis não percebeu quando escreveu "eu não sei o que fazer" e mandou para Harry, que o respondeu em segundos, mas ele não registrava as palavras. - Talvez você nunca me veja como seu pai, e eu aceito isso, é a consequência da minha má decisão, mas, eu não sei... Talvez um conselheiro? Um amigo mais velho? Um tio? Eu vou ocupar o espaço que você me der, Louis. Eu só quero ter algum espaço. Por favor. - A súplica foi o que fez Louis ceder às lágrimas.

Sem VestígiosOnde histórias criam vida. Descubra agora