Outra vergonha

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Ele estava vindo na minha direção, eu não sabia o que fazer, como me comportar, o que falar. Meu deus.  Disfarçadamente ajeitei o meu cabelo e meu vestido antes que ele chegasse.

-E aí - nossa, a voz dele parecia muito mais grossa e ele estava bem mais forte.

-Oi Judd.- respondi com um sorrisinho tímido.

-Ah, é... oi...- ele pensou um pouco.- quem é você mesmo?

Ai que vergonha, ele nem sabia quem eu era. Olhei para trás e Liah estava atrás de mim com um sorriso de deboche. Óbvio que ele não estava falando comigo. Como eu sou burra.

-Maior festão em.- falei dando um gole na minha cerveja e fingindo que estava bêbada para disfarçar e sai de lá.

Eu corri para a quintal o mais rápido que pude sem olhar para trás. Meu deus, nunca me senti tão envergonhada na minha vida. O que deu na minha cabeça? Por que diabos eu achei que ele estaria falando comigo? Ou melhor, por que ELE estaria falando comigo?
Não conseguia ficar naquela festa depois de tanta humilhação, fui atrás  de Missy para chamar ela para ir embora. Encontrei ela sentada no colo de Lars aos beijos.

-Missy, vamos embora?- perguntei a puxando dali pelo braço.

-É o que? Claro que não. Praticamente acabamos de chegar.

-Ah, qual é. Não tô mais com clima de festa.

-Jessi, você é minha amiga e eu te amo, mas é a primeira vez que tomo cerveja, estou muito chapada e quero dar uns beijinhos no Lars. Quem sabe até uma esfregadinha, uma mãozinha boba,  não sei, vamos ver o que a noite vai levar.- ela falava olhando para ele com um olhar malicioso.

Imaginar a Missy daquela maneira me deu arrepios, apesar de ela ter mudado bastante com os anos, ainda a via como aquela garotinha inteligente e cheia de pudor.

-E o que vou fazer então? Não posso pedir para os meus pais me buscarem aqui, eles vão surtar.

-Tenho uma ideia, por que você não pega um cerveja, ou um shot, talvez um baseado e, pelo amor de deus, SE DIVERTE?- ela disse a última parte me chacoalhando.

-Tá, tá.- sai de lá e fui fazer o que ela recomendou.

Não tinha muito o que fazer, ela era minha carona, eu não tinha grana para um uber e ninguém mais iria querer me levar embora tão cedo. Fui para a cozinha e fiz dois shots de tequila, nunca tinha bebido de verdade, mas pior do que tava não podia ficar. Tomei os dois um após o outro e quase vomitei, o gosto era horrível, como as pessoas bebiam aquilo?

-É melhor ir de vagar.- quando ouvi aquela voz meu corpo travou e meu coração gelou.- se exagerar não vai conseguir voltar para casa.

Virei lentamente para trás para ver se era real ou se era minha mente me pregando uma peça. Era real.

-Conselho recebido.- Respondi com uma risadinha ridícula.

Jessi, se comporte, haja normalmente.

-Você é a Jessi, não é?

-É... sim, sou eu... a Jessi.- respondi com uma risada mais escrota ainda. O que aconteceu comigo?- se lembra de mim?

-Não muito, o Nick acabou de me falar.

-Ah, claro. A gente nunca se falava, como iria se lembrar.- falei com uma ponta de decepção.

-É, pois é.

-Voltou de Boston pra ficar?- tentei puxar assunto, não queria que aquele momento acabasse.

-Como sabia que eu estava lá?- ele perguntou confuso.

-Você pode não se lembrar de mim, mas eu me lembro de você.

-Acabei de falar que lembro um pouco de você.

-Mas pelo visto não se lembra que sou amiga do Nick desde os 9 anos, que frequento a sua casa desde os 12, que já namorei o Nick e que estava aqui no dia que você foi para a faculdade, o que torna o fato de eu saber que você estava em Boston super normal.

-Faz sentido.- ele foi se aproximando de mim.- cerveja!

-O que?- perguntei sentido meu coração bater mais forte.

-Quero uma cerveja, atrás de você.

Olhei para trás é só então percebi que estava escorada na geladeira.

-Ah, claro.- me afastei me sentindo uma idiota pela segunda vez nessa noite.

Ele pegou a cerveja, abriu e se apoiou na ilha da cozinha de frente a mim e me encarando, não sabia como agir, comecei a me sentir desconfortável e quando isso acontece...

-O que foi? Perdeu alguma coisa em mim?- a ignorância do desconforto apareceu em mim.

-Não posso te olhar?- ele tomou um gole da cerveja.

-Se tirar uma foto dura mais.

-Boa ideia.- ele tirou o celular do bolso e tirou uma foto minha.- obrigado pela foto.

Ao dizer isso ele saiu. Isso aconteceu mesmo? O Judd Birch tirou uma foto minha? Pra que ele queria aquela foto? Eu tava sonhando? Era uma pegadinha?

Por que não o Judd?Onde histórias criam vida. Descubra agora