O medo

621 57 4
                                    

Talvez fosse o turbilhão de hormônios em seu corpo que estivesse fazendo-o se sentir tão mal assim. Só poderia ser isso. Só poderia, porque Wess não aguentava mais levantar da sua cama no meio da noite para vomitar ou andar pela casa toda tarde da noite.

Seus nervos estavam dando o máximo para aguentar aquela situação, mas era algo um tanto quanto complicado. Ele fechou os olhos e respirou, sentia uma constante massa de sensações se formar ao redor do peito, um medo junto com uma irritabilidade e surpresa.

Era uma situação nova que estava passando, muito nova para ele porque sim, Wess já se imaginou grávido e lidando com a paternidade solo depois de uma fertilização artificial quando chegasse aos quarenta e dois, mas não na situação que ele tinha se metido, ele não estava sozinho, mas não  deixava de causar um pânico em suas entranhas.

No segundo que ele fez o teste de farmácia e os dois tracinhos saíram, Wess só conseguiu se sentir um adolescente acanhado que engravidou na primeira vez que transou. Transou com o amigo. Se fizesse uma analogia com o colegial, o que Morgan seria? Jogador de futebol americano ou hockey? Definitivamente jogador de lacrosse. Bem, Morgan é estadunidense, ele não praticaria rúgbi como os neozelandeses. E Wess? Quem ele seria? Porque com certeza um cdf burrinho e virgem não seria seu caso. Tampouco importava, mas pelo menos o fazia esquecer momentaneamente o que estava passando.

Um bebê perfeito estava dentro dele. Wess estava zelando por ele com seu corpo, a cada segundo fazendo mais um pedacinho do seu filho, Wess tinha feito seu coração que pulsava tão aceleradamente. 

Ele colocou a mão novamente sobre o ventre enquanto estremecia por outra súbita vontade de vomitar, o dia lá fora já estava raiando e dali algumas horas teria que sair com o Morgan para lidar com assuntos de paternidade.

Às nove, sua campainha tocou e lá estava Morgan arrumado com calça jeans clara e uma camiseta branca com uma jaqueta xadrez por cima.

-Olá.

-O que você está fazendo aqui? Eu iria te encontrar, não?

-Sim, mas eu achei melhor vim logo, está pronto?

-Morgan. Eu não posso mais andar de moto, você sabe…

Ele o interrompeu.

-Não precisa se preocupar, eu vim de carro.

-Carro? Quem foi que te emprestou?

-Na verdade, eu comprei um. É usado e tal, mas dá pro gasto. Sabe, agora que você tá grávido e daqui uns dias nosso filho vai nascer, não tem como eu transportá-lo de moto, pelo menos não na primeira década.

-Mas… como você comprou um carro tão rápido?

-Talvez na Nova Zelândia não seja tão fácil, mas aqui nos Estados Unidos comprar um carro não é difícil, além disso, dei grande parte do valor para quitar de vez… eu vendi a moto.

-Morgan! Caramba, você não precisava fazer isso! Eu sei o quanto você trabalhou pra comprar aquela moto e o quanto era importante pra você!

-Ei! Fique tranquilo, tá? Posso comprar outra, isso não é tão importante quanto o que tá acontecendo agora.

-Ok -falou a contragosto.

-Temos compromisso. Você já comeu algo?



Wess devorou os três potinhos de pudim de abóbora que Morgan havia comprado para ele. E lá estavam ambos sentados esperando dar o horário da sessão em grupo com pais de primeira viagem. Morgan estava ao seu lado pesquisando algo no celular e os demais em seu próprio mundo. 

A Tinny IncidentOnde histórias criam vida. Descubra agora