III - Bons amigos

274 30 13
                                    

Uma garrafa vazia e muitas risadas depois, sobre vários assuntos aleatórios, Dimi perguntou num impulso:

- Você não teve mais nenhum relacionamento depois que a mãe do Marquinhos foi embora?

- Ah, tive meus flertes, meus encontros casuais... mas minha prioridade sempre foi meu filho. Acho que nem sei mais paquerar - Beto riu.

Mais solto pelo vinho, o loiro não conseguiu se conter:

- Nem precisa, é só abrir esse sorriso que a conquista tá garantida...

- Ah, é? - o moreno abriu um sorriso largo.

- Não disse? Irresistível... - balbuciou Dimi, passando a língua nos próprios lábios sem perceber.

- Então não resiste... - Beto chegou mais perto, perigosamente perto.

Eles olharam para a boca um do outro, com a respiração cada vez mais acelerada e a distância diminuindo. Até que se entregaram a uma vontade que ambos vinham reprimindo.

Foi um beijo daqueles em que o encaixe é imediato. As línguas se cruzavam numa dança excitante, e em poucos minutos as camisetas já estavam no chão. Quando sentiu as mãos de Beto avançando para dentro de sua calça, Dimi recuou um pouco, sem largar o outro:

- Isso não tá certo, sou professor do seu filho... - falou com esforço, quase sem fôlego.

- Vamos esquecer isso só hoje? Fica só entre nós - sugeriu o advogado, com um brilho de desejo nos olhos.

- Vamos... - rendeu-se o loiro, deixando que Beto o puxasse pela mão em direção ao quarto, onde aos beijos foram se desfazendo do restante das roupas e se jogando na cama, onde se amaram intensamente.


Depois de saciados, Dimi ficou deitado no peito forte de Beto, com o pensamento longe. O moreno acarinhou os cabelos loiros do outro, que estavam desalinhados como ele nunca tinha visto.

- Desmanchei seu cabelo... - o advogado riu com leveza.

- Por um bom motivo - o professor também riu, embora o olhar continuasse meio perdido.

Beto deslizou o dedo pela testa de Dimi enquanto perguntava:
- Onde estão seus pensamentos?

- Ah, foi tão bom o que acabou de acontecer aqui - ele puxou o braço do outro para mais junto de seu corpo antes de continuar - É uma pena que tenha que ser só um momento perdido no meio das nossas vidas...

- É... também achei maravilhoso. Mas é complicado, né? - Beto respondeu com um olhar carinhoso.

O loiro soltou um suspiro:

- Tanto... Nem sei direito como agir, porque não costumo fazer isso, de ter um momento tão intenso e depois continuar a vida como se nada tivesse acontecido. Eu sou romântico, gosto de namorar sério, de construir uma relação, sabe?

O advogado ficou mexido com aquelas palavras, porque o coração estava batendo forte por Dimi, mas há muito tempo não se aprofundava num relacionamento. Ele foi sincero:

- Entendo... eu me acostumei aos encontros casuais porque sempre tive medo de colocar alguém na vida do Marquinhos e depois essa pessoa sumir... Pra ficar comigo, tem que amar meu filho - ressaltou, com um nó na garganta.

- Acho que esse requisito eu cumpro... - Dimi sorriu, mas logo ficou sério - O que eu to dizendo... não posso me relacionar com pai de aluno, seria um escândalo, poderia perder meu emprego e ainda ficar queimado no meio.

Beto estava tenso:

- Nem sei o que dizer... Seu medo é legítimo. E agora que o Marquinhos se adaptou, fez amizades na escola... não posso nem pensar em constrangê-lo com uma situação dessa. Por mais que tenha sido muito bom e dê vontade de fazer isso mais vezes - ele relaxou um pouco e deu um beijo quente no loiro - não posso pensar só em mim.

O professor encheu os pulmões buscando serenidade, e concluiu:

- É... melhor a gente guardar esse momento só pra nós, e seguirmos bons amigos,

- É, muito bons amigos - Beto deu um sorriso malicioso, e puxou Dimi para mais perto novamente.

Ficaram um bom tempo trocando beijos e carícias. Até que o loiro avisou num tom um pouco tenso:

- Melhor eu ir agora... antes que pegue no sono. E não dá pra eu passar a noite aqui.

- Por que não? Tá tão bom... - Beto retrucou de um jeito manhoso e dando beijinhos no pescoço do outro.

- Porque eu não posso me apaixonar por você - Dimi falou sério, fazendo com que o moreno tivesse um choque de realidade.

- É... não podemos - o advogado balbuciou, recolhendo-se. Ficou observando em silêncio enquanto o loiro se vestia. Quando foi se levantar e vestir uma cueca, Dimi fez um gesto para que parasse:

- Não precisa me levar até a porta. Melhor assim. Amigos.

- Amigos... - suspirou Beto, vendo o loiro sumir.


Nas semanas seguintes, eles se esforçaram para manter a amizade linda que vinham construindo. Mais do que a atração, havia muito carinho entre eles, e ambos sabiam que isso era o mais importante, o mais valioso. Sublimar o desejo não era fácil, mas o bem que simplesmente estarem juntos fazia para os dois superava tudo.

Mesmo assim, às vezes os olhares se encontravam e a respiração ficava mais densa. Então um sorria para o outro de um jeito delicado e que dizia terem o mesmo pensamento: estavam fazendo a coisa certa. Quase sempre esse momento terminava com os dois olhando para Marquinhos e abrindo mais o sorriso, porque o menino era o mais importante de tudo. Beto era capaz de fazer qualquer coisa pelo filho, e Dimi estava muito feliz com os resultados das aulas, o menino tinha avançado muito e já estava quase lendo tudo.


Marquinhos terminava a tarefa da aula quando Beto e Dimi tiveram mais uma dessas trocas de olhares. E era cada vez mais difícil não perderem a noção de tempo quando isso acontecia. Foi a voz do menino que os despertou daquele quase transe:

- Agora posso jogar?

- Pode sim, filho - respondeu o pai, tentando disfarçar que a respiração estava alterada.

O garoto correu para o quarto, e ao ouvir o som alto do jogo, Beto puxou Dimi para um canto escondido da cozinha:

- Ah, não consigo mais - ele olhou para a boca do loiro, que mordia o lábio inferior também cheio de desejo.

- Nem eu - concordou Dimi ofegante.

Então eles se entregaram a um beijo cheio de vontade. Por um instante, esqueceram de onde estavam, mas de repente afastaram os lábios, rindo como se tivessem feito uma travessura.

- O Marquinhos... Ele está quase aqui do lado - preocupou-se o professor.

- Eu sei... Nesse fim de semana ele vai pra avó, vou passar a noite de sábado sozinho...

- Isso é um convite?

Beto balançou a cabeça em afirmativo, enquanto passava a língua nos lábios, e Dimi respondeu:

- Eu topo.

- Vou fazer um jantarzinho bem gostoso pra gente. Que acha de um risoto assim, bem molhadinho? - o moreno sugeriu com voz sensual.

- Hummm... delícia - o loiro passeou com olhos pelo corpo do outro, deixando evidente que não falava só do risoto. Depois riu meio encabulado - Melhor a gente se comportar, né?

- Tá bem difícil... - o advogado chegou a suspirar.

Dimi balançou a cabeça num movimento leve na vertical e avisou:

- Então eu vou embora antes que a gente saia do controle.

- Certo? Mas sábado...- Beto mordeu o lábio inferior.

- Sábado... - Dimi afirmou com um movimento de cabeça de novo, e um sorriso cheio de expectativa. Respirou fundo para conseguir se mexer dali e pegar a mochila. Já na porta, olhou para trás e recebeu um beijinho jogado por Beto. O professor jogou outro beijo de volta e só então fechou a porta.

O moreno deixou o corpo cair no sofá, rindo sozinho:

- Beto, Beto... o que está acontecendo com você? Há quanto tempo você não se sentia assim?

Aprendendo a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora