CAPÍTULO 2

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Mia Clark

Chegou o grande dia, nem acredito, e como sempre a minha ansiedade está tomando parte do meu corpo aos poucos.

Dizer adeus sempre foi muito difícil para mim, desde pequena sou apegada as mínimas coisas, e sim, me apeguei ao meu minúsculo apartamento, me apeguei à senhorinha da padaria que todos os dias me dava um bom dia sorridente e aos meus amigos que fiz na faculdade, sem contar na minha família que, pra minha sorte, ficaram muito felizes com a notícia e me deram muito apoio, agora realmente sinto que estou pronta para recomeçar uma vida nova.

Dizer adeus e deixar o passado para trás muitas vezes é uma forma de recomeçar do jeito certo.

Desço do taxi, e dou de cara com um aeroporto super agitado, que sorte a minha.

Não estou levando muitas malas, apenas duas sendo uma delas de mão, e claro, a mais importante, minha guitarra.

Tudo está ocorrendo como planejado, até olhar para a gigantesca parede de vidro e avistar o avião que iria embarcar, meu medo de voar de avião apareceu novamente para me assombrar, que maravilha.

- Atenção senhores passageiros com destino à Londres, dirijam-se à área de embarque em cinco minutos.

É real, está acontecendo, será que estou criando expectativas demais? Tá, vou parar de ficar cortando o clima, tenho que curtir o momento e deixar de ser pessimista.

Entro no avião, hoje realmente é meu dia de sorte, fiquei na janela, ficar olhando para o céu sempre me dá inspiração pra compor músicas (que nunca são finalizadas pois tempo não é uma coisa que tenho).

Tudo estava indo perfeitamente bem, até que o avião começa a balançar, as aeromoças pediram para colocarmos os cintos de volta e nos acalmar que isso era apenas uma pequena turbulência, ok Mia, sem surtos, você ouviu ela dizendo, não é nada, volte a dormir...

NÃO CONSIGO, o fato que estamos sobrevoando em alto mar e que se o piloto não for bom o suficiente ou o avião der problema morremos todos juntos e ninguém nos acharia, isso me assombra desde quando tinha 5 anos onde andei pela primeira vez de avião e vi sair umas fumaças pela turbina.

Depois de umas longas horas de vôo, meu traseiro já quadrado e minha coluna pedindo socorro, chegamos em solo londrino, e meu Deus, até o cheiro daqui é diferente, posso estar enlouquecendo depois dessa viagem demorada, mas a energia daqui é muito... digamos, diferente.

De cara encontro uma moça de cabelos castanhos enrolados e pele clara com uma plaquinha com meu nome me esperando, me aproximo.

- Oi, muito prazer, sou Mia Clark, e você?

- Olá Mia, sou Francesca, sua mais nova amiga - ri - Me mandaram aqui em nome do Laboratório Starz, também sou biomédica e serei sua parceira lá dentro, não se preocupe... estou falando demais, desculpa...

- Não não, tá tudo bem. - sorrio gentilmente.

- Ok, agora vou te levar até o seu apartamento. Assim como você eu também fui escolhida para estar aqui, e já fazem três anos desde então. Esqueci-me de te falar, somos vizinhas! Moramos no mesmo prédio, eu moro um andar abaixo que o seu, você pode ir me ver a hora que quiser.

- Ai que legal, mas já vou te avisando que ser minha vizinha não é lá umas das melhores coisas do mundo, eu toco guitarra como você pode ver. - aponto para capa do instrumento pendurado em minhas costas. - E ela não é nem um pouquinho barulhenta. - soltamos uma risada.

- Fica tranquila Mia, já estou acostumada até demais com barulho de instrumento musical naquele lugar, você vai ver quando chegar.

Entramos no carro de Francesca e fico surpresa que ela já tem seu próprio automóvel, isso é tão distante para mim ainda.

Como sou horrível para puxar assunto com pessoas desconhecidas (minha timidez mais uma vez me atrapalhando), a pergunto se ela não acha estranho dirigir um carro onde o volante fica do outro lado e as mãos são invertidas.

- Olha, no início foi difícil, mas com o tempo você se acostuma sabe?

- Ah sim. Percebi que seu sotaque não é nem britânico nem americano, de onde você é?

- Sou da Itália, se um dia você quiser ir no meu apartamento comer uma boa comida italiana é só falar.

- Falando em comida estou faminta.

- Ok então, vamos para minha casa comer algo, topa?

- Por favor!

No elevador combinamos que enquanto eu tomava banho na minha casa, Francesca iria fazer o jantar, depois eu iria para lá.

Abro a porta e... meu Deus do céu, que apartamento grande! Tudo bem que comparado ao meu antigo qualquer um parece ser maior, mas esse é realmente gigante, e o melhor: já está todo mobiliado. Aqui parece ser tão calminho, nem parece ser a vizinhança que Francesca falou, tudo bem que já está um pouco tarde, mas enfim, espero que o vizinho da frente não se importe com os meus barulhos do dia-a-dia.

Tomo um banho relaxante, troco de roupa e pego o elevador para ir ao encontro da minha mais nova amiga.

Toco a campainha, minha mais nova amiga abre a porta e imediatamente o cheiro de macarrão me anima.

- Ai que delícia, você fez macarrão ao molho branco! Eu amo.

- Você quer fazer uma italiana perder quatro anos de vida? Repita comigo Tagliatelle al ragú.

- Ham... tagliateli au ragu?

- Bem... já é um avanço. - Soltamos gargalhadas.

Nos servimos e meu Deus! Nunca havia comido algo tão bom assim nos últimos anos, com certeza virou um dos meus pratos favoritos de agora em diante.

O jantar foi muito divertido, nos conhecemos melhor, descobrimos que temos um filme favorito em comum e temos um humor um tanto quanto duvidoso.

Volto para minha casa e antes de destrancar a minha porta percebo uma movimentação inquieta dentro do apartamento exatamente em frente ao meu, não me aguento de curiosidade e tento escutar algo pela porta.

Deixa de ser curiosa garota, você não tem nada com isso, vai dormir porqueamanhã será um longo dia.

No Ritmo do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora