Listen me

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Três dias. Havia três dias desde que Katsuki sentiu-se completamente rejeitado.

Kirishima não voltara naquela noite, e ele havia esperado. Sentia-se um idiota, um trouxa e sentia o mais puro ódio da cara bonita simétrica e atraente do ruivo. Não estava descendo para o jantar, não saia do quarto em horários em que sabia que poderia esbarrar com Eijirou e não respondia suas batidas leves e suaves na porta do quarto. Não queria vê-lo e tinha evitado a situação ao máximo que podia. Simplesmente sentia-se rejeitado e não tinha coragem de encará-lo.

Sentou-se no balcão da cozinha com um pote de sorvete nas mãos e suspirou profundamente.
Comeu um pouco de sorvete e observou o sol se por pela janela. Quando o sol já havia se posto por completo ouviu passos pela cozinha, mas antes que pudesse sair dali e voltar a se esconder em seu quarto, um ruivo vestindo uma camisa social com alguns botões abertos apareceu em sua frente.
Kirishima cruzou os braços e levantou levemente uma das sobrancelhas, a expressão de dúvida em seu rosto mostrava que tinha perguntas sobre o sumiço do loiro e que desta vez ele não escaparia.

— Quer me explicar o motivo de estar me evitando?

— Pergunta pra um idiota de 200 anos, ele sabe exatamente o que é deixar alguém esperando. — A resposta veio carregada de sarcasmo.

— Não te deixei esperando. — Kirishima disse sério, sentindo-se insultado pois tinha seus motivos para não tê-lo visto naquela noite.

— Deixou. E não cumpriu com o que prometeu.

— Pelos deuses Bakugou, eu passei a madrugada toda e mais boa parte do dia resolvendo problemas. Acha mesmo que eu preferia estar numa sala com o Denki que num quarto com você?

— Cada um tem suas prioridades.— Bakugou pulou do balcão e quando começou a andar em direção a porta foi segurado e puxado pelo braço.

— Você vai me escutar antes de sair por ai tomando conclusões precipitadas. Entendeu?

— Me solta. — O ódio transbordou pela voz do loiro.

— Vou te contar exatamente o que aconteceu, então presta atenção. - A respiração de Katsuki era irregular e continha o mais puro ódio dentro de si. Quem ele achava que era pra falar com ele daquele jeito?

— Eu não quero ouvir.

— Você não tem essa opção, então se quiser pode sentar-se e escutar na maior boa vontade de não quiser fazer isso por bem, vai fazer pora mal. — Kirishima parecia controlado e calmo, mesmo sentindo um leve ódio crescer dentro de si.

— Você é um idiota! — Bakugou cuspiu no puro ódio.

— Eu passei toda aquela noite resolvendo problemas, nestes três dias que me ignorou eu passei todas as horas dele resolvendo todos os problemas que infelizmente a porra da minha empresa teve. Denki veio aqui aquela noite por que EU precisava estar a par de tudo e EU precisava ter uma reunião com acionistas. Eu nunca fiz isso, eu nunca me apareci para as pessoas desde a época em que vampiros foram caçados e minha família morta. Então seja uma pessoa menos egoísta e entenda o lado dos outros antes de simplesmente decidir que não quer mais contato.

Bakugou sentiu-se mal, sentiu a vertigem atingi-lo e o pior sentiu como se fosse a pior pessoa do mundo. Puxou seu braço da mão do ruivo e saiu da cozinha, precisava de ar fresco por que a situação fora constrangedora para si.
Não era egoísta e estava longe de ser, sempre quis que o enxergassem desta forma mas nunca fora. E por mais que já tivessem o chamado de egoísta e coisas piores ouvir que Kirishima o considerava como tal fez com que suas emoções em relação ao que acham de si viessem a tona. A situação dele era compreensiva, e dava para entender o sumiço naquela noite e se tivesse parado para escutá-lo talvez evitasse o leve conflito que se formou entre eles. Pelos Deuses, Katsuki não sabia que seria assim tão complicado para seus sentimentos conviver com aquele cara.

Kirishima encontrou o loiro sentado em uma das cadeiras do jardim, pensativo e com os pés batendo no chão em um ritmo frenético. E nesse momento percebeu o quão rude foram suas palavras.

— Eu sinto muito... fui rude e idiota, deveria ter tido um tato maior pra situação. — Kirishima disse baixinho, dando um passo para se aproximar. — Naquele noite, eu voltei no seu quarto, você estava dormindo tão bem que não quis te acordar... eu só te cobri, tirei o celular da sua mão e voltei ao escritório.

— Foi você que me cobriu? — O loiro olhou para cima, para poder ver a face do ruivo que se escondia levemente no escuro.

— Foi — Riu baixo e se agachou a altura do loiro, ficando alguns centímetros mais baixo. — Me desculpa?

— Vai ter que fazer melhor que isso. — Katsuki deu de ombros e viu um sorriso malicioso surgir nos lábios de Kirishima.

— Vem, vamos pra dentro vai chover hoje.

— Como sabe? — O céu estava nublado, mas como era noite não se percebia qualquer sinal de chuva.

— O céu está com sinais de chuva. — Foi a vez de Kirishima dar de ombros.

Os dois entraram novamente no casarão, e ao chegar na bifurcação da escada o loiro virou-se para encarar Eijirou.

— O que tem na ala norte? — A pergunta corroía sua curiosidade desde que viera morar ali.

— Quer ver?

O sorriso singelo deixou Katsuki a vontade para dizer

— Sim.

Subiram o que restava de escadas em silêncio, um silêncio tranquilo e sem ser estranho. Bakugou não havia perdoado ele por chamá-lo de egoísta, não tão fácil assim, mas preferiu aceitar que errou em não escutar a versão de Kirishima dos fatos.

Chegaram a ala norte e o tapete vermelho das escadas também se estendia aquela área, no corredor onde fica seu quarto o tapete mudava de cor para um tom creme, ali haviam quadros, vasos antigos e caros espalhados pelo corredor que continha um número considerável de portas, nove, para ser mais exato. Um dos quadros estava Eijirou junto a uma moça de cabelos pretos e lisos e olhos vermelhos como os dele, ambos olhavam para frente e mantinham-se sérios. Eram muito parecidos.

— Minha irmã. — Comentou Kirishima quando viu Katsuki parar para observar a pintura.

— Mais velha?

— Não; o mais velho sou eu, ela era a segunda filha.

— Quantos irmãos você tinha?

Kirishima guiou o loiro até uma porta a direita no corredor e abriu dando passagem para que entrassem. Ali parecia uma galeria, vários quadros. Vários mesmo. Haviam desde retratos a paisagens, algumas muito alegres e outras pareciam tristes e melancólicas, mas todas muito lindas. O ruivo dirigiu Bakugou até a principal pintura, uma que estava em um destaque especial naquela pequena galeria de arte. No quadro apresentavam-se todos os Kirishima, todos dez pares de cabeça de compunham a enorme família. Katsuki se via abismado com o tamanho número de parentes, era justificado o tamanho desta casa para ocupar tantas cabeças. Mas assim que observou melhor a pintura sentiu-se triste... Eijirou vivia naquela casa sozinho por séculos sendo que antes desta solidão infundada ele vivia em uma casa repleta de gente, com uma família grande e que parecia muito, muito amorosa. Se ele era realmente a primeira pessoa em todas aquelas décadas que vivia com ele naquela casa, Eijirou era um homem mais solitário do que ele imaginava.

— Cara de um, focinho do outro. — Katsuki riu baixo.

— Minha mãe sempre reclamava que esperara tantos bebês para todos nascerem parecidos com o “Sr Kirishima”. — O sorriso triste e nostálgico que surgiu nos lábios do ruivo fez com que Katsuki tocasse seu braço e fizesse um carinho.

— Acho que eles estariam orgulhosos de você.

— Estariam decepcionados.

Katsuki mordeu a parte de dentro de sua bochecha, decidindo-se por manter-se quieto.

— Bom, você ainda é o mais bonito da família. — Deu de ombros e ouviu um riso de Kirishima, isso o fez sentir-se melhor consigo mesmo.

Katsuki observou as outras pinturas na sala em silêncio, e Kirishima apenas deixou-o observar tudo o que quisesse na sala, o loiro parecia um cachorrinho curioso. Ao saírem da sala Eijirou guiou Bakugou para a última porta naquele corredor e abriu-a.

— E esse é meu quarto.

— Tudo tão arrumadinho... — Brincou e ouviu outro riso sair do ruivo.

— Satisfeito? Consegui sanar sua curiosidade?

— Sim. As outras portas são os quartos dos seus irmãos? — Perguntou para tirar sua última dúvida

— Sim, exatamente.

O loiro acenou com a cabeça e voltou a sua observação meticulosa do quarto do ruivo. A chuva começara a cair, tranquila e fazendo um barulhinho tranquilizante ao bater no vidro. O cheiro de terra molhada subia pelo ar e Katsuki adorava esse tempo chuvoso.
Kirishima encostou-se na mesinha circular que mantinha em seu quarto para jogos de xadrez com Denki e as vezes para manter uma infinidade de papéis. Observou o loiro tranquilamente e quando o mesmo virou-se para si, chamou-o bem baixinho.

— O que quer?

Kirishima sorriu pois o loiro nunca perdia o jeito bruto e irritado de se portar. O ruivo puxou-o pela cintura e beijou aquele loirinha irritado que havia despertado nele vários sentimentos que a muito não sentia.

It's ok have a deal with a vampire, right? - KiribakuOnde histórias criam vida. Descubra agora