De cabeça para baixo

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Jake reclamava de cansaço enquanto Louis praticamente o arrastava pelas calçadas, virando em ruas que nem conhecia, sempre com a sensação de que estava sendo seguido, mas sem olhar para trás. Só havia um pensando correndo em sua mente: proteger Jake, levá-lo para o mais longe possível. Não sentia as dores de seu corpo, não sentia seus pulmões queimando a cada vez que inspirava, não sentia o sangue escorrendo por seu rosto, era movido por pura adrenalina. E quando Jake finalmente tropeçou nos próprios pés, incapaz de acompanhar o ritmo do mais velho, Louis apenas o puxou para seus braços, carregando-o sem sequer reduzir o ritmo de seus passos.

Não iria aguentar por muito tempo, é claro, mas sentiu-se aliviado ao perceber para onde sua mente e seus pés o tinham levado. A casa de número 28 parecia brilhar diante de si, e seus olhos já estavam turvos pelas lágrimas quando apertou a campainha, escorando-se no batente, apertando Jake contra si, sequer esperou um minuto inteiro antes de tocar a campainha mais uma vez.

- Estou indo, estou indo. - A voz mal humorada masculina soou através da porta. - Onde é o incêndio? Louis! - O adolescente tropeçou para dentro da casa, sendo apoiado pelo senhor Williams. - O que aconteceu? Sarah! Sarah vem aqui!

- O que houve? Meu Deus! Louis! Jake! - A mulher correu até os três, pegando Jake dos braços cansados e trêmulos de Louis, que caiu no chão quase que imediatamente. - Louis!

- O homem bateu no Lou! - Jake contou com a voz chorosa. - Eu pedi para parar.

- O quê? Como assim Jake? - O homem agarrou Louis como pode e levou até a sala, deixando-o sobre o sofá.

- Na casa, tinha homens, bateram no Louis e depois teve muito barulho e o Louis me puxou e nós corremos. - A criança falava de forma afobada.

- Eu vou chamar a polícia. - Louis quis pedir que não, que não envolvessem a polícia naquilo, mas ele não conseguia sequer respirar direito, quanto mais falar.

- Mãe, o que está acontecendo? Louis! - Ollie correu os últimos degraus da escada, em direção ao amigo.

- Ollie... - Sarah lhe deu um olhar confuso. - Eu vou preparar um chocolate quente para o Jake, sim? - Sarah passou pelo filho rapidamente, mas ainda lhe deu aviso. - Tente acalmá-lo, sim? Seu pai vai chamar a polícia, algo na casa dele aconteceu.

Com um menear de cabeça como resposta, Sarah saiu da sala e Ollie correu até o lavabo, pegando o kit de primeiro socorros e voltando logo para o lado de Louis, que tremia no sofá. Era possível ouvir a voz de seu pai do lado de fora de casa, informando o pouco que sabia para a polícia, mas Ollie não se concentrou nisso.

- Hey, cap. - Chamou a atenção de Louis para si, ou tentou. Os olhos azuis estavam em si, mas não pareciam enxergá-lo. - E-Eu vou... Limpar um pouco isso... - Ollie não sabia o que falar, nunca havia visto Louis daquela forma. Ele parecia catatonico e estava machucado além do que poderia ser considerado normal. Louis nunca foi do tipo de se envolver em brigas, nem verbais nem físicas, então vê-lo com o supercílio e o lábio cortados, com sangue no rosto e o olho roxo era um misto de sentimentos, entre a adrenalina de saber que ele esteve em uma briga e a raiva em vê-lo tão ferido. Ensopou um algodão com um pouco de álcool e passou pelas feridas do rosto do amigo, que sequer se mexeu, mesmo com a ardência no local.

- A polícia está indo para sua casa, Louis. - O senhor Williams voltou para a sala e se sentou na mesa de centro, logo a frente de Louis. - E nos recomendaram te levar ao hospital.

- Jake...

- Ele está bem, está com a Sarah, não está ferido, mas você sim. - O homem se levantou. - Vamos Louis, por favor. - Ajudou o adolescente a levantar, que resmungou de dor.

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