Festas e sociais

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Quando Louis e Jake chegaram a casa, Troy estava sentado no sofá com um cigarro nos lábios e cartas de baralho na mão, espalhados pelo cômodo haviam mais três homens, um deles Louis lembrava o rosto, os demais eram desconhecidos, não ficou ali a ponto de perceberem sua presença. Como sempre, Louis mandou que Jake subisse rapidamente e se trancasse no quarto; sua intenção era segui-lo imediatamente, mas parou no topo da escada, de frente para a primeira porta do corredor, de frente para a porta do quarto de Rosalyn e Troy.

O que o fez parar foi o barulho de choro, sufocante, desesperado e dolorido. Louis queria não se importar, queria passar direto por aquela porta e se trancar junto com o irmão no quarto, como fazia todas as noites por quase três anos, mas Rosalyn ainda era sua mãe, ainda havia algo que o impedia de seguir sendo indiferente a ela, e foi esse "algo" que o fez abrir a porta com cuidado, logo depois de ter mandado Jake entrar e fechar a porta do quarto deles.

- Rosalyn? - Chamou baixinho após adentrar o cômodo, encontrando-a sentada no chão, com os braços em volta dos joelhos enquanto se balançava para frente e para trás, seus soluços ecoando pelo quarto. - Hey, Rosalyn, o que foi dessa vez? - Apesar da pergunta ser um tanto ríspida, Louis falava baixo, aproximando-se da mulher com cautela. Rosalyn levantou a cabeça e fitou Louis, seu rosto estava encharcado pelas lágrimas, seu olho ferido parecia pior e o corte em seu lábio voltava a sangrar, mas não parecia que ela havia sido agredida de novo. - O que foi? Por que você está assim?

- Eu to tentando... Eu to mesmo! Eu juro! Eu to tentando! Mas é tão difícil! É tão difícil, Lou... - Não precisou de um segundo olhar para entender do que ela estava falando; era uma crise de abstinência. Mais uma. - Eu só queria mais uma vez... Só mais uma Lou! Só mais uma e nunca mais!

- Você sabe que não pode. - Afastou uma mecha de cabelo da mulher, em um gesto mínimo de afeto. - Se você usar só mais uma vez, nunca mais vai conseguir ficar sem usar.

- Você não entende meu doce. - Ela colocou a mão no rosto de Louis. - Eu só preciso de mais uma vez... Mas... Mas não tem... Eu já procurei... Seu pai vendeu tudo... Mas... Mas... Eu quero ser melhor, eu quero ser a mãe que vocês merecem... Eu não sei como ser essa pessoa, eu não sei como ser sua mãe... - As lágrimas que haviam parado por alguns instantes, voltaram mais uma vez com força.

- Você não pode usar, se você ficar limpa, se você aguentar só um pouco mais, nós podemos tentar... - Ele queria muito não acreditar nas próprias palavras, mas conforme se ouvia, sentia seu coração apertar só com a remota possibilidade. - O Jake precisa de você. Ele precisa muito de você.

- Eu também preciso dele. Eu preciso de você.

Louis ficou sobre seus joelhos e deixou seus braços envolverem a mulher, abraçando-a com cuidado e, mesmo que tentasse negar a si mesmo, com amor. Ficaram assim por alguns instantes e então se afastaram; fitaram-se em silêncio por alguns instantes.

- Eu... Eu preciso dormir, e você... Você também precisa. - Louis se afastou e a ajudou a se levantar também, mas só para deixá-la sentada na cama. - Descanse e... Fique limpa, Rosalyn, não... Não existe uma última vez.

A mulher apenas lhe sorriu sem humor, concordando com leve menear de cabeça; e Louis fingiu acreditar que tudo ficaria bem. Fechou a porta do quarto ao sair e logo estava entrando na sua pequena zona de segurança, encontrando Jake saindo do banho com a toalha enrolada no corpo e os cabelos molhados.

- Ta tudo bem Lou? - Perguntou com olhos alertas.

- Está sim. - Se adiantou e o ajudou a vestir o pijama para logo secar sua cabeça com a toalha.

Louis sabia que Jake não era bobo, afinal, ele próprio o estava educando para que não fosse facilmente enganado, mas ainda havia coisas que preferia mantê-lo à margem. Jake não precisava ter consciência de que sua mãe era uma viciada, nem que seu pai era um traficante violento, nem que Louis não se sentia seguro dormindo debaixo do mesmo teto que eles; Jake não tinha que saber que ele não estava seguro ali. E mesmo tendo prometido a si mesmo que não mentiria para o irmão, Louis enfeitava algumas verdades. Jake tinha apenas cinco anos e Louis queria que ele fosse criança, mesmo numa situação tão difícil e injusta.

Sem VestígiosOnde histórias criam vida. Descubra agora