Entre fantasmas

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O silêncio que se seguiu à fala de Mark foi quase palpável. E Louis nunca quis tanto que eles dissessem que aquilo não passava de uma piada sem graça, mas ninguém disse nada, todos permaneceram parados, esperando que ele desse o primeiro passo, que ele finalmente esboçasse alguma reação.

    - Infiltrado... - Não era uma pergunta, Louis nem sequer sabia o que perguntar, ele nem sabia o que pensar. - Você estava infiltrado? Você é Adam Voite?

    - Era. - Tomlinson corrigiu. - Adam Voite nunca foi uma pessoa real, Louis.

    - Mas ele morreu em uma troca de tiros com a polícia.

    - O comandante foi quem criou esse plano, uma saída rápida e limpa. - Mark não desviava os olhos do garoto. - Uma saída sem vestígios.

    Louis não queria acreditar no que o detetive o dizia, mas... Ele nunca teve nada do pai, nenhuma foto, nenhum documento, era como se ele nem tivesse existido, e agora... Agora fazia sentido. Era para ser assim. Não podia ter foto, não podia ter provas de que Adam Voite existiu, porque Adam Voite era Mark Tomlinson, um detetive.

    - Você sabia? - Perguntou por fim, ainda sem saber se sentia frustração, raiva ou mágoa. - Sabia que Rosalyn estava grávida? Sabia que eu nasci na prisão? - Mark abriu e fechou a boca diversas vezes, parecendo incapaz de responder aquelas duas simples perguntas, e Louis soube a resposta antes dele falar.

    - Sim, eu soube.

    Louis o encarou em silêncio, lutando contras suas próprias lágrimas e não se importando que o detetive já tinha o rosto úmido; aquele homem à sua frente estava lhe dizendo que era seu pai, que sabia que ele existia... Aquele homem escolheu não estar em sua vida, escolheu o deixar para trás, e por conta das escolhas daquele homem Louis cresceu sem saber o que era ser amado por uma mãe e um pai, cresceu tendo que ser responsável por si e pelo seu irmão. Tudo poderia ter sido diferente. Mas não foi.

    E Louis queria que aquilo fosse uma mentira cruel.

    - Louis. - Sarah se aproximou dele, mas Louis deu um passo para trás, negando com a cabeça de forma insistente. - Eu sei que isso é muito para absorver, mas...

    - Eu não quero mais ouvir.

    - Louis...

    - Não me importa. Não quero saber. Não quero ouvir. - Louis saiu da casa sem olhar para trás, ignorando os chamados, inclusive quando a voz que o chamava era de Ollie.

    Não sabia para onde iria, não sabia o que queria, só... Precisava de tempo, de ar, de silêncio.

    - Louis, porra. - Ollie o alcançou depois de correr o espaço entre eles. - Para onde você vai? Não pode sair assim, transtornado.

- Eu quero ficar sozinho. - Louis se desvencilhou do amigo e continuou andando. - Por favor, me deixa sozinho. Só... Cuida do Jake.

Não esperou resposta alguma do amigo antes de sair andando mais uma vez, acelerado, quase correndo; era como se só dependesse da distância entre ele próprio e a casa onde ouviu aquilo tudo para conseguir respirar, então quanto mais longe, melhor. Mas não era assim que funcionava, ele sabia que não iria resolver coisa alguma fugir da situação.

Pelas próximas horas ele só ficou caminhando a esmo, passou por lanchonetes com pessoas rindo e conversando, passou por cafés fechados, lojas com as luzes apagadas, ruas com casas com jardins bem cuidados e outras que pareciam abandonadas. E sua mente só repetia a mesma coisa, em um disco arranhado de "Adam Voite não existe" e "Mark Tomlinson é meu pai e ele me abandonou". Quando pensava na ausência do pai, Louis sempre pensou como em algo que lhe foi roubado, algo que o universo, o mundo, ou qualquer coisa dessa, não quisesse que ele tivesse, mas a verdade é que seu pai, o homem que deveria protegê-lo, foi quem decidiu não estar em sua vida.

Sem VestígiosOnde histórias criam vida. Descubra agora